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O CONHECIMENTO MORRE

O CONHECIMENTO MORRE
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Um príncipe marchou com seus generais e soldados para apoderar-se do tesouro do Sr. Shung, que já estava velho e cansado. Depois de grande luta o príncipe entrou vitorioso na cidade. Chegando ao Palácio das Peônias, só encontrou cinzas. Aí andou a avenida dos Nove Antepassados Ilustres, onde estava guardado o tesouro do Sr. Shung na Torre da Chama. E, igualmente o príncipe só encontrou destruição. Uma bola de fogo de suas catapultas havia incendiado a biblioteca das Dez Mil Línguas.
Outra destruíra o Templo das Belezas Soberanas e a enorme coleção das Sete Artes. Nada restava do Tesouro do Sr. Shung, a não ser uma lápide de pedra com a seguinte gravação:
"Há quatro tesouros valiosos: Uma mulher bela, um filho valente, um bom livro; são os três primeiros, e o quarto é a recordação desses três".
O príncipe inclinou-se para a Estrela do Norte e enviou-lhe seu pensamento:
Ó Céu Soberano, Imperador Celestial, perdoa a iniquidade humana, pois destrói o conhecimento.
Então, o Imperador Amarelo, que morava na Estrela do Norte, enviou ao príncipe um espírito em forma de velho monge, que lhe disse:
- Ó poderoso príncipe, eis aqui o que vieste conquistar - e apresentou-lhe 4 pedaços de porcelana quebrada - este é o tesouro pelo qual mataste tantas pessoas.
Ai o príncipe golpeou seu peito e lastimou-se:
- Que grande mal eu fiz! Foi uma grande maldade ter matado tanta gente, mas pior foi ter matado o conhecimento: matei muitos livros, assassinei a beleza do templo; desonrei-me ante o Céu, humilhar-me-ei ante a Terra. Nem sequer a morte pode corrigir esse erro.
O ancião gargalhou secamente:
- Ó ilustre príncipe como és vaidoso! Como podes crer que pudeste matar a beleza? Como pode o homem destruir o que no pode criar? A beleza, príncipe, é um espírito, e dez mil soldados e generais não podem matar um espírito.
Não brinque comigo, sou um homem arruinado e devo pagar uma oferenda as vozes dos livros que silenciei para sempre.
Disse o emissário do Imperador Amarelo:
- Já que você se julga tão grande que teme seus próprios atos ouça essa estória:
No início dos tempos os homens que amavam a beleza quiseram criar imagens dela, seu modo. Algumas imagens eram rudes, mas tinha uma beleza secreta para quem as criava. Assim, os homens escreveram em montanhas, pintaram em rochas e cantaram para o ar. E os gênios que viviam nesses lugares compreenderam. Passaram-se anos, nasceram poetas, eruditos, músicos, etc.
Pergunto-lhe, príncipe, de onde vem o pensamento do erudito quando o transmite, de onde o artista tira sua inspiração. Isso vem do vazio?
Os primeiros sonhadores jamais morreram. A esperança traçada no primeiro verso tosco é a mesma do grande artista ou erudito. Com os séculos as guerras e a decadência destruíram os tesouros da terra, nas não corromperam a beleza e o espirito. Houve um dia um simples oleiro que fez um pratinho de barro e quando terminou estava feliz porque havia dado forma a beleza. Um dia o pratinho quebrou-se, mas o espírito não morreu. Converteu-se num espírito.
Cem anos depois outro oleiro fez o mesmo prato; ele não sabia, mas era o mesmo prato de cem anos atras que renascia. E como o homem consegue um corpo melhor a cada renascimento, da mesma maneira esse prato que renascia teve acrescentada uma pequena asa e tinha uma linha mais graciosa. O pratinho viveu uns vinte anos e um dia também se quebrou e outra vez converteu-se em espirito. Novamente o pratinho esperou cem anos antes que outro oleiro o fizesse. Desta vez acrescentaram-lhe um desenho, mas todavia, era o mesmo espirito, a mesma beleza, o mesmo prato. Pois todos os pratos, como todas as canções, os poemas, os bons conselhos, são imortais. Por isso cada vez que o prato se quebrava, esperava no ar até que outro oleiro o imaginasse e o realizasse. E depois de dez vezes renascido e aperfeiçoado, o mesmo pratinho foi levado a casa do Sr. Shung. Só que agora era de delicadíssima porcelana com desenhos de flores de ouro e tão frágil que parecia o próprio espirito. E na casa do Sr. Shung, rompeu-se outra vez pelas tuas mãos, príncipe, e são esses quatro pedaços de porcelana que estão aqui.
O ancião atirou os cacos aos pés do príncipe:
- Tu pensas, ó ignorante, que porque esses pedaços foram destruídos, destruíste a Beleza. Achas que tens o poder de matar o espírito de um pratinho de barro? Amanhã virá outro sonhador. O pratinho viverá novamente. E continuará vivendo até o fim, quando todos os homens converterem-se em espíritos e sentarem-se juntos no banquete do Imperador Amarelo. E lá também estarão xícaras espirituais para que os mandarins possam beber o seu chá. Assim sucede com todas as obras realizadas pelos homens.
Não te lamentes pelos livros que incendiaste, pois serão novamente reescritos. Não te lamentes pelos poemas que perdeste ou pelas canções que silenciaste, pois seguirão cantando por toda a eternidade.
Sonhamos o que destruímos só para descobrir que nada se perde. Com uma bola de fogo incendiaste a Biblioteca das Dez Mil Línguas, mas nem uma delas foi silenciada, ó príncipe.
Desde o princípio do mundo que os homens quiseram silenciar as línguas, mas as palavras do primeiro homem serão de novo pronunciadas pelo ultimo homem. O conhecimento não morre com os livros, mas os homens morreriam sem o conhecimento. Por isso sempre os livros serão escritos, e embora não se saiba, será sempre o mesmo livro. Quando pensamos que uma idéia é nossa, mais do que nunca ela não é nossa. Os homens podem morre pelas suas idéias, pois os homens são mortais, mas as idéias jamais morrem pelas mãos dos homens, porque as idéias são imortais. Por isso, príncipe, contenta-se em aprender essa lição. Os homens têm sonhos de beleza e protegem-nos porque pensam que são frágeis. Uma simples rima de um poeta é mais forte que todas as cordas grossas do mundo, que um dia atarão juntos todos os homens. Uma débil linha pintada num tecido de seda é mais forte que todas as montanhas, mais antiga que os céus, mais duradoura que o tempo. A beleza não precisa ser protegida por ser frágil, mas a ela deve ser rendida homenagem porque é Divina.
Ó príncipe, busca a beleza não nas cinzas do tesouro, mas nas ruínas de seu próprio coração, criadas pela tua ambição. É melhor ser servo da beleza que governante dos homens.
O príncipe dirigiu-se com resolução para os seus generais e disse-lhes firmemente:
- Voltarei para o meu reino, passarei os meus bens ao meu filho e vestirei o manto amarelo. Os dias que me restarem serão consagrados à leitura dos Sutras para preparar-me para um renascimento mais nobre e pegarei uma roda de um oleiro e rezarei para ter a habilidade de criar um novo corpo para o espirito de um prato quebrado.

Conto Sufista
https://geocities.yahoo.com.br/omundoesoterico/sufi2.htm


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