MENSAGEM DE UM XAMÃ
A Natureza, para um xamã, é muito mais que uma progenitora, ela é o próprio ser do xamã. Sem ela o xamã simplesmente não existiria.
Nossa única função é sermos os mensageiros de suas aspirações, as aspirações da música viva da eterna transformação. Sermos mensageiros não só para os humanos, mas para todos os nossos irmãos feitos de poeira de estrelas mortas, seres que rodeiam a natureza, a essência material de todo o universo.
Percebam a responsabilidade do xamã! Para sua missão de vida ser cumprida ele precisa ser puro e flexível como a água, que mesmo poluída pelos mais tristes dejetos, mantém sua essência inatingível! Pois as mensagens não podem ser contaminadas.
Precisa ser astuto, altivo e nobre como uma raposa, já que a natureza predatória do universo exigirá destreza no decorrer de suas funções!
Como a raposa, ele estará sempre presente e sempre indetectável, espreitando as energias. Precisa ser determinado e confiante como o esquilo que percorre o axis mundi, para que as vibrações se tornem fato no devido tempo.
Precisa ser destemido como um corvo, pois não poucas vezes irá adentrar em território contaminado com as mais pérfidas energias. E usando a sabedoria do coiote, deve ser intocável pelas tradições humanas, (A cultura é a cerca que limita o Homem!) pois estas são só o espelho enevoado da imensa realidade do universo e apesar disto (de uma forma aparentemente paradoxal) deve fazer uso destas tradições, (pois a princípio, sua mente será humana) experimentar algumas facetas do diamante da existência, com o objetivo de uma momentânea auto-definição, mas sem JAMAIS perder sua consciência da verdade impronunciável.
Um xamã sempre será a carta fora do baralho e não reconhece hierarquias, pois "um guerreiro jamais abaixa a cabeça para ninguém e jamais permite que ninguém abaixe a cabeça para ele"(Don Juan Matos).
"A Força" é imprevisível e pode agir a qualquer instante, porem sem tempo e sem instante, e será ele o responsável em domá-la e fazê-la fluir pelo leito dos desejos da Natureza.
Seu centramento deve ser tal, que o mundo pode ruir sob seus pés descalços e ele não deverá titubear ou se perguntar do porquê; apenas agir, mesmo que seja pela não-ação, fazer, nem que seja pelo não-fazer!
No centro da roda sagrada, deve erguer seu acampamento e observar, em silêncio, o vôo da águia, o sagrado bailar sussurrante das águias-guerreiras entre as cordilheiras da mente meta-humana.
E que o xamã seja abençoado com o dom de VOAR! Ah, o suspirar rústico e purificante da águia, feliz o xamã que a tem como sua protetora...
Da águia irá encarar o olhar da serpente a espreitá-lo, ler em seus olhos os segredos mais misteriosos da natureza; segredos que só a presença impecável do ser da serpente pode mostrar. O desafio da morte e o temor vencido irão iniciar o xamã nestes mistérios impossíveis de serem verbalizados.
Como uma pele velha, abandonará sua viciada visão do mundo e terá sua mente liberta, livre das definições reacionárias do homem comum.
Só quem já desafiou o hálito da serpente pode sentir o perfume da floresta de esmeraldas, o escaldante calor advindo das mais sombrias regiões da alma do mundo. Sagrada e respeitável serpente... O jaguar então se aproximará, e ofuscará os olhos do xamã com suas pintas, feitas de estrelas mortas, e seus flamejantes olhos de sóis recém-nascidos. Ele o convidará para adentrar em seu templo, com tapetes de pele humana e ossos sustentando seu trono. Lá exibirá com orgulho as suas garras e dentes, e ensinará ao xamã os segredos do combate pela vida, nobre, sábio e alegre jaguar.
Ele é um guerreiro que vai defender sua amada, a Natureza, e encara sua missão de luta com amor e agradecimento, não se entristecendo com o que matará, mas se regozijando com o que esta atitude permitirá viver.
Salve! guardião da floresta de esmeraldas... Na continuidade da sua trilha, o xamã será abordado pelo espírito do beija-flor, aquele que cura pela alegria, o difuso pássaro de brilho trepidante irá sorrir e tocar o seu bico no coração do xamã, que se enebriará com o vinho entorpecente da vida!
O grande ensinamento do beija-flor é o riso, as brincadeiras inocentes e harmônicas com a natureza "todo o xamã deve ter um parque de diversões na cabeça". A cura deve vir seguida da gargalhada. Assim como o matreiro coiote, o beija-flor desafia o xamã a ver que as feridas só existem enquanto nos importamos com elas... E cercado pelos quatro poderes, o jaguar, a águia, a serpente, e o beija-flor, o xamã vê que é a sua presença que tudo alquimiza, a Quinta Força, ele mesmo.
O poder das ligações místicas, forças misteriosas que interagem com o mundo, tendo o xamã como mensageiro.
Rendo homenagens a todos os animais, que com sua magnífica sabedoria, humilham silenciosamente, os tolos seres humanos. Aos vegetais, sem eles a transcendência seria um cadafalso, um piscar de olhos cegos... Aos minerais, seres de pura luz sólida. A todas as forças da Natureza, Minhas quietas reverências. Sei que certas poesias só podem ser recitadas de boca fechada!
André Panizzi "Gavião Real" (Xamã, membro-fundador do Clã Lobos Do Cerrado)
https://www.xamanismo.com/mensagens.asp?c=11
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