ESNOBISMO - A ARTE DE APARENTAR
Essa necessidade de aparentar algo que não se é recebeu, desde o século passado, o nome de "esnobismo". Mas isso não quer dizer que tenha começado a existir apenas no século passado: esse comportamento é tão antigo quanto a convivência entre uma aristocracia e uma classe ou indivíduo que, fora dela, a respeita, cultua, imita e procura tornar-se um de seus membros.
Acredita-se que essa palavra tenha se originado da expressão latina sine nobilitate, que significa "plebeu, sem nobreza". Na maioria dos colégios ingleses do século XIX era regra registrar-se logo após o nome do aluno, o seu título de nobreza. Quando se tratava de jovens da burguesia ascendente, colocava-se a expressão s.nobe, abreviatura de sine nobilitate. E assim teria se criado a expressão snob, para designar o burguês que tivesse contato com a aristocracia. Seria o "burguês fidalgo", como chamou Moliére, antes que essa palavra fosse usada na França.
A origem real não tem tanta importância: hoje, "esnobe" denomina a burguesia ascendente que procura seguir a etiqueta das "famílias tradicionais", ricas há várias gerações.
Esnobismo é, principalmente, a supervalorização de qualquer moda. O esnobe se deixa levar pela própria pretensão: ele admira tudo o que está em voga, simplesmente pelo fato de estar em voga. Ele copia com ostentação, admira com servilismo e vive procurando aqueles que supõe estarem em "nível superior". Para um esnobe, só têm valor a riqueza e a situação social. Com base nesses critérios, ele despreza todos aqueles que, a seu ver, encontram-se em situação inferior.
Infelizmente, o esnobismo não constitui apenas uma fraqueza humana, tola e ridícula. É mais complexo que isso, pois reflete a fraqueza da sociedade capitalista, que valoriza apenas os bens materiais, e a confusão de valores na civilização contemporânea. Critérios esnobes influenciam profundamente a convivência social. Seguindo os ditados populares que citam coisas como "dize-me com quem andas e te direi quem és", ou "junta-te aos bons e serás um deles", acabamos preferindo a companhia de pessoas "importantes", mesmo que, emocional ou intelectualmente, não nos interessem. Não se julga seu valor por aquilo que são, mas pelo que representam em termos sociais. Não basta ser "eu mesmo". É preciso "ser alguém".
Mas o esnobe esforça-se pouco para alcançar destaque por seus méritos reais: para ele, basta travestir-se de certas características que o identifiquem com alguém ou alguma classe que julgue importante, na esperança de ser confun-dido com o objeto admirado.
Seria possível uma sociedade em que as pessoas não precisassem aparentar - com a ajuda de sinais exteriores como o vestuário ou o comportamento - que fazem parte de uma classe alta? Seria possível que fossem julgadas por seus valores individuais, internos, e não pelo sobrenome, sua conta bancária ou fama?
O esnobismo aparece em consequência de uma confusão entre valores sociais e valores individuais: gosta-se do que é considerado "bem" gostar, não do que se gosta realmente. O esnobe valoriza aparências, e não a essência das coisas. Para um esnobe, é muito importante que os outros pensem que ele é superior.
Em vários aspectos da nossa existência isso está presente: a valorização das circunstâncias que envolvem a vida, e não da sua essência. A classe média elegeu o esnobismo como uma forma de vida. O pai fica mais preocupado em saber o sobrenome ou a profissão do genro, antes de conhecê-lo e saber se é capaz de fazer sua filha feliz. Há pessoas que cursam uma universidade apenas para ter o diploma, mesmo que nunca exerçam a profissão. Nessa busca de status, perde-se uma coisa muito mais importante: o sentido da vida. E deve-se considerar que há toda uma indústria das aparências montada para levar as pessoas a consumirem mais explorando o esnobismo. É o caso da propaganda de cigarros, que promete estonteantes louras e carros maravilhosos a qualquer um.
A satisfação dessas pessoas não vem do objeto em si, mas de considerações secundárias associadas a ele. E é claro que esse comportamento só pode trazer falsas satisfações, e nunca um prazer verdadeiro. Afinal, qual o prazer real do favelado que encontra uma antena de televisão no lixo e a coloca no telhado do barraco para que seus vizinhos pensem que ganhou o suficiente para possuir um televisor? Não é só uma fraqueza humana, tola e quase sempre ridícula. No fundo, o esnobismo reflete o vazio da sociedade capitalista: burgueses procurando, de todas as formas, imitar a aristocracia.
Jorge Carlos Costa
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