Simplicidade
Simplicidade... simplicidade
Ser como as rosas, o céu sem fim,
A árvore, o rio...
Por que não há de ser toda a gente assim?
Ser como as rosas: bocas vermelhas
Que não disseram nunca a ninguém que têm perfume...
Mas as abelhas e os homens
Sabem o que elas têm!
Ser como o espaço, que é azul de longe
de perto é nada...Mas quem o vê:
árvores, aves, olhos de monge...
busca-o sem mesmo saber por que.
Ser como o rio cheio de graça,
Que move o moinho, dá vida ao lar,
Fecunda as terras...E rindo,
Passa despretensioso, sempre a cantar.
Ou ser como a árvore: aos lavradores
Dá lenho e fruto, dá sombra e paz;
Dá ninho às aves; ao inseto, flores
Mas nada sabe do bem que faz.
Felicidade – sonho arredio!
Feliz é o simples que sabe ser,
Como o ar, as rosas, a árvore, o rio:
Simples, mas simples sem o saber!
(Guilherme de Almeida, Meus Poemas Preferidos, ed. de Ouro)
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