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Banheiro Feminino

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Prosseguindo nossas hipóteses (nada de moralismo, são hipóteses), a mulher é indireta, oblíqua e educada. Não será óbvia, nem fará ameaças infantis para seu conclave, como "ela fala isso para todos". Suas artimanhas são secretas. Nasceu para a intriga, para as ruas paralelas das palavras.

Um olhar e já está flertando. Um olhar e o homem somente escuta a música.

Uma mulher numa mesa de bar está imaginando o que pode aprontar na semana seguinte. O homem ainda se lembrando do que fez ontem.

O que pode estragar o encontro feminino é o excesso de imaginação. A expectativa. Ela se prepara tanto que é difícil o pretendente não se tornar um pensamento usado.

Se estiver interessada no mesmo homem que a amiga, tratará de minar o homem, não a amiga. E nada de forma escancarada, duvidará do rapaz-alvo como se estivesse prestando um favor para sua colega. É o mal pelo bem. Examinará rigorosamente a aparência dele, suas possibilidades e intenções, encontrará trejeitos estranhos para ajudar o descenso ("Viu a gargalhada dele? Parece uma hiena pedindo ajuda"). Afundará nos detalhes ("Se ele ri dessa forma, imagina quando ronca?"). Não haverá conclusões diretas, como as masculinas, que exaltam o corpo, mas elaborações imaginárias sobre o temperamento. Ficções.

Não será esquisito se ela aparecer em seguida beijando fervorosamente o homem que julgou inadequado.

A saída conjunta ao banheiro é uma estratégia para complicar a noite. Como a relação entre as mulheres é baseada na sinceridade, surgirá um feixe de insinuações entre o batom e o lápis. Insinuações! A sabedoria de influenciar e não fechar as aspas. Não emitirá a opinião fixando o rosto da amiga, esconderá a gravidade do assunto, comentará diante do espelho repondo os traços, como se não fosse importante. Torna secundário o principal. O aparente despojamento desorienta, engana o endereço de sua verdade.

O homem é grafite; a mulher, pintura. O homem é explícito, a mulher implícita, nunca deixando claro o que ela acredita. Ela diz sem dizer. Sopra sem assinar a voz. Faz entender, mas deixa que a conclusão seja feita pelo outro. O homem é didático em seu desejo. A mulher é enigmática, dobra o silêncio como um leque.

A mulher realiza o que deseja, sem perder as amigas e o próprio desejo. Ela se reconcilia com facilidade, porque tem uma explicação para aquilo que não disse. Uma mulher ama se explicar porque ela tem segredos. O homem é raso de segredos para subir à tona.

Por: Fabrício Carpinejar
https://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br


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