O mundo está envelhecendo. Estudos feitos nos Estados Unidos dão conta que o numero de pessoas com mais de 65 anos de idade triplicou nos últimos 100 anos, passando de 4% da população mundial para os atuais 12,5%. No Brasil a situação não é diferente. Embora ainda seja considerado um país jovem, que atualmente possui menos de 6% de sua população com mais de 65 anos de idade, as projeções são preocupantes. Estima-se que daqui a 20 anos o Brasil terá mais de 30 milhões de idosos, ou seja, cerca de 20% da população.
Isto se deve ao aumento da expectativa de vida da população, além do controle da natalidade que acaba ocorrendo em função de vários aspectos. Mas o que está sendo focado é que a população mundial está ficando cada vez mais velha. Tal situação requer um estudo bastante aprofundado e detalhado, buscando soluções e planejando o futuro, na tentativa de atender a este novo perfil. O mundo – e as pessoas com ele – está envelhecendo, sendo necessário que ocorram adequações ao que irá acontecer nas próximas décadas. Como – por exemplo - se certificar e aceitar que o envelhecimento não é uma doença, mas sim uma dádiva.
Sempre foi mais fácil atender as necessidades dos jovens, pois envolve riscos e investimentos menores. Já o idoso tem como agravante o declínio das funções orgânicas, a dependência, a necessidade maior de controle e investimento social.
Um dos aspectos preocupantes relacionados à velhice é a convivência familiar. O idoso, invariavelmente, acaba sendo um entrave na agitação da vida moderna, o que pode levar à institucionalização da velhice, quando deveria ocorrer exatamente o contrário. O idoso deveria sempre ser assistido pela família, em função daquilo que construiu através dos tempos. Claro, contando com o investimento que efetuou nas entidades constituídas. Existe uma cobrança muito forte da sociedade em relação à assistência institucional ao idoso, não somente quanto ao atendimento asilar (menos de 5% dos idosos vivem em asilos), mas relacionado ao atendimento social, protecionista, estrutural e vitalício, já que o investimento da população para esta questão é muito grande (considerando impostos, previdência, planos da saúde e aposentadoria, etc.), e o retorno ao idoso chega a ser ridículo, quando não praticamente inexistente. Entretanto a cobrança deveria estar relacionada ao investimento direcionado à família (seria oportuno investir na informação da família sobre este aspecto), para que a mesma tenha condições de manter o idoso em casa. É necessário, portanto, uma mudança radical na política de assistência ao idoso, principalmente quanto aos serviços públicos envolvendo as áreas de assistência social, saúde e previdência, dando à sociedade condições de manter o idoso em casa, no convívio familiar, não se tornado assim um peso institucional. Investir mais na família, agregando condições estruturais, financeiras, ambientais, mas principalmente de responsabilidades. Esta é a grande saída, o que se espera de uma nova política sobre o idoso: nenhum protecionismo diferente daquele envolvendo qualquer cidadão responsável e cumpridor de seus deveres, e muita responsabilidade tanto da sociedade como dos poderes constituídos.
O peso da terceira idade e a relação com os jovens.
Quando o ser humano atinge a tão decantada terceira idade, teoricamente deveria estar ingressando no mais alto estágio da vida, que envolve a sabedoria, a conquista de um espaço perante a sociedade, o respeito e principalmente a glorificação por ter atingido seus objetivos como ser produtivo, como cidadão e como individuo.
Mas não é exatamente assim que acontece. Na sua grande maioria o individuo chega à terceira idade frustrado, revoltado, inseguro e descrente. Tudo que construiu, investiu e pelo que lutou não tem valor nenhum. A sua subsistência está comprometida, pois não recebe o retorno esperado e merecido das entidades assistenciais (principalmente a previdência), por tudo aquilo que doou de si durante toda a vida. Seu padrão de vida vai cair drasticamente, e passará e ter sérios problemas para conseguir sobreviver sem traumas, sem dívidas, sem questões existenciais. Não tem o respeito de uma boa parcela da juventude, que vê o idoso como um empecilho. E justamente nesta fase, que deveria ser de colheita de tudo aquilo que plantou, é que começam a aparecer e se agravar os problemas físicos e psíquicos, e que acabam debilitando e não raro prostrando definitivamente o idoso.
Existem dois grandes desafios que devem orientar todas as ações políticas e sociais de assistência ao idoso, não como uma atitude protecionista, mas como incentivo para a sobrevivência social digna no seio da família e com autonomia para continuar existindo como cidadão. Um deles é a qualidade de vida. O poder publico tem que fazer a sua parte, dando ao idoso o retorno merecido pelo alto investimento que efetuou durante toda a sua vida, não só em relação à previdência, mas também na saúde e assistência social. Não esquecendo o investimento na família, o que é mais importante. Outro desafio é a relação jovem/idoso. É necessário investir muito neste processo, esclarecendo, educando, procurando incentivar a interação continua das várias gerações. O jovem precisa ter a consciência exata da participação e da importância do idoso dentro da família, não somente na terceira idade, mas durante toda sua existência e na construção da familia. Afinal, o jovem um dia também será idoso, e deve ser alertado e esclarecido sobre este aspecto. O seu futuro será um espelho de toda sua existência, como a de qualquer idoso que já construiu e escreveu a sua história.
Dentro de alguns anos teremos mais idosos do que jovens. Talvez a relação social e familiar do idoso se estabilize e passe a ter uma situação mais condizente com as necessidades reais do “jovem da terceira idade”. Entretanto não temos ainda uma noção de como será no futuro a reação da sociedade como um todo. É necessário analisar o assunto profundamente e buscar informações mais concretas e embasadas na realidade em que vivemos. Necessitamos ter uma noção bastante clara de como agir quando o futuro bater em nossas portas e a velhice, ou melhor, a terceira idade não for mais uma realidade de pessoas de nosso convívio diário, mas sim a nossa própria realidade.
Temos que investir de forma consistente e consciente na informação e na convivência familiar, alertando os jovens sobre o trato familiar com o idoso, as suas vantagens e as experiências que podem ser adquiridas para melhor encarar e organizar o futuro. E dando à família condições socioeconômicas de acolher e conviver com o idoso em seu meio, sem traumas, culpas ou quaisquer dificuldades acessórias.
O idoso é o esteio da estrutura familiar. E como tal, deve ser respeitado e inserido na sociedade, para que tenha uma vida digna dos seus melhores sonhos. Afinal sonhou, acreditou e investiu durante toda a sua vida produtiva, para que na velhice pudesse colher os frutos de sua dedicação. É importante lembrar novamente: jovens também ficam velhos, e o ciclo da vida se perpetua, durante os séculos e séculos da existência do ser humano.
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Escritor, jornalista, com nove obras escritas e cinco publicadas. Veja no item "produtos". E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |