O CALOR HUMANO
Em zona montanhosa, através de região deserta, caminhavam dois velhos amigos, ambos enfermos, cada qual defendendo-se o quanto possível contra os golpes do ar gelado, quando foram surpreendidos por uma criança semimorta, na estrada, ao sabor da ventania de inverno.
Um deles fixou o singular achado e clamou, irritadiço:
- Não perderei tempo. A hora exige cuidado para comigo mesmo.
Sigamos à frente.
- Amigo, salvemos o pequenino. É nosso irmão em humanidade.
- Não posso - disse o companheiro, endurecido -, sinto-me cansado e doente.
Este desconhecido seria um peso insuportável.
Temos frio e tempestade.
Precisamos ganhar a aldeia próxima sem perda de minutos.
E avançou para diante em largas passadas.
O homem de bom sentimento, contudo, inclinou-se para o menino estendido, demorou-se alguns minutos colocando-o paternalmente ao próprio peito e, aconchegando-o ainda mais, marchou adiante, embora menos rápido. A chuva gelada caiu, metódica, pela noite adentro, mas ele, não abandonou aquele ser indefeso... levava-o junto ao peito...
Depois de muito tempo atingiu a hospedaria do povoado que buscava. Com enorme surpresa, porém, não encontrou aí o colega que o precedera. Somente no dia seguinte, depois de minuciosa procura, foi o infeliz viajante encontrado sem vida, num desvão do caminho alagado.
Seguindo à pressa e a sós, com a idéia egoística de preservar-se, não resistiu à onda de frio, que se fizera violenta e tombou encharcado, sem recursos com que pudesse fazer face ao congelamento, enquanto que o companheiro, recebendo, em troca, o suave calor da criança que sustentava junto ao próprio coração, superou os obstáculos da noite gelada, guardando-se de semelhante desastre.
https://www.netmarkt.com.br/mensagemdia2002/jan11.html
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