VIDA MODERNA E REFLEXÕES BUDISTAS
Paramos e perguntamos:
O que estou fazendo, aonde pretendo chegar?
Muitas das vezes nem temos tempo para parar e pensar, só trabalhamos. Vivemos numa sociedade de aparências e concorrências. O que tem mais é considerado "o bom" ou "o bem sucedido". Esses conceitos levam as pessoas a trabalharem cada vez mais para ter consigo as coisas mais valiosas.
Os executivos em geral são pessoas que têm orgulho de serem dinâmicas, empreendedoras, muito ativas e capazes de pensar e fazer várias coisas ao mesmo tempo. Além disso, se regozijam de serem rápidos em tudo: no andar, no comer, nos raciocínios e nas decisões que tomam. Conseguir terminar mais e mais projetos em um número cada vez menor de horas é motivo de orgulho. E a sensação é a de que sempre faltará tempo para terminar os projetos. "Não me faça perder tempo" ou "tempo é dinheiro’ são as frases mais comuns...
Em geral, sente que deve trabalhar constantemente na busca de sucesso. Ele é capaz dos maiores sacrifícios pessoais a fim de conseguir ou realizar um projeto. É muitas vezes um "workaholic"(viciado em trabalho), que vive em função de seu trabalho. Sua dedicação é inconfundível e sua vida é pontilhada de sucessos profissionais.
Porém se estressa e deixa de experimentar alguns dos prazeres mais sutis da vida. Há outras características tais como: ter dificuldade de ouvir sem interromper, traduzir as coisas em números, tornar-se facilmente irritado, ser direto e objetivo, sentir-se culpado quando descansa ou tira férias.
Essas pessoas são mais vulneráveis a doenças, como enfartes e alcoolismo, seja na forma de sentimentos frustrados, hipertensão arterial, úlceras e episódios sérios de estresse que podem levar o indivíduo à morte prematura.
Além dos problemas sérios que podem ocorrer quando a pessoa ainda está trabalhando, tem-se verificado que a pessoa possuidora desse padrão de comportamento se adapta muito mal à aposentadoria. Sabe-se de estatísticas de uma grande empresa brasileira que os executivos que se aposentam lá morrem num prazo de 4 anos, após desligamento da empresa. E a média de idade do aposentado é de 55 anos.
O primeiro ensinamento de Buddha foi "conhece-te a ti mesmo". Ele ensinou que a coisa mais importante para a solução de nossos problemas é, em primeiro lugar, o autoconhecimento, e depois reconhecer nossas limitações. Assim, como encarar as coisas como elas são de fato, e não da maneira que gostaríamos que fossem.
Viver a real vida significa aceitar como sou, como ponto de partida, com a percepção do fatos sem que os padrões da sociedade me escravizem.
Muitos homens modernos podem dizer que esse tipo de pensamento é o de um covarde ou derrotista, mas aqui não se trata de derrotismo ou resignação, mas no sentido da retomada da consciência como dono dos nossos sentimentos e compreensão de nós mesmos. Tudo na vida é impermanente e está em constante mutação, assim como nós estamos em constante mutação, mesmo que não queiramos admitir. Porém essa mutação ou transformação precisa ser de uma forma criativa e crescente em termos espirituais, senão estaremos apenas movimentando nossos corpos e não estaremos vivendo. No verdadeiro sentido de viver existe uma criatividade que torna a vida significativa e valiosa.
Assim, na vida, devemos fazer algumas pausas. Parar e analisar se apenas estamos nos movimentando e agitando dia após dia, ou se estamos vivendo uma vida criativa. A vida religiosa, a compreensão do ensinamento búdico, pode nos ajudar a fazer esta reflexão e aceitar as coisas boas ou más com equanimidade, como uma orientação para uma vida mais consciente. De modo algum a pessoa deve se dedicar "menos" à profissão escolhida; porém, ela pode aprender a usar o estresse a seu favor e a usufruir de uma qualidade de vida total.
Neide Miyako Hasegawa (Chyakuni Myokoo)
é praticante da escola Jodo Shinshu, em São Paulo.
https://www.geocities.com/callceb/VidaMod.html
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