As Mulheres de 50 e 60
Olha eu aqui, outra vez. A bronca das mulheres desta faixa foi maior do que a minha decisão de não falar delas. E não ia falar mesmo, até que uma, de Maceió, me convenceu:
- São as mulheres da sua geração! Encara!
É verdade, dona Geórgia. Como deixar de lado tantas Marias? É Maria Lúcia, Maria Eunice, Maria Teresa, Rosa Maria, Maria do Carmo, alguma (mais velhas) Maricotas, outras Maria Regina, sem falar nas Tânia Maria e tantas Zezés que na verdade eram Maria José.
E, como a mais famosa das Marias, casaram virgens. Perder a virgindade era pecado contra uns três ou quatro mandamento. Iriam diretamente para o inferno, sem nem mesmo um pit stop no purgatório. Havia algumas - pouquíssimas - que se deixavam seduzir, ou seja, deixavam o noivo "fazer mal a elas". Mal??? E ai delas se não casassem com o malfeitor. Ficavam eternamente conhecidas na cidade como "fáceis"e aí bye-bye casamento.
Talvez tenha sido as duas últimas gerações de brasileiras que foram criadas à imagem da mãe e continuaram suas vidas de casadas exatamente igual ao modelo materno. Exatamente.
Foram criadas com três finalidades (isso, lá pelos anos 40 e 50): debutar, fazer o curso normal (para ser professora) e arrumar um bom partido. Não partido político, mas econômico. Naquele tempo, bom partido eram os médicos, engenheiros, dentistas, advogados, funcionários do Bando do Brasil e, é claro, os herdeiros. Principalmente os de fazendas.
O mais incrível daquelas meninas é que se transformavam um mulheres, em senhoras velhas, no dia seguinte ao casamento. Trocavam a calça faroeste pelo tailleur - cinza, de preferência -, o Elvis pelo Sinatra e, depois pela música de elevador, saíam para ver o comércio e faziam visitas, acompanhadas pelos maridos.
Eu observada todas aquelas minhas amigas se casando e não mais nos dando dois beijinhos. Como disse o Tenório de Oliveira Lima, as mulheres desta geração não casavam com o marido, mas sim com o casamento.
E foram para a cozinha. Dar ordens para as empregadas, exatamente como suas mães. Poucas enfrentaram o marido. Trabalhar fora, nem morta. Ou talvez morta.
E hoje, são mulheres infelizes? Não, nada disso. Estão todas numa boa. As que resolveram viver igual às suas mães não sabem o que perderam dos anos 60 pra cá. E uma outra boa parte partiu pra briga; se separaram e viraram até prefeitas, senadoras, chefona da Globo. Grandes escritoras, fotógrafas, executivas. Algumas, lésbicas.
O mais interessante é que estas mulheres - agora avós - nenhuma dela ensina as netas, como foram educadas pelas suas mães. São todas jovens avós que dão toda a liberdade para as netas. Como se elas, agora com 50 0u 60 estivessem, finalmente, e sem culpa, se reeducando.
São bonitas, as mulheres da minha idade. Mas como sofreram nas mãos dos seus maridos da minha geração. Pouco sobreviveram às nossas idiotices e idiossincrasias. Mas as que enfrentaram o estilo de casamento dos seus pais (modelito começo do século XX), andam por aí, de cabeça erguida, levando netinhas para comer doce fora de hora. E malhando legal.
Mas o momento da vida que estas senhoras hoje entre 50 e 70 anos, jamais esquecem, foi o momento do Baile de Debutantes: o momento mais feliz da vidas dela foi aquele dia (a rigor, mesmo nas pequenas cidades do interior) e aquela foto dela de branco, vestido longo, descendo uma escadaria em curva, segurando num corrimão.
Como se, depois do último degrau, ela não precisasse fazer mais nada na vida.
E foram felizes para sempre?
Mário Prata
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