PECADOR OU SANTO
Preocupado em obter santidade e sabedoria e distinguir o bem do mal, um jovem decidiu buscar inspiração junto a um eremita que morava no alto de uma montanha. No começo de uma noite fria, chegou ao seu destino. Na cabana muito pobre, ardiam algumas achas de lenha propiciando luz e calor. Após uma refeição frugal – sopa de verduras e frutas silvestres - foram dormir. Na manhã seguinte iniciaria o aprendizado.
A primeira tarefa solicitada pelo mestre ao discípulo: saísse, sem pressa, e procurasse um santo.
Passou-se muito tempo, cerca de 10 anos, e o jovem voltou desiludido: não encontrara nenhum santo. Encontrara pessoas respeitáveis, alguns sábios, pessoas de oração, homens e mulheres que se dedicavam aos pobres e necessitados. Mas sempre existiam falhas. Pequenos indícios de vaidade, de impaciência, de gula...
Eles não eram santos. O mestre pediu, então que, encontrasse um pecador. Evidentemente, esta tarefa parecia bem mais fácil. A lista das pessoas más era imensa.
Mas a verificação diária ensinou que não eram totalmente más. A pesquisa durou mais 10 anos e o jovem, já com grande parte dos cabelos brancos, voltou para confessar novo fracasso.
E explicou: encontrei pessoas que faziam o mal, mas não eram pecadoras. Alguns eram ignorantes e não sabiam o que faziam, outros faziam o mal pensando fazer o bem. Além disto, em algumas oportunidades, faziam o bem.
E o mestre continuou: e tu o que és?
E o discípulo respondeu: um pouco de tudo, dentro de mim vive um pecador, mas por vezes se manifesta também um santo. E o que aprendeste ao longo destes 20 anos, insistiu o Mestre? Aprendi que não tenho o direito de julgar ninguém, porque existe algo de bom nas piores pessoas e algo de mal até nas melhores.
Sorrindo com bondade, o ancião disse ao discípulo:
Terminou o aprendizado. Você já adquiriu sabedoria, santidade, discernimento e capacidade de(não) julgar as pessoas.
Na antiguidade, um filósofo persa chamado Manes elaborou uma teoria, depois transformada em religião. Para o maniqueísmo a criação estava radicalmente dividida entre o bem e mal absolutos. Não havia meio termo. Estes dois princípios viviam em constante luta. Como conseqüência, existiam pessoas absolutamente más e outras absolutamente boas. Esta tendência maniqueísta está presente no modo de pensar, ainda hoje. Nos julgamos bons, como igualmente é bom o meu grupo, o meu partido, os meus amigos. Já os outros são maus. Só vemos o bem nas pessoas que amamos e só vemos a maldade naqueles que não pensam como nós. Este ponto de vista nos leva a muitos equívocos e injustiças. Nos enganamos em relação a nós mesmos e ao nosso grupo, não percebendo o mal que existe e nos enganamos em relação aos outros, não percebendo o bem e as virtudes que eles cultivam. O Evangelho caminha noutra direção.
Jesus nos pede: não julgueis.
Não julgar é virtude e inteligência, mesmo porque pouco sabemos dos outros. E os seguidores de Jesus formam um povo de santos e pecadores. Cada um de nós vive esta ambigüidade de santidade e pecado.
Aldo Colombo
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