O Quarto Mago
Todos nós já conhecemos bem a história de Gaspar, Baltazar e Belchior, os três reis magos que, seguindo o sinal de uma estrela, e levando presentes, empreenderam uma viagem para saudar o menino Jesus, que havia acabado de nascer. Entretanto, uma história do escritor Henry Van Dike fala de um quarto mago chamado Artaban, um homem muito rico e também muito sábio, que vendeu tudo que tinha e comprou três jóias - uma
safira, um rubi e uma pérola - para também presentear o recém-nascido.
A história de Henry, que também virou filme, conta que Artaban reuniu-se com seus amigos e lhes anunciou que iria, juntamente com os três reis magos, seguir ao encontro do messias, o filho de Deus, que havia nascido para trazer um novo caminho para os homens. Os amigos, porém, não acreditaram, e Artaban partiu então sozinho para juntar-se
aos outros três.
No caminho, Artaban encontrou um homem caído na beira da estrada, já quase morto. Desceu, então, rapidamente de seu cavalo e correu para socorrê-lo. Ao examiná-lo, viu que o homem estava ferido, e que precisava de cuidados.
Naquele momento, ele pensou: "Se eu ficar aqui, vou me atrasar para o encontro com os meus três companheiros e, então, acabarão partindo sem mim".
Apesar de seu dilema, reconheceu que a vida daquele homem era mais importante. Assim, resolveu ficar ali, auxiliando-o, até que ficasse bom.
No dia seguinte, quando o homem já estava recuperado, Artaban lhe deu sua safira e foi embora. Quanto aos reis magos, já era tarde. Os três acabaram partindo sem esperá-lo.
Muitos dias de viagem se seguiram, até que Artaban, finalmente, chegou em Belém. Caminhou por algum tempo pelas ruas da cidade. A certa altura, dirigiu-se a uma pequena e humilde casa para pedir informações. Foi, então, recebido por uma mulher, que trazia uma pequena criança no colo, e que lhe disse que, há alguns dias, três magos haviam passado por ali em busca de um menino chamado Jesus, mas que já tinham ido embora, inclusive o tal menino e seus pais.
De repente, no meio da conversa, ouviram gritos desesperados de mulheres, que corriam pelas ruas. Eram os soldados de Herodes, que estavam matando todos os recém-nascidos que encontravam pela frente. Igualmente apavorada, a mulher que conversava com Artaban correu e se escondeu com o filho nos fundos do casebre. Foi quando um capitão aproximou-se, e Artaban, mostrando-lhe seu rubi na palma da mão, disse-lhe calmamente: "Estou sozinho aqui, esperando para oferecer esta joia ao jovem capitão".
O capitão, seduzido pelo brilho da preciosa pedra, tomou-a da mão de Artaban e gritou para os soldados:
"Aqui não há nenhuma criança". Em seguida foram embora.
Depois deste dia, muitos anos se passaram, e Artaban viajou por muitos lugares à procura de Jesus, mas sem conseguir encontrá-lo. Em cada cidade e lugarejo por onde passava, sempre permanecia por alguns dias, e até meses, ajudando os necessitados.
Trinta e três anos após o início de sua peregrinação, Artaban, já bem velho e cansado, chegou em Jerusalém, onde estava acontecendo a festa da páscoa. O movimento pelas ruas era intenso. No meio da multidão, Artaban ouviu alguém comentar sobre dois ladrões, que seriam crucificados naquele dia, junto com um homem chamado Jesus de Nazaré.
Antes, porém, que pudesse pensar em qualquer coisa, viu uma jovem sendo arrastada por dois soldados, que a estavam levando para ser vendida como escrava, para pagar uma dívida deixada por seu falecido pai. Artaban ofereceu então sua última joia - a pérola -em troca da liberdade da moça. Dali, seguiu rapidamente para o local da crucificação. Ao chegar, deparou-se com Jesus já na cruz. Ajoelhando-se então, disse:
- Perdoe-me senhor. Por muitos anos lhe procurei, mas vejo que cheguei tarde demais.
E Jesus lhe respondeu serenamente:
- Quando tive fome, me destes de comer. Quando tive sede, me destes de beber. Quando estava nu, me vestistes. Quando estava enfermo, cuidastes de mim. Por isso, em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes pequeninos meus irmãos, a mim o fizestes!
Por alguns instantes, Artaban olhou em silêncio aquele homem na cruz, enquanto as lágrimas de emoção lhe corriam pela face. Apesar da dor do momento, uma estranha alegria lhe tomava o coração. Afinal, havia encontrado aquele por quem tanto tinha procurado. Em seguida, sorriu, fechou os olhos e morreu junto com Jesus.
Alexandre Reis
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