Questionário de Bernard Pivot
Quando Bernard Pivot começou a apresentar seu programa literário semanal parisiense, em 1973, a TV francesa ainda se sentia responsável pela educação cultural do público. Hoje, até emissoras estatais se curvam à ditadura da audiência, e o programa de Pivot é quase uma excentricidade, voltado a uma pequena elite de espectadores idosos que gosta de discutir livros e idéias após o jantar de sexta-feira.
Mas ter sobrevivido no ar por 28 anos é uma medida de respeito que Pivot ganhou ao manter distância saudável de editores e escritores, recusando benefícios da fama como pagamento pela leitura de determinado livro ou promoção de produtos. Alan Riding [The New York Times, 20/6/01] diz que o resultado tem sido uma legião de fãs leais, que vêem seus programas como uma instituição literária.
Escritores torcem por um convite de Pivot, enquanto telespectadores contam com ele para julgar o que vale a pena ser lido. Quando abençoa um livro, as vendas disparam. Não é à toa que o mundo das letras na França está de luto com a aposentadoria de Pivot, que aos 66 anos levará seu último programa ao ar em 29 de junho. A France-2, emissora estatal que transmite Bouillon de Culture (Caldeirão de Cultura), o programa de Pivot, promete um substituto, que apresentará mais aspectos visuais e menos literários.
Aposentadoria
O último Bouillon de culture Caldo de cultura do canal público de televisão France 2 foi apresentado em 2001 e não teve choro nem velas. Ao contrário, foi regado a Bourgogne por Bernard Pivot e seus convidados. O programa mais cult da história da televisão francesa chegava ao fim em clima de celebração. E Pivot tinha razão para comemorar. Encerrou a carreira de Bouillon como o mais popular e respeitado jornalista da França e o preferido por 28% dos franceses para ocupar o ministério da Cultura.
Os fiéis espectadores do programa – 850 mil nos dias normais e mais de 1 milhão no último programa – não tiveram do que se queixar. Com uma gama de convidados que iam do acadêmico Jean dOrmesson à atriz Isabelle Huppert, o derradeiro Bouillon foi um espetáculo cheio de estrelas. Para isso, os editores providenciaram um florilégio do que foi visto de melhor em toda a história do programa. Os momentos mais emocionantes, os mais engraçados, as frases mais brilhantes. Um show de inteligência, humor e glamour com Woody Allen, Marcelo Mastroianni, Françoise Sagan e Catherine Deneuve, entre outros. Houve também momentos emocionantes como o autor do best-seller Balzac e a costureirinha chinesa agradecendo a Pivot, do set de filmagem na China, o fato de estar podendo fazer um filme sobre o livro. Sem uma ida do autor ao programa, A costureirinha não teria se tornado o best-seller mundial que foi e não estaria agora sendo filmado pelo próprio autor.
O último programa teve um convidado especial: o jornalista americano James Lipton, que apresenta o programa "Inside the Actors Studio", no canal Multishow da TV a cabo. Fã incondicional de Bernard Pivot, que viu pela primeira vez, na década de 80 no programa Apostrophes, Lipton contou que ficou fascinado pela inteligência e pelo que o programa tinha de "civilizado". Ao mesmo tempo que diz que gostaria de fazer um programa semelhante nos EUA, Lipton acha que isso é impossível. "As redes americanas são hostis a tudo que é cultural e civilizado. E as públicas especializadas em programas culturais estão sempre à procura de dinheiro. Meu programa mesmo pode ser considerado um milagre, uma aberração".
Aos 66 anos, Pivot deixa o programa que criou há quase 30 anos coberto de glória. Foi o assunto predileto das editorias de cultura da imprensa francesa durante duas semanas. Foi capa das revistas Lire (que ele mesmo fundou em 1975 e dirigiu até 1993), Nouvel Observateur e Télérama; e mereceu páginas e mais páginas nos mais importantes jornais do país. Uma unanimidade. Todos lamentavam sua partida. "A fórmula se esgotou", justificou Pivot. "Acho que foi-se o tempo de fazer na TV uma coisa do tipo salão do século 18".
Como um jogador que se aposenta em plena glória, Pivot se retirou de cena com poucas vozes dispostas a criticar seu estilo ou a receita de seu programa. E o que era este senão uma espécie de salão mundano em que alguns escritores falavam de suas obras? Com uma vantagem. Havia Pivot, uma espécie de porta-voz do espectador, fazendo perguntas (muitas vezes acusadas de ingênuas) sobre o livro, sobre o próprio autor, sua vida, seus hábitos, sua relação com a escrita. Mas o que poderia parecer ingenuidade era, na verdade, um agudo senso de oportunidade, uma forma de fazer a pergunta que o telespectador faria. "Eu não fazia o papel nem de ingênuo nem de idiota, mas de alguém que quer se informar", justifica ele.
Em mais de 10 anos, o apresentador do programa "Inside the Actors Studio", James Lipton, já fez mais de 100 programas. Lipton entrevistou alguns dos maiores atores e diretores do cinema, e ficou quase tão conhecido quanto seus entrevistados. O programa é gravado no Actors Studio e conta com uma platéia formada por estudantes. No final do programa ele faz dez perguntas de um questionário de Bernard Pivot.
O programa de James Lipton passa no canal Multishow e sempre vejo quando lembro, muitas vezes passam vários seguidos em "Maratona Actors Studio", uma delícia, adoro as entrevistas.
Muito interessante também é o questionário respondido por todos os participantes ao final do programa, antes que Lipton “entregue” seu convidado para a platéia.
O questionário é resumido do completo que Bernard Pivot também costumava aplicar em seus convidados. Confira abaixo:
- Qual sua palavra preferida?
- E a palavra que menos gosta?
- Qual o seu som ou barulho favorito?
- Qual o som ou barulho que menos gosta?
- Qual seu palavrão predileto?
- O que o excita?
- O que o repugna?
- Qual profissão gostaria de exercer se não tivesse a sua?
- Qual a profissão não gostaria de exercer jamais?
- Se o céu existe, o que gostaria que Deus lhe dissesse ao lhe encontrar?
Leia uma entrevista com Pivot, clicando aqui.
Confira tb. o artigo de Adília Belloti com o questionário completo.
Site do Actors Studio
Fontes: Observatório da Imprensa e Blog Caminhar
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