NÃO ACREDITO EM DEUS
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(...)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores,
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e lua e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E lua e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
(...)
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam
sozinhos:
As coisas não têm significação, têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.
(...)
A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me
alegra,
E quanto isso me basta.
(...)
O Universo não é uma idéia minha.
A minha idéia de Universo é que é uma idéia
minha.
A noite não anoitece pelos meus olhos,
A minha idéia da noite é que anoitece por meus
olhos.
Fora de eu pensar e de haver quaisquer
pensamentos
A noite anoitece concretamente
E o fulgor das estrelas existe como se tivesse
peso.
Fernando Pessoa
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