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Uma Reflexão Sobre a Paternidade

Uma Reflexão Sobre a Paternidade
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Iniciamos nossa reflexão enfocando dois pontos inerentes à natureza humana enquanto ser masculino: a capacidade criadora e a capacidade procriadora. Salta-nos aos olhos a questão de que tipo de mundo herdamos de nossos antecessores, de que forma foram exercidas as capacidades criadoras e procriadoras daqueles que nos antecederam... e, por conseqüência, como estamos utilizando nós, no momento presente, as nossas capacidades e o que deixaremos como herança.
Vivemos em um tempo e num mundo especial, onde velhos tabus e paradigmas são quebrados, novos surgem; valores referenciais de vida, éticos e morais, são constantemente questionados colocando em cheque a figura do homem enquanto ser material e espiritual e seu papel na família, no trabalho e na sociedade.

Meditando sobre o assunto, não é difícil concluir que a questão chave está numa crise de identidade provocada pela desagregação da natureza humana, pondo em evidência a identidade e personalidade do homem enquanto ser espiritual, pois não somos apenas matéria.
Partindo da premissa de que somos seres criados à imagem e semelhança de Deus e que estamos num contexto dentro de toda a criação através de um plano por Ele criado, é interessante analisarmos o papel de nossas capacidades criadoras e procriadoras a partir deste referencial.
Assim, nossa capacidade procriadora nos inclui no grande plano de Deus para perpetuação da humanidade; assumimos então, a paternidade da criação a partir de nossos descendentes e somos continuadores da obra da criação, da construção do mundo.
Uma síntese dos pensamentos de Santo Tomás e Santo Agostinho nos mostram bem claramente esta linha de pensamento:

“ ...a ação de Deus como causa primeira de todas as coisas...”
“ ...a ação do homem e das coisas criadas, chamadas causas segundas... através da quais Deus quer continuar a sua Obra...”


Meditando sobre esta síntese destes pensadores, percebemos com clareza que o ponto crucial está na busca de harmonia entre a ação de Deus e a ação do homem e das coisas criadas; harmonia entre paternidade e filialidade, céu e terra, natureza e graça; mundo natural e mundo sobrenatural; Deus e a criação...
A criação reflete Deus e Deus reflete a criação. Por isso, precisamos encarar a criação a partir de Deus e precisamos encarar Deus a partir da criação.
De uma forma mais concreta: O homem querendo organizar, mesmo com todo idealismo e boa vontade, com toda sua capacidade criadora, a própria família, o trabalho profissional, todas as suas obras, a sociedade e tudo o que a envolve, se fizer tudo isto, isolado de Deus, está fadado ao fracasso pois está desvinculado de sua própria natureza.
Dentro desta perspectiva, podemos afirmar com propriedade que tempos sem pais são tempos sem Deus.
É quase inevitável que tais tempos estejam condenados a produzir em grande escala deformidades de toda espécie em toda natureza. Que tipo de imagens queremos ter de Deus, como entender e aceitar a Deus como Pai de bondade e misericórdia, se minha experiência na natureza humana, se minha experiência com meu pai natural é deformada?
Segundo a lei de transmissão de sentimentos, uma experiência negativa de paternidade em relação ao transparente humano, condiciona especialmente a relação com Deus.
Se entendermos esta perspectiva bem claramente, comparando-a com a posição que o pai ocupa na cultura moderna, é fácil formular esta importante afirmação: a tragédia do tempo e do mundo atual é, no fundo, a tragédia do pai.
As gerações futuras vão sentir, vão amar e vão pensar como as gerações anteriores. O filho que for abandonado por seu pai, sentir-se-á abandonado também por Deus; o filho que não teve a oportunidade de vivenciar a presença de seu pai, dificilmente poderá acreditar na presença universal de Deus; Se o pai humano não reflete a transcendência divina em suas capacidades criadora e procriadora, o filho terá dificuldades em acreditar na onipotência e onipresença de Deus.
Pelas manifestações de amor do pai pelos seus filhos, os filhos se sentirão também amados por Deus; pela obediência que os pais cobram de seus filhos, os filhos obedecerão também a Deus. Ao contrário, de quem nunca foi exigido obediência aos pais, não estará preparado para obedecer a Deus e as leis estabelecidas por ele; não terá sensibilidade frente a ordem do ser e da natureza e terá dificuldades em se ajustar a elas. Fará as coisas como bem entende e assim estará sujeito a incorporar valores distorcidos impostos pelos modismos.
Se o pai não é representante da verdade, não é fiel depositário dos valores fundamentais, dificilmente o filho aceitará Deus como verdade absoluta.
Concluímos nossa meditação com a afirmação: precisamos VIVER O PAI.
Viver o Pai significa compreender com bastante clareza o papel de educador e formador de personalidades livres e autenticamente cristãos que nos compete como pais. Principalmente no mundo de hoje, precisamos ter consciência de nosso verdadeiro papel no exercício da paternidade, não apenas no sentido biológico, mas, principalmente, no sentido pedagógico educador, transcendendo o papel da natureza humana e assumindo a paternidade espiritual.

Qual o papel da paternidade espiritual?
Sem dúvida, transparecer no pai natural o Deus Pai!
Termos consciência de nosso papel na paternidade e na construção da Obra da Humanidade, pois somos agentes ativos uma vez que somos “causas segundas”, pelas quais e através das quais Deus quer realizar a Sua Grande Obra.

Brasília, Agosto 2007

Luis Carlos Schneider é professor de Saúde Ambiental; Saúde, Ambiente e Sociedade e Antropologia Filosófica, em faculdades de Brasília/DF.

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