HIPOCRISIA
Só se pode falar daquilo que se conhece bem. Ninguém consegue identificar, descrever ou apontar aquilo que não conhece. Uma questão de lógica, de coerência.
Tudo o que identificamos e apontamos nos outros, é justamente o que está bem identificado e reconhecido dentro de nós. Não adianta nos enganarmos. Aquilo que ainda ignoramos nos passa em branco e não pode nos incomodar, pois não sabemos do que se trata. Já tudo o que conhecemos nos amedronta, justamente pelo medo que temos de sermos desmacarados.
Aquilo que nos incomoda nos outros, é justamente o que se remexe dentro de nós tentando se esconder.
Aquilo que nos revolta no mundo, é justamente aquilo que se debate no nosso peito, fugindo da nossa própria consciência.
Aquilo que nos enoja no ser humano, é justamente o que nos constrange a mente e faz encolher a alma diante do espelho.
Aquilo que condenamos nos outros, é justamente o que temos de mais o vergonhoso em nossa própria memória.
Aquilo que nos faz ferver o sangue de indignação, é justamente o que de mais indigno trazemos dentro de nós.
Condenamos o ladrão que se apropria dos bens alheios, mas não reconhecemos o ladrão que há em nós quando roubamos a paz e a alegria de outras pessoas.
Condenamos a prostituta que vende o corpo para sobreviver, mas nem sequer olhamos para a prosmicuidade da nossa própria alma, vendendo-se a quem oferecer mais elogios, mais agrados, mais vantagens.
Condenamos o viciado que se aliena envenenando o próprio corpo, mas não vemos a alienação voluntária a que nos entregamos ao buscarmos a embriaguês do supérfluo.
Condenamos a violência descontrolada dos que matam indiscriminadamente, mas não enxergamos violência na indiferença com que olhamos as pessoas na rua.
Condenamos a corrupção pública, mas ignoramos propositalmente a forma como corrompemos nossos próprios filhos ao premiá-los pelas notas, pelos diplomas, pelos sucessos.
Condenamos a maledicência alheia, mas não nos furtamos a disparar nós mesmos o boato quando dele podemos tirar vantagem.
Apressamo-nos em desmascarar a hipocrisia que anda à nossa volta, mas guardamos a sete chaves o falso moralismo com que nos defendemos das acusações da vida.
Todos temos o dedo torto e cheio de verrugas, como os dedos feios que inventamos para as bruxas dos contos infantis, e é com esse dedo que apontamos o dedo de bruxa dos outros. É com esse dedo defeituoso que pretendemos apontar o caminho reto para os outros. É com esse dedo deformado
que queremos ressaltar o defeito nos dedos dos outros.
Mas um dia o corpo tomba e, com ele, cai também a máscara que insistimos em carregar pela vida afora. E quando isso acontecer, não será necessário que dedos alheios nos venham apontar as deformidades e os defeitos, pois, em oposição ao dedo que trazíamos sempre apontado para os outros, estarão três outros dedos nossos, completamente disformes e endurecidos, que sempre estiveram ali nos alertando, mas que nunca tivemos coragem de saber para onde apontavam.
(recebido espiritualmente por Maísa Intelisano - junho/2003)
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