VOCÊ PRECISA SOFRER PARA SER FELIZ?
Quantas pessoas você conhece que agem como se a felicidade só pudesse ser obtida através do sacrifício e sofrimento? Carregam cem quilos a mais que o necessário, como se isso justificasse seu merecimento para ser feliz.
Trazemos muitas crenças dentro de nós durante a vida e não conseguimos nos libertar facilmente e muitas vezes sequer reconhecemos que estamos agindo assim. São pessoas que no trabalho assumem encargos extras, dizendo estar disponíveis, ainda que estejam atolados de trabalho; dedicam-se incansavelmente no cuidado com a educação dos filhos, ainda que estes já tenham idade suficiente para se cuidarem sozinhos; alguns maridos impedem que suas esposas trabalhem ainda nos dias de hoje, tornando-as cada vez mais dependentes; filhos que se sujeitam a situações humilhantes com a expectativa de provarem que são capazes; esposas que sofrem caladas os maus-tratos que recebem do marido, por se sentirem incapazes de cuidarem de si mesmas; outras, mesmo sabendo estarem sendo traídas, mantêm a relação; maridos que não conseguem coragem para se separarem apesar da falta de amor, ou seja, os exemplos são muitos do quanto as pessoas se permitem manter situações que causam sofrimento e deixam de agir como que estivessem anestesiadas, nada sentindo.
O lema geralmente é o deixa que eu faço, eu resolvo, como se tivesse a necessidade de provar a todo o momento sua capacidade. São pessoas que inconscientemente estão querendo sempre agradar com a intenção de se mostrarem o quanto são capazes, porque no fundo, elas mesmas não acreditam que sejam. Como não acreditam serem capazes de se alimentarem, se amarem, sentem-se cada vez mais vazias. Quanto mais fazem, mais se cansam e muitas vezes reclamam que os outros não respeitam seus limites, quando na verdade, nós mesmos permitimos que invadam nosso espaço, ainda que seja com um elevado custo.
Alguns trazem a crença de que devem sempre corresponder à expectativa dos outros, ainda que isso muitas vezes custe seus próprios sonhos; outros são os eternos bonzinhos, sempre dispostos a ajudar. Encontramos ainda aqueles que negam suas necessidades, mas estão a todo o momento buscando a aprovação e reconhecimento de seus pais por tudo aquilo que acreditam não terem recebido durante a infância ou sua vida. É claro que todo esse processo e todas essas buscas acontecem de forma inconsciente e pode levar muito tempo ou somente através de um processo de psicoterapia a pessoa perceberá isso. Na verdade, tudo isso representa uma busca incessante por atenção e amor.
Na maior parte das vezes, todo esforço em excesso ou sacrifício que fazemos por alguém pode ser para que percebam o quanto somos importantes e merecedores de amor. É como se pensássemos que quanto mais fizermos, mais nos sacrificarmos, mais seremos reconhecidos. É lamentável que só percebemos o quanto estávamos enganados depois de muito nos doarmos, decepcionarmos e nos machucarmos, pois no intuito de nos darmos, acabamos por nos perdermos. Como ser merecedor de amor do outro, se não recebe nem o seu próprio?
Passamos a vida buscando no outro tudo aquilo que no fundo acreditamos não termos recebido na nossa infância ou durante nossa vida e que infelizmente, nos sentimos incapazes de nos darmos. Parece que nos esquecemos que merecemos amor por tudo aquilo que somos e não pelo que fazemos aos outros e isso independe do quanto recebemos no passado.
Assim, nos sentimos vazios, exauridos, sem energia para cuidarmos de nós mesmos, rebaixando cada vez mais sua auto-estima, mantendo relações simbióticas e doentes, que limitam o crescimento e fazem com que todos sofram. Mesmo sofrendo, mantemos a situação e resistimos a mudar não nos permitimos ir em busca dos próprios sonhos. Como resultado nos tornamos amargurados, ressentidos e infelizes. Muitas vezes, por termos dificuldade em receber, nos damos em demasia, e o pior, para as pessoas erradas, ou seja, para quem geralmente não irá valorizar nada do que lhe é feito. Parece até contraditório, pois se fazemos para receber, por que no fundo não nos sentimos merecedores? Porque o dar é uma maneira, ainda que sutil, de pedir o que se precisa. Como não acreditamos sermos dignos de recebermos amor, pois sentimos nunca termos recebido por aqueles que deveriam ter nos dado, nos sentiremos menos culpados se obtivermos o amor e atenção por meio do sofrimento e assim nos sujeitamos a sermos humilhados, maltratados, quando na verdade, se olhássemos para dentro de nós, poderíamos perceber que esse amor que tanto buscamos naqueles que não nos deram não é o mais importante, e que esse amor pode e deve ser recebido sem sofrimento, e há uma poção enorme dele muito mais perto, dentro de nós!
Rosemeire Zago
é psicóloga clínica com abordagem junguiana.
Recebido de Rejane Guimarães
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