A morte de um ente querido
A leitora Maria Martins me pediu que falasse sobre o significado da seguinte frase: "Que a morte de um ente querido seja luz para a nossa vida".
À primeira impressão, pode nos parecer que essa afirmação seja totalmente incoerente. “Como pode a morte de alguém que amamos servir-nos de luz?” – você poderia perguntar.
Vou procurar falar disso sem tocar em nenhuma religião em específico, para não parecer tendencioso.
Vivi muitos ano no Japão, e lá as estações do ano são muito bem definidas. Então, aprendi a observar com cuidado o ciclo da vida.
No outono, as folhas das árvores começam a mudar de cor, tornam-se vermelhas, ou alaranjadas, ou marrons, até que caem todas, deixando as árvores apenas nos troncos e galhos. Então, entra o inverno.
Durante todo o inverno, as árvores ficam peladas, secas, com a aparência nítida de que não têm vida, que morreram para sempre. Os insetos somem, os pássaros desaparecem, a temperatura esfria, como se o sol não voltasse mais a nos aquecer, o céu fica cinza e só clareia quando a neve cai e cobre todo o solo. A vegetação, já aparentemente sem vida, some então sob a neve. Tudo é muito triste e parece ser o fim. Então, chega a primavera.
O céu se abre aos poucos e, com os primeiro raios de sol da primavera, de repente, podemos observar uma borboleta saindo do casulo, alguns insetos voando, aranhas, na maioria filhotes que acabaram de sair dos ovos, armando suas teias, pássaros piando, depois voando, depois cantando, depois montando seus ninhos.
Então, olhando-se mais de perto para aquelas árvores aparentemente sem vida, passamos a observar centenas de pequenos brotos, cheios de força, sendo chamados novamente à vida.
Depois de poucas semanas, toda a exuberância da natureza está restabelecida, toda a beleza nos é devolvida. Toda a vida renasce daquilo que poderíamos jurar que estava morto.
É assim o ciclo da vida...
Mas o que isso tem a ver com a pergunta da Maria?
Bem, eu disse que não falaria de religião, mas não disse que não falaria de Deus. Então eu lhe faço apenas uma pergunta: Se Deus tem todo esse cuidado com o restante da natureza, por que razão não teria esses mesmos cuidados, ou até mesmo ainda mais cuidados, conosco, que somos Seus filhos feitos à Sua semelhança?
Isso tudo, para mim, diz apenas uma coisa: a vida não termina. Ou ainda, a NOSSA vida também não termina. Ela se renova a cada primavera (ou a cada morte e a cada nascimento). Não vou entrar no mérito desta questão para, como eu já disse, não ser tendencioso. Mas não posso negar a grandeza deste mundo de Deus, que pude presenciar por anos a fio observando a natureza.
Então, se pensarmos que somos partes desse imenso universo de Deus e, como tudo, apenas nos renovamos, por que deveríamos temer ou chorar a morte?
Veja bem, não estou dizendo que não tenhamos sentimentos de tristeza com a separação. Apenas quero dizer que, quando um ente querido se vai do nosso convívio, devemos sim curtir a nossa tristeza, pois isso faz parte da nossa natureza. Mas podemos também aprender a ver nessa partida a beleza da renovação da vida.
A partida de um ente querido pode nos chamar a atenção para a grandiosidade da vida, da mesma forma como o nascimento de um filho o faz.
Essa consciência da nossa condição temporária neste mundo e da nossa eternidade como filhos de Deus nos vem a partir desses dois acontecimentos: o nascimento e a morte.
Encarar a morte de um ente querido pode abrir, então, nossos olhos para a luz da compreensão da nossa existência. Será mesmo a morte tão definitiva? A natureza nos diz que não!
Podemos nos tornar mais fortes e confiantes nesses momentos de provação, se os aproveitarmos para compreender a grandeza da vida que Deus nos deu.
Gilberto Cabeggi é escritor, autor do livro “Todo Dia É Dia de Ser Feliz”, pela Editora Gente.
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