Uma segunda chance




Tenho 90 anos, mas hoje acordei com o corpo de quando tinha 30.
Custei a acreditar. Pulei da cama, corri para sentir o sol aquecendo meu rosto e a grama macia sob meus pés.
Brinquei com os cachorros até que, exaustos, se deitaram para cochilar.
Ah, como senti falta deles ao longo dos anos e nem percebi!
Caminhei por aquele trajeto que tanto amava, e me perguntei por que o deixei de lado quando ainda podia.
Sim, foi cansativo, mas eu me sentia forte - e livre.
De repente, o telefone tocou. "Mãe" aparecia na tela.
Chorei assim que ouvi sua voz.
Depois de um mergulho no rio, passei diante de um espelho e me perguntei:
Por que perdi tanto tempo acreditando que havia algo errado comigo?
Por que não enxerguei que eu era linda e que merecia ocupar meu lugar no mundo?
Hoje tirei tantas fotos... nenhuma perfeita - e guardei todas.
Porque perfeição nunca foi o objetivo de registrar memórias.
Ao ver o pôr do sol, fui tomada por uma gratidão imensa.
Aos 90 anos, não sei quantos dias ainda me restam.
Abracei todos que pude, o máximo que pude, antes de adormecer.
Sabendo, no fundo, que tudo aquilo não passava de um sonho.
Quando era mais jovem, eu era cheia de vida.
Mas vivia distraída, presa no "o que vem depois".
Trabalho, discussões tolas, preocupações com a opinião alheia...
Medo de estar atrasada. Medo de mudar.
Desperdicei tantas horas tentando ser "boa o bastante", "bonita o suficiente", "digna o bastante".
Presa ao passado, esquecendo de viver o presente.
Agora estou aqui, deitada no fim.
E finalmente entendo: a mágica da vida está no aqui e agora.
Devemos desperdiçar o mínimo de tempo possível, porque nada é garantido.
Um dia, perderemos tudo - e todos - que amamos.
A maioria das coisas não importa.
Mas as que importam... como fazem falta.



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