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As Cartas de Cristo (Carta 3 - Parte 11) – A verdade sobre a última ceia

As Cartas de Cristo (Carta 3 - Parte 11) – A verdade sobre a última ceia
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Quando foi a hora de celebrar a Páscoa com meus discípulos, organizei uma ceia com todos reunidos num grande salão. Sabia que aquela era a última vez que comeria na Terra. Não desejo voltar profundamente à consciência daquela noite. Senti grande tristeza por ter que deixar meus discípulos que tinham me servido tão bem. Com a tristeza, todos os meus temores e conflitos reapareceram.
Tive momentos de profunda autopiedade. Senti que ninguém compreendia o que havia procurado fazer pelo meu povo e o sacrifício que estava disposto a fazer por ele. João estava contando uma expressiva história sobre a última noite dos israelitas no Egito, antes de escaparem para o deserto. Falava das instruções de Moisés ao chefe de cada família para que matassem um cordeiro sem mancha, que o cozinhassem de certa maneira e pintassem com aquele sangue as portas das moradias israelitas, porque naquela mesma noite viriam os anjos para matar todos os filhos primogênitos dos egípcios e o seu gado. Com vivacidade, recordou a agitação dos egípcios ao despertarem e encontrarem o primogênito de cada lar ensanguentado, sem que nenhum tivesse se salvado.
Era o tipo de história horrível que eu rejeitava por não ter nenhum valor para a pessoa que buscava a Verdade espiritual mais elevada. Eu me perguntava até que ponto meus discípulos realmente tinham entendido quando eu falava de seu “Pai Celestial” e Seu amor por toda a humanidade. Como podiam entusiasmar-se com o pensamento de “anjos” matando os primogênitos dos egípcios quando eu tinha dito com toda a clareza que “Deus”, o “Pai”, era Amor? Mas os Judeus sempre haviam se preocupado com o derramamento de sangue para redimir seus pecados. Até mesmo Abraão, o fundador da nação israelita, convenceu-se de que devia levar o seu único filho ao deserto, matá-lo e oferecê-lo em sacrifício a Deus. Um pensamento pagão e revoltante!
Pensei nos sacrifícios de animais no Templo. Amando a todos os seres vivos da criação como eu amava, esta prática era para mim uma abominação. E agora eu estava a ponto de ser levado para a morte porque tinha me atrevido a pronunciar as palavras da Verdade. E quando considerava o tão pouco do meu conhecimento que tinha conseguido transmitir, perguntava-me por que eu tinha sido enviado em tal missão!
Senti de repente um estremecimento de ressentimento e raiva se entrelaçar aos sentimentos habituais de amor para com aqueles homens. Com certo cinismo, perguntava-me que sinal poderia deixar que fosse uma recordação eficaz, para que os meus ensinamentos retornassem a suas mentes quando já não estivesse com eles. Se podiam esquecer tão rapidamente todos os meus ensinamentos sobre o “Amor do Pai” e desfrutar a horrível história da Páscoa, enquanto eu ainda me encontrava na mesma sala com eles – de que se recordariam quando morresse como um “malfeitor” na cruz, a mais desprezível das mortes?
Depois pensei que, se o “derramamento de sangue” os comovia tanto, daria a eles sangue para que se recordassem de mim! Com essas reflexões irônicas apanhei um pão, parti-o, passei-o a meus discípulos e disse que o comessem. Comparei o pão partido com o futuro de meu corpo partido e pedi que repetissem o “partir o pão e o distribuir” em lembrança do sacrifício de meu corpo para trazer a VERDADE – a Verdade sobre Deus e a Verdade sobre a Vida, a Verdade sobre o Amor.
Percebendo que eu estava com um humor estranho, pararam de comer, escutaram, pegaram o pão e comeram em silêncio. A seguir, tomei minha taça de vinho e a entreguei, dizendo que cada um devia beber dela, posto que era o símbolo de meu sangue que logo seria derramado porque tinha me atrevido a trazer a Verdade da Existência.
Vi que meu tom de voz tinha tocado a alguns deles. Sobriamente, cada um tomou um gole e depois passou a taça para quem estava a seu lado. Mas ainda não diziam nada. Percebiam que eu estava sério e que já não toleraria mais discussões. Então eu disse que um deles me trairia.

(Em segredo entendia os seus motivos e sabia que ele era uma parte necessária da futura sequência de acontecimentos. Simplesmente cumpria o papel que sua natureza o levava a desempenhar. Eu sabia que ele sofreria muito e senti compaixão por ele. Mas guardei estes pensamentos só para mim).
Ao mencionar que um deles me trairia, disse a Judas que saísse para fazer rapidamente o que tinha que fazer; os discípulos despertaram, se perguntando se realmente aquela era sua última ceia comigo. Havia muita angústia emocional, perguntas, inclusive recriminações por tê-los colocado em tal armadilha. Outra vez, perguntaram-se o que fariam de suas vidas depois que eu me fosse. Perguntavam-se qual seria seu lugar na comunidade se eu fosse crucificado. As pessoas zombariam deles, queixavam-se. Ninguém voltaria a confiar no que dissessem.
Profundamente entristecido pela resposta egoísta diante de minha situação, assegurei a eles que não tinham que temer por sua própria segurança. Deveriam abandonar-me e não haveria ligação entre eles e a minha crucificação. Sugeri que depois de minha morte se dispersassem e voltassem para a Galileia. Pedro comoveu-se profundamente e reagiu com violência negando que algum dia me abandonaria, mas, é claro, foi o que ele fez.
Mesmo depois de todo o amor que tinha por meus companheiros e de tudo o que desejava obter para eles, naquele momento de minha própria necessidade, ainda encontrava total falta de compreensão, até resistência. Sua única preocupação era sobre o que poderia acontecer a eles. Não houve nenhuma palavra amável, oferecimento de ajuda ou angústia pela minha dura prova futura.

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