UMA CRIANÇA QUE VIU A LUZ
Num lugar algures dentro de todos nós, existia uma pequena criança fechada entre quatro paredes de uma sala, entretida com os seus brinquedos que eram a única realidade que ela conhecia. A sala onde brincava era como um mundo onde experimentava os primeiros passos, onde dava as primeiras quedas, onde construía e destruía os castelos feitos de peças. Ali, entretida nas brincadeiras que ela julgava serem a única realidade, vivia esquecida do mundo que envolvia essa sala iluminada por uma luz de candeeiro, fechada entre janelas trancadas e portas lacradas.
Mas um dia, as janelas dessa sala abriram-se diante dos seus olhos esbugalhados. Ela, deslumbrada com a luz que vinha de fora, largou todos brinquedos, caminhando timidamente até junto da janela que lhe revelou um novo mundo. Pela primeira vez sentiu o conforto do sol no seu rosto, a brisa suave nos seus cabelos soltos; observou as árvores que se curvavam na suavidade do vento que nelas se tornava presente, a frescura das plantas no colorido luminoso do orvalho constante, a beleza única de um lugar alimentado pelo brilho prateado de um ribeiro de águas ternas, pela paz uníssona das melodias que lhe chegavam vindas de todo o lado. E quando as portas lacradas se abriram, ela partiu de braços abertos sobre a erva fina e aparada, correndo atrás das borboletas, dos pássaros que dela não fugiam, da beleza única de um lugar tão especial.
Para trás deixou todos os brinquedos, fundindo-se com a natureza daquele lugar que sempre esteve junto de si, mas que ela ignorava por viver fechada entre quatro paredes; entretida com os seus jogos, com as suas brincadeiras, com as suas construções e realizações tão inocentes.
Um dia, depois de se tornar adulta, essa criança, que deixou de o ser, regressou à mesma sala. Num baú colocou todos os brinquedos, abrindo as janelas e as portas; deixando que a luz do sol iluminasse cada recanto daquele lugar em tempos fechado. A partir de então não mais as janelas se trancaram nem as portas se lacraram. Os dois mundos tornaram-se um só, e essa criança, que já não o era, pode finalmente iniciar a construção de uma existência não mais limitada pelas quatro paredes que a escondiam do mundo, mas aberta num horizonte vasto que lhe ensinou que tanto a sala como o lugar que a envolvia eram partes unificadas de uma só realidade.
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