Imigrantes: proposta a instituição da cidadania global
Seminário Globalização, Migração Internacional e Desenvolvimento, promovido pelo Club de Madrid, propôs o estabelecimento de uma cidadania global.
220 milhões de homens e mulheres (3% da população mundial) vivem em outros países que não os seus de origem; 11,5 milhões de refugiados e 815 milhões de emigrantes potenciais. A partir desses números, e da constatação de que, de uma maneira geral, os imigrantes vivem em uma condição de cidadãos de segunda classe, o Seminário Globalização, Migração Internacional e Desenvolvimento, promovido pelo Club de Madrid, organismo que reúne mais de 60 ex-chefes de governo, realizado na última semana em Santander, na Espanha, fez uma recomendação taxativa: a partir do conceito que concebe a cidadania baseada na residência e não na nacionalidade, propôs a instituição da cidadania global.
Apesar de manifestações como a do Conselheiro de Economia da Cantabria, Ángel Agudo, de que os países europeus vão continuar necessitando dos emigrantes para manter o estado de bem-estar social; ou como a do comissário da Acnur, entidade da ONU que trata dos refugiados, Jeff Crisp, segundo a qual vivencia-se uma dupla hipocrisia por parte dos países de onde saem os emigrantes – que garantem que não desejam que eles saiam – e dos países receptores – que cada vez mais adotam políticas restritivas para o ingresso de imigrantes, mas precisam de sua mão-de-obra – a recomendação tem uma forte carga de utopia.
Afinal, para além das questões mais diretamente relacionadas às políticas que vêm sendo adotadas atualmente para tratar desse processo, há implicações atavicamente vinculadas a interesses seculares, que remontam aos interesses político-econômicos que motivaram a criação dos Estados nacionais, quase invariavelmente escondidos por detrás de mantos simbólicos de odes e valores relacionados ao patriotismo, aos limites, às fronteiras, à caracterização do diferente sempre realçada pelo paradigma da etnia.
Durante o encontro de Santander, houve quem afirmasse que o tratamento das migrações é a parte mais atrasada do processo de globalização. Pesquisas demonstraram que, se houvesse um incremento de 3% no número de imigrantes nos países do primeiro mundo, a economia teria um empuxo da ordem de US$ 300 bilhões. Uma pergunta com resposta avassaladora: o que seria dos EUA se todos imigrantes clandestinos fossem mandados embora? Não há dúvida que a economia do país teria um baque de difícil recuperação.
Então porque vicejam as medidas anti-imigratórias, como a diretiva de retorno recentemente adotada pela União Européia? Não existe uma resposta simples e unidirecional. Mas, entre outros aspectos, é preciso ter em conta o discurso político que precisa permanentemente identificar um bode expiatório para as mazelas sociais e econômicas que a burocracia governante insiste em não resolver. É uma história mais ou menos parecida com aquela de encontrar um inimigo no exterior, provocar uma guerra, e camuflar os problemas internos.
Mas o problema vai mais além. Na Europa, a maioria dos imigrantes é absolutamente despreparada, sem qualificação e sem condições de exercer funções mais relevantes na estrutura econômica. Além disso, uma grande parcela dos que por lá aportam não querem efetivamente dedicar-se a um trabalho sistemático. Preferem entupir as ruas e praças, vendendo quinquilharias, prostituindo-se e vivendo à margem. Mas aí também entra um componente discriminatório da própria população local.
Enfim, um problema quase tão antigo quanto a civilização. Mas que é bonito pensar como um poeta norte-americano, citado pelo ex-dirigente canadense Kim Campell, ah isso é:
O que é o lar? É o lugar ao qual, quando a ele vou, eles têm que me deixar entrar.
Recebido de Claudette Graziottin
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