Tentando ser Feliz
Que tal pensar nas coisas boas que a vida está te dando e deixar que cada um cuide do seu próprio inferno?
A VIDA É engraçada. Você tem 38 razões para estar feliz e umas três te atormentando. O que acontece? Você leva o dia inteiro pensando nas três e não lembra nem uma vez (e olha que o dia tem 24 horas) de nenhuma das outras 38.
Que as razões para estar feliz sejam as mais banais, não tem importância, pois bastava que uma delas estivesse dando errado para você estar arrancando os cabelos. Quer ver só?
Seus gatos estão com saúde? Que maravilha; mas, se não estivessem, você estaria péssima. Seu computador está em ordem? Nem por um instante pensa nisso, mas se a internet não estivesse funcionando, seria o caos. Alguma coisa te obriga a ligar para o 0800? Deus é grande, nada.
E assim vamos nós, com muitas razões para estar tranqüilas e sossegadas, mas com aquelas -aquelas- perturbando o tempo todo. O pior é que a maioria das pessoas é assim. Elas começam com a pergunta "posso te alugar por cinco minutos?" Claro, amigo é para essas coisas. Depois de contar uma história que não dura cinco minutos, mas pelo menos 25, ela diz "mas não quero pensar mais nisso, não vou esquentar minha cabeça, e pronto". Muito saudável, uma medida providencial -para os dois, aliás. Mas daí a 40 minutos o assunto volta, com direito a pedidos de conselhos e tudo.
Em grande parte das vezes o tal assunto é banal -para quem está ouvindo, claro. Mas para quem está passando pelo problema é mais importante do que a guerra do Iraque: o namorado que maltratou, a sogra que é uma megera, o ex que não pára de telefonar para atormentar bem o juízo.
Os dias se passam, os problemas continuam exatamente iguais, e a pessoa se martirizando por coisas que, no fim das contas, não são nem tão graves assim.
O namorado que maltrata pode estar querendo se mandar, e se for o caso, nada a fazer, a não ser esperar o tempo passar e esquecer; a sogra que te enlouquece vai ser assim a vida inteira, provavelmente porque nasceu assim, então tem que descontar em cima de alguém, e se o ex telefona o tempo todo é porque não arranjou uma namorada nova.
Moral da história? Se essas coisas acontecem, o problema não é seu, mas delas, e são elas que devem encontrar a solução.
A partir do momento que você realiza que está bem e compreende, como disse Sartre, que o inferno são os outros, que tal pensar nas coisas boas que a vida está te dando e deixar que cada um cuide do seu próprio inferno, sem deixar que ele te atinja?
Não é fácil, mas é um exercício que vale a pena aprender; não se trata propriamente de ser egoísta, mas de procurar exercer, tanto quanto possível, seu direito de ser feliz.
Procure, durante alguns momentos do dia, pensar em quanto sua vida seria boa, se não fosse a capacidade de A, B ou C perturbarem sua cabeça. Imagine que eles estão num lugar bem longe, felizes, que tem sabido de ótimas notícias deles, mas raramente; ah, como seria bom.
E pense também na obrigação que você tem com você mesma de viver tão bem quanto possível. É claro que existem momentos difíceis dos quais ninguém escapa, mas de outro tipo, não os que nos são trazidos pelos outros.
E não é impossível aprender a se desligar dos que te fazem mal, de só estar perto de quem te faz bem e lembrar, tantas vezes quanto possível, das coisas boas que a vida está te dando. E assim tentar ser mais feliz.
Danuza Leão
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