REFLEXÃO SOBRE ALMA GÊMEAS
Há também bastante fantasia romântica sobre almas gêmeas, afins e duplas de evolução. Adequadas ao comodismo de cada um, o belo conceito adquire cores esquisotéricas, romanticóides e popularescas, as mais diversas. Justifica uniões cármicas. Dá desculpas para o mero desejo (que poderia sem bem vivido, sem necessidade de fantasias). Endossa a emoção grosseira, sufocando o sentimento sutil.
Depois, a decepção - sempre medida pela mesma régua da expectativa. O que parecia uma saída fácil para nossa falta de vontade de atuar e perseverar pelo Amor, torna-se desilusão. Descurtimos, desistimos, desficamos, trocamos nossas oportunidades de Amor por um novo "presente pronto dos céus" – que nunca vem. E assim, em véus de Maya, as inúmeras (?) almas gêmeas de ontem vão-se tornando as mágoas - ou pensões alimentícias - de amanhã.
Aos poucos, vamos desistindo de um Amor Maior, evolutivo, a dois; e trocando duplas evolutivas por relações rasas, breves, cômodas ou sem sintonia – como se o Amor fosse culpado de nossos caprichos românticos e expectativas. Ao mesmo tempo em que novas receitas e livros ensinam a encontrar as tais "almas" às quais havíamos acabado de renunciar.
Em meio a tantos equívocos e fugas, fica mesmo difícil acreditar. Como não negar? Olhamos desconfiados para os filmes, já sabendo distinguir e condenar (?) a paixão como não-amor. Mas nem por isso encontramos e vivemos o verdadeiro Amor.
Entretanto, além de credos e distorções, ainda assim há duplas evolutivas - que se complementam, se ajudam e se amam, entre vidas. Se não para sempre, pelo menos por muito tempo. Ainda que não vivam sempre este Amor, de forma romântica, na Terra. Mas, também, por afinidade, nada contra poder (e saber) vivê-lo aqui, também.
Há seres que, de tão afins, podem sim se unir, de forma complementar, formando um sistema, Dharma, ou Amor maior - assim como homem e mulher, juntos, podem dar à luz. Almas afins, com planejamento intermissivo, que nos permitem em algum momento dar e receber amor, de forma especial - e crescer com ele, para que nunca confundamos com mera paixão. Ou que nos permitem simplesmente estar estáveis, em Amor, para o cumprimento de um dharma maior. Amparadores vivos, companheiros evolutivos, exortando-nos, dia a dia - mesmo quando não é fácil ou "romântico" - ao nosso melhor.
Embora não haja promessa romântica no contrato reencarnatório, há também espaço para os reencontros de Amor - o qual, manifestado em todos os níveis, não exclui o a dois. E se serão vividos em uma vida, podem ser vividos nesta vida, ainda que por um tempo, entre os que buscam sintonia, amor e evolução. E assim, os mais produtivos se tornam mais unos e se repetem, reforçando a união que deu origem ao conceito, independentemente de suas mônadas e possíveis origens ou destinos comuns.
Podem não ser deterministas como as expectativas de alguns. Podem ser menos apaixonados, aos olhos de quem os julga, do que relações transitórias. Talvez sequer sejam reconhecíveis, por terceiros, como tão especiais. Talvez se esqueçam um do outro, após se separarem, uma vez que não se "possuem", a não ser pela vontade. Talvez só se encontrem em breve período crítico, em que apenas alguém tão afim poderia nos ajudar. Provavelmente não escapem da transitoriedade do que se manifesta na Terra e "desapareçam" pouco depois.
Mas não faz diferença. Mudam para sempre nossas vidas, ainda que, em Maya, nos esqueçamos quando, ou quem. São expressão do Amor, ainda assim, e este, ao contrário da paixão, é sempre eterno - mesmo quando não pode ser eterna a sua manifestação.
Talvez não sejam "almas-gêmeas", e nem mesmo "almas-afins", como imaginávamos. Talvez, quem sabe, nossa alma "única" nem seja uma só. Pouco importa. Mas há algo bem real, invisível aos olhos, mas visível ao coração, que justifica, como elemento comum, o porque de tantos diferentes, distorcendo ou não, colocarem neste "conceito" um ideal de Amor.
E na falta de nome, já que todos seriam imprecisos, eu o chamo de Almas-Afins. Mas tanto faz.
Lázaro Freire
https://www.saindodamatrix.com.br/archives/2005/03/utopias_espirit.html
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