Em defesa das Terapias Complementares
O clínico-geral americano Moshe Frenkel, 55 anos, que integra o time do MD Anderson Cancer Center, um dos mais renomados centros oncológicos do mundo, conta por que defende e pesquisa o uso desses métodos para apaziguar as dores provocadas por um tumor, tanto as físicas quanto as da alma.
Kátia Stringueto
Em junho passado, o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, trouxe dos Estados Unidos o médico Moshe Frenkel para uma palestra sobre câncer. Mas o assunto não teve o viés cartesiano que se espera ouvir de um cientista. Frenkel transita em outra zona, a que se passa entre a mente e o coração do paciente. Diretor do Programa de Medicina Integrativa do MD Anderson Cancer Center, reputado centro médico localizado em Houston, no Texas, esse clínico-geral que se especializou em cuidados paliativos oncológicos entende que é possível oferecer bem-estar a quem tem a doença mesmo na ausência de uma cura. E busca todos os métodos para isso. Não à toa, o MD Anderson se tornou expoente na combinação do que há de melhor no tratamento convencional do câncer com as técnicas que abrandam as dores e temores impossíveis de tratar com quimioterapia. Foi para falar disso que Frenkel concedeu a seguinte entrevista.
Como a medicina integrativa é encarada hoje nos Estados Unidos?
Quando falamos em medicina integrativa, nos referimos a uma nova abordagem. São propostas de prevenção e de bem-estar que atendem às necessidades físicas, mentais e espirituais do paciente e envolvem o uso de ervas, acupuntura, massagem, ioga, meditação, gi gong [método oriental que mescla exercícios de postura e respiração] e outras técnicas de relaxamento. Nos Estados Unidos, isso é muito popular. A cada dois ou três meses, um dos principais jornais divulga uma notícia a respeito de um estudo que envolve essa corrente da medicina.
Um dos motivos de o MD Anderson levar essas pesquisas a sério é que a maioria dos seus pacientes se vale delas, certo?
Sim. Procuramos identificar o que funciona e o que não funciona. Além disso, queríamos saber por que os pacientes procuram essas terapias.
E o que descobriram?
As pessoas querem algo a mais para poder sobreviver, sentir alívio e um pouco de autonomia. Certa vez atendi uma mulher de 65 anos, vegetariana, praticante de ioga e meditação e que estava em choque por descobrir que tinha câncer de ovário. Ela passava horas em frente ao computador pesquisando a doença e já tomava 30 suplementos. Quando me procurou, queria saber: “O que mais posso fazer por conta própria para erradicar esse mal, para tirar essa doença do meu corpo?” Comecei dizendo que a expressão lutar contra o câncer poderia ser substituída por nutrir-se para ficar forte. Nutrir o corpo, a mente e a alma. Revimos a alimentação dela. Reduzimos os suplementos para cinco e ela continuou fazendo atividade física.
Estamos próximos de uma verdadeira medicina com resultados positivos tanto para o corpo quanto para a mente? Nesse ponto, o que temos a aprender com o Oriente?
As pessoas ficam sujeitas a uma dose brutal de estresse quando se deparam com o câncer e isso afeta as células do sistema imune, os vasos sanguíneos e o suprimento do tumor. Infelizmente, não temos uma pílula antiestresse. Mas podemos sugerir maneiras de lidar com essa circunstância, como a meditação, o relaxamento, a acupuntura e a ioga. Em relação ao Oriente, não sei se esse tipo de medicina é mais eficaz lá. Só sei que eles dão outra dimensão ao tratamento, sem separar o racional do emocional.
As pesquisas têm confirmado a eficácia dessas intervenções antiestresse?
Em um estudo realizado no MD Anderson, os cientistas injetaram células tumorais em dois grupos de ratos. Um dos grupos, diariamente, durante duas horas, tinha que ficar confinado em um lugar pequeno sem poder se mexer. Era muito estressante para eles. Depois de poucas semanas, os pesquisadores constataram uma diferença absurda entre os animais. O tumor estava 275% maior no time dos estressados, que também teve 50% mais metástase, a disseminação da doença. Trabalhos posteriores, de 2008, confirmaram que isso também acontece com o ser humano. Num deles, o risco de mortalidade de mulheres que tiveram câncer de mama caiu 45% quando elas controlaram o estresse.
Esse é o ponto-chave dessa abordagem?
Além do estresse, há outras questões relacionadas ao câncer, como a alimentação. Sabe-se que as populações que têm uma dieta vegetariana, como a indiana, apresentam menor incidência de tumores do que as que consomem carne vermelha, como os americanos e os brasileiros. A atividade física, às vezes, também é subestimada. Em 2005, um estudo mostrou que caminhar 30 minutos por dia resulta em uma redução de 50% da recidiva de câncer de mama.
Por que o senhor frisa que se deve consumir preferencialmente hortaliças em detrimento das frutas?
Por causa do açúcar delas, que pode estar ligado ao desenvolvimento de células tumorais. Recomendamos de sete a 11 porções de hortaliças e frutas por dia — cada porção equivale ao tamanho de uma bola de tênis. Dessas porções, oito a nove devem ser de legumes e verduras e apenas duas de frutas. E é preciso comer uma variedade desses alimentos para obter todas as substâncias que ajudam os medicamentos em sua missão. Ingerir só agrião e cenoura, por exemplo, não basta.
O senhor também é categórico ao afirmar que gingko biloba, alho e a erva-de-sãojoão não são recomendadas para pacientes em tratamento. Por quê?
Não sabemos se essas ervas ou qualquer outra podem interagir com a quimioterapia. Ou seja, elas podem aumentar ou diminuir a eficácia da químio. Apesar de ainda termos poucas evidências sobre esse tipo de combinação, e elas não são favoráveis, o melhor é evitá-la.
E o que é seguro consumir ao longo de um tratamento quimioterápico?
Linhaça, cogumelos e cúrcuma estão liberados. Esse tempero indiano tem um princípio ativo chamado curcumina, que não deixa as células cancerosas se desenvolverem. Não se sabe a dose ideal, mas sugiro fazer como a população indiana, que utiliza essa especiaria diariamente na sua cozinha.
Por que o senhor defende a suplementação com vitamina D?
Altas doses dela têm se mostrado eficazes contra tumores como o de mama e o de cólon, entre outros.
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