Um pouco de Sinestesia
"Normalmente, meu espírito está inteiramente tomado pelas leis das cores. Ah, se elas nos tivessem sido ensinadas em nossa juventude."
Vincent van Gogh
Aprender a usar a cor de maneira que ela seja capaz de causar em um público específico tudo aquilo que queremos é mais umas das chaves para um bom planejamento gráfico.
Alegria, angústia, tristeza, solidão, juventude, fome, erotismo, tudo isso, e muito mais, conseguimos transmitir com as cores.
Basta saber como e qual a relação entre as cores e as sensações fisiológicas e/ou psicológicas que desejamos.
Vincent van Gogh, expressava com as cores tudo aquilo que sentia e que queria demonstrar às pessoas. Ele descrevia seus quadros com algumas das seguintes frases: "quero exprimir o pensamento de uma cabeça pela irradiação de um tom claro num fundo escuro" e "procurei exprimir com o vermelho e o verde as terríveis paixões humanas".
Essa capacidade de passar sem palavras um certo sentimento pode ser alcançada por qualquer pessoa que conheça as relações sinestésicas das cores e como isso acontece.
"A forma é o corpo da cor, a cor é a alma da forma"
Karl Gerstner
Em primeiro lugar precisamos entender a afirmação acima. Tudo aquilo que vemos é exatamente aquilo que não existe. Quero dizer com isso que quando olhamos a bandeira do Brasil, por exemplo, nós vemos verde, amarelo, azul e branco, mas na realidade o que existe ali é: vermelho, roxo, laranja e preto, que são exatamente suas cores opostas.
Isso ocorre pelo seguinte: a luz (que é cor) de encontro com uma superfície tem seus comprimentos de onda absorvidos. De acordo com o tipo de superfície (partículas existentes em sua composição) certas ondas são absorvidas pela superfície (corpo - forma) e outras não. Aquelas que não são absorvidas, são refletidas isoladamente como uma cor específica (alma -cor).
A luz branca é a soma de todos os raios eletromagnéticos. Depois de absorvidos alguns, vemos apenas o que sobra, ou seja, aquele que não existe em determinada superfície e por isso é refletido.
Uma superfície branca não possui nenhuma onda, por isso reflete todas, resultando na cor branca. Já uma superfície preta possui todas as ondas e não reflete nada.
A luz ou cor, refletida será sempre a oposta ou complementar a que mais foi absorvida. Portanto uma superfície que reflete amarelo, possui mais o roxo, que é a sua complementar. Cor complementar é aquela que fica exatamente do lado oposto a outra no círculo cromático. As básicas são:
Amarelo>>> Roxo
Azul>>> Laranja
Vermelho>>> Verde
Preto>>> Branco
A cor complementar, a que não vemos, só é captada pelo cérebro depois da saturação da retina, que é o que acontece quando ficamos olhando fixo para um lugar e vista começa a arder. Essa sensação de ardor é a saturação da retina.
Um modo fácil de comprovar isso é olhando para a bandeira do Brasil durante 30 segundos sem piscar e depois olhar para uma superfície branca. Você verá a bandeira com as cores complementares o que significa que o seu cérebro, a partir daquele momento, deixou de captar o que você estava vendo para captar o que você não vê.
Por isso as cores devem ser usadas de maneira subliminar, ou seja, não devem ser colocadas em um lugar onde uma pessoa ficará olhando fixo, mais sim dentro da área de visão periférica, quer dizer, em um lugar que não seja a linha direta da visão do público.
"Há pintores que pintam de ouvido"
Cândido Portinari
Sabe aquela relação entre uma música que você escute e uma época de sua vida, um perfume que lembra uma ocasião, uma comida que lembra uma música ou as frases, eu estou roxo de ciúmes, verde de inveja, cara amarela de doente.
Tudo isso é sinestesia.
Você comeria uma bela picanha cheirosa assada que quando partida fosse verde por dentro?
Morderia uma maçã cheirosa mas azul?
Tomaria água fresquinha marrom?
Com certeza sua resposta foi não.
Por que, se era uma picanha de verdade, maçã perfeita e água pura?
Por causa da cor que não é aquela que estamos acostumados.
Como uma maçã pode ter cheiro de maçã e ser azul?
O cheiro da maçã é vermelho?
Perguntas com respostas sinestésicas.
O que acontece é que cada cor tem uma associação psicológica, fisiológica e sinestésica, ou seja toda cor possui uma sensação, reação, som, ritmo, forma, cheiro, sabor. Todas essas relações têm início no nosso cérebro que transmite para o resto do organismo.
Márcia Okida - Designer Gráfico
Professora Universitária da Unisanta, pesquisadora da linguagem das cores e design desde 1988. Membro da Associação Pró-Cor do Brasil.
Contato: [email protected]
https://www.tanomuro.com.br/home/sinestesia.htm
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