DIANTE DE DEUS
Um velho vendia brinquedos no mercado de Bagdad. Seus compradores, sabendo que ele estava com a visão fraca, de vez em quando pagavam com moedas falsas.
O velho percebia o truque - mas não dizia nada. Em suas orações, pedia a Deus que perdoasse os que lhe enganavam. "Talvez estejam com pouco dinheiro, e querem comprar presentes para os filhos", dizia consigo mesmo.
O tempo passou, e o homem morreu. Diante do portal do Paraíso, rezou mais uma vez:
- Senhor! - disse.- Sou um pecador. Fiz muita coisa errada, não sou melhor que as moedas falsas que recebi. Perdoai-me!
Neste momento o portão se abriu, e uma Voz disse:
- Perdoar o quê? Como posso julgar alguém que, em toda a sua vida, jamais julgou os outros?
Paulo Coelho
Recebido de Claudette Grazziotin que nos deixou este comentário:
Amigos, este artigo me chega em boa hora, quando esta questão me incomoda e me leva a refletir muito. Escrevi o comentário abaixo e o enviei para o autor (Paulo Coelho), gostaria de compartilhar com vocês:
No artigo Diante de Deus, não pude deixar de me emocionar, ao lê-lo. Esta era uma questão, engasgada na minha garganta e eu me entristecia, me decepcionava, quando via o uso do truque ser usado comigo. Buscava uma explicação que a justificasse, procurando o erro em mim, para tentar saber porque estava acontecendo aquilo; outras vezes, sentia vontade de falar abertamente para a pessoa envolvida, mas, depois, decidia deixar prá lá, pois uma vozinha me dizia: Não importa se essa atitude dela te entristece, ela terá de perceber a qualidade do ato, com seus próprios olhos, esquece e não deixa de amá-la, quantas atitudes equivocadas não tens para com os outros, também...
E, apesar da tristeza, que o acontecido provocava, eu voltava a minha atenção, então, para outros valores e aspectos da pessoa em questão. Amizades esfriaram, outras morreram e as que sobreviveram são um constante desafio para mim, no sentido de perseverar tentando não estabelecer um julgamento total e definitivo,realçando este aspecto menos luminoso. Não é nada fácil e é muito dolorido quando ele é percebido nas pessoas que queremos muito bem.
Hoje, "Diante de Deus" chegou em mim, pela tua sabedoria, para me apaziguar e trazer a resposta que eu necessitava para continuar recebendo moedas falsas, de vez em quando, sem me abalar. Sem me deixar esquecer, que eu também,devo ter, algumas ou muitas vezes, usado alguns truques muito óbvios para algumas pessoas, que talvez, as tenham entristecido mais do que eu possa imaginar, mas, que continuam, apesar disso, ainda me querendo muito bem.
Claudette Graziottin
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