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Amor dá trabalho

Amor dá trabalho
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A asma me prendia para perto do corpo e não conseguia ficar longe dele. Nunca tive bonecos para fazer dormir, preocupado em cuidar da sobrevivência e do luxo de uma noite de sono. Eu era meu próprio boneco. Na Educação Física, buscava superar o cansaço e a inapetência respiratória. O professor pedia para dar vinte voltas pelo colégio. Não me agüentava, e ia. Sempre fui quando não me agüentava, a verdade é que sempre sou quando não me suporto. Se o professor dizia que não precisava fazer, eu fazia. Na corrida, condenava-me a ultrapassar a asma, além dos meus colegas. Enquanto todos retornavam à aula de matemática como se nada tivesse acontecido, eu permanecia mais de meia hora no banheiro apertando a bombinha na boca. Nunca respeitei meus limites, como reconhecê-los se não morrer por eles? Não me desculpo por antecedência.

Vejo o amor da mesma forma. O amor dá trabalho. Cansa. Pressiona. Conheço amigos que sofrem no casamento e não se separam. Eu pergunto: "por que fica se não está feliz?"

"Não sei" é a resposta. O "não sei" faz com que cada um resista décadas numa rotina com qual não se sente parte. Reclamam do marido ou da mulher com uma indiferença mortuária e logo voltam para residência a finalizar o tédio. São os cansados mais do que casados. Não querem discutir nada que possa alterar suas horas de sono e prazeres individuais. Esperam um milagre ou um seqüestro, uma paixão em que possam dividir a culpa da fuga.

A preguiça mantém a infelicidade. Muitos não se separam pela incomodação. Terão que refazer a casa, brigar com fúria, enfrentar fiascos, ficar longe dos filhos, defender-se das acusações, livrar-se da culpa, freqüentar com traje social a Vara de Família. E serão canalhas, crápulas, infiéis, mentirosos por meses diante dos amigos.

Admiro sinceramente a pessoa que teve a coragem de casar quatro, cinco vezes. Pode dizer qualquer coisa sobre ela, menos que é preguiçosa. Será que ela errou porque não encontrou a estabilidade? Será que fracassou porque não se acomodou? Creio que não. Pior é se reduzir a um "não sei" a pensar sobre a vaidade. Deixar de lado o que antes mais se valorizava: a espontaneidade. Deixar de lado a vontade de conversar e conversar com as bocas próximas, pescando as palavras que serão memória.

Não se é obrigado a acertar as seis dezenas num único bilhete. Que o casamento não seja o motivo da infelicidade, pois existe para abençoar, não amaldiçoar. Não percebo facilidades na vida. Conhecer na intimidade é diferente de conhecer no namoro. É difícil mesmo a empatia, a convergência, a liga. É raro. Que cada relação complete a outra. Mentir a si não torna nada depois disso uma verdade.

Por: Fabrício Carpinejar
https://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br


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