O CARACOL E A ROSA FELIZ
Hans Christian Andersen, famoso escritor dinamarquês, escreveu uma história infantil chamada “O Caracol e a Rosa”. Como me lembro, a história é assim: (por Daisaku Ikeda)
Existia um belo jardim de rosas e sua volta era um belo pasto verde. Sob o céu azul e fofas nuvens brancas, as vacas e os carneiros pastavam alegremente. As rosas eram cheias de alegria e voltavam suas faces para o glorioso sol. Debaixo das rosas floridas vivia um caracol. Com uma enorme casa em suas costas, ele sempre dizia: “Não me aflijo com o que acontece com qualquer um! Tenho tudo o que necessito”. Ele estava sempre fechado em sua confortável casa. Nas raras ocasiões que ele tirava sua cabeça para fora, estava cheio de arrogância e despeito.
Rastejando pelo jardim úmido, ele observou as rosas: “Vocês nunca aprendem? Tudo o que fazem é florescer! Vocês fazem a mesma coisa ano após ano. Estou indo fazer algo maior do que florescer, maior do que carneiros e vacas a darem lã e leite”.
Ridicularizando as rosas, ele encheu-se de orgulho e declarou que era superior a todos os outros. Mesmo que fossem abertamente ridicularizadas, as rosas não ficaram rancorosas.
“Certamente esperamos que você atinja algo grandioso. Quando, entretanto, poderemos ver seu empreendimento?”, elas perguntaram.
Embora o caracol fosse rápido para jactar-se, elas queriam saber exatamente o que ele iria realizar, e quando. O caracol retrucou que as tolas rosas não compreenderam seu grande plano e retirou-se à sua magnífica casa da qual tanto se orgulhava.
(...em muitos casos, quanto mais a pessoa fala, mais covarde ela é. Quando as coisas não vão como ela planeja, de repente silencia e desaparece de cena...)
A estação das flores chegou novamente. As rosas erguiam suas cabeças para o céu azul e deleitavam-se da suave luz e cálida brisa.
Então o caracol apareceu novamente. Ele acenou lá debaixo com sua voz bajuladora:
“Velhas senhoras rosas! Quantos anos vocês têm! Por que é que vocês gastam muito da sua energia florescendo para o mundo? O que vocês ganham em troca?”
(...ele não podia dizer qualquer coisa agradável. Existem pessoas como o caracol...)
As rosas responderam, ralhando-lhe suavemente: “Podemos não ser espertas, mas somos felizes, e desfrutamos nossas vidas ao máximo. O sol é gentil e caloroso, o ar é doce e a chuva tão agradável.
“Somos felizes. Fitando os amplos pastos verdes, florescemos porque somos felizes! Quando tomamos uma profunda respiração, as riquezas da terra surgem em nós e nos nutrem. Os nutrientes caem do céu para nós. Somos felizes, alegres e assim cantamos!”
(...o arrogante caracol estava invejoso das rosas. Ele sempre fora tão malvado porque realmente ressentia-se das rosas...)
Mas as rosas perguntaram-lhe carinhosa e calidamente: “Uma vez que você, caracol, é tão importante, não seria mais feliz do que nós? O que você, em toda a sua grandiosidade, deu ao mundo? O que tem feito pelos outros?”
Quando perguntaram isso, tudo o que o caracol pôde fazer foi repetir sua costumeira resposta: “Eu não cuido do mundo! Eu posso fazer o que quiser, por eu mesmo!”
E mais uma vez o caracol fechou-se em sua concha e bateu a porta. As rosas olharam-no com piedade.
“Quão triste! Nunca poderíamos fechar numa concha. Sempre quis estar do outro lado, florescendo!
“E nós queremos fazer algo pelos outros no mundo! Isso é que é felicidade!”.
As rosas continuam a florescer felizes e o caracol continuou a lamentar-se do mundo, preso dentro de sua pequena concha.
Este é o fim da história de Andersen. Ele parece estar questionando sobre qual modo de vida é melhor. O caracol parecia desprezar o mundo, mas na realidade era desprezado pelo mundo. Ele mudou sua própria infelicidade em críticas, e quanto mais retrucava mais infeliz se tornava. Comparado a ele, quanto mais felizes eram as rosas, floresciam gloriosamente sob o sol e ao lado de verdes pastos, determinadas a levar felicidade aos outros.
Sempre há caracóis arrogantes, caracóis que invejam a felicidade de outros. Não precisamos dar atenção ao que dizem as lamentáveis pessoas como esse caracol. Só observem-na com calma dignidade, e levantem suas faces à luz do sol e vivam com orgulho e alegria...
Daisaku Ikeda - A Grande Correnteza para a Paz - Volume V)
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