Inicialmente é necessário definirmos o inconsciente coletivo como um repositório de conteúdos simbólicos que existem fora da própria individualidade, mas que por ela são absorvidos quando da sua concepção, dando orientação à construção de seu inconsciente pessoal e de sua futura personalidade. Esses conteúdos psíquicos, em forma de símbolos, são as estruturas que Jung denominou arquétipos.
Os termos ânimus e ânima vão representar os arquétipos masculino e feminino, respectivamente, que se inserem no indivíduo em formação, dando-lhe as características da sua sexualidade afetiva e não necessariamente a biológica. Dessa forma, todos temos aspectos ânimus e ânima em nossa personalidade, havendo uma tendência para os homens serem mais ânimus e para as mulheres mais ânima. Mas é justamente no dinamismo dessas forças psíquicas que na maioria das vezes se estabelecem os comportamentos homossexuais, quando não há uma relação direta entre o ser psíquico e o ser biológico. Mas não é nossa intenção analisar a questão da homossexualidade; deixemos para outra oportunidade.
Podemos definir algumas características ânimus como ser ativo, rígido, cobrador, ligado à razão, à lógica, usar mais o amor condicional, buscar o conflito, a agressividade e a destruição. Já a personalidade ânima é passiva, flexível, tolerante, ligada ao sentimento, à intuição, usa mais o amor incondicional, evita o conflito, é protetora do mundo afetivo e ligada à criação. Claro que, só para reforçar a idéia, não são os homens personalidades ânimus e as mulheres ânima. Em cada um interagem aspectos de ambos os pólos, havendo predominância de um sobre o outro.
A polarização da individualidade humana em masculino e feminino, homem e mulher, é uma necessidade ao processo de evolução anímica, contudo tende à individuação, ou seja, à composição de um todo único e harmonioso, onde não haverá mais arquétipos independentes ou complexos criando conflitos afetivos, mas um ser para onde convergirão todas as tendências anteriores que o compunham e outras mais, tornando-o, assim, completo e feliz.
O alcance deste objetivo se dá justamente através das vivências que se repetem, onde o ser experimenta as angústias dos conflitos de suas próprias disputas afetivas internas. Por isso, cada um de nós precisa estar atento à parte que nos falta a alcançar, percebendo no outro, não um alvo às nossas críticas, mas um espelho que nos sirva de referencial de auto-observação. Ao estabelecer uma relação conjugal, homens e mulheres se associam com personalidades que lhes são diferentes e ao mesmo tempo lhes completam. Integrar o que há de bom no outro como um conteúdo pessoal é ampliar o patrimônio próprio de conteúdos psíquicos e tornar-se mais próximo da individuação. Nós homens precisamos aprender e apreender o lado bom de ânima, e as mulheres o lado bom de ânimus.
Entretanto, ao observarmos nossa cultura social, percebemos o quanto ela foi e ainda é caracterizada por ânimus devido a razões que se estruturam na própria mente humana, como o chamado complexo de castração, mas que não teremos espaço para discutir aqui. O que vale salientar é que os aspectos masculinos marcam o comportamento social, o que explica sermos uma civilização tão voltada ao conflito, às guerras, à lógica da ciência cartesiana, à insensibilidade. Mas, da mesma forma que as individualidades caminham para a integração dos conteúdos divergentes, também a humanidade, como somatório das individualidades que a compõem, caminha para a superação de sua tendência ânimus e o crescimento de sua ânima. Já podemos assistir a esta movimentação naquilo que vamos chamar de a “personalidade da Terra”. A cultura machista vai cedendo espaço à presença da mulher que tanto cresce também na absorção do que lhe falta de ânimus, quanto influencia o todo com o que tem de ânima.
Talvez o maior desafio agora seja o nosso, dos homens que habitam a Terra. Isto porque as mulheres, na busca da superação da sociedade machista, tiveram que lutar contra as forças culturais externas, operando uma revolução de hábitos e costumes que, pouco a pouco, vai se consolidando. Mas nós, homens, temos uma luta muito mais difícil, que é aquela contra o machismo introjetado em nossas mentes pela tal sociedade ânimus. Ou seja, os homens, neste empreendimento, não têm que lutar para mudar o meio social, mas lutar contra suas próprias tendências internas que são, na verdade, reforçadas pelo meio social, o que torna o trabalho bastante complexo.
Assim, acredito em uma humanidade futura mais ânima, mais feminina, mais flexível, tolerante, ligada ao sentimento, à intuição, mais capaz de amar incondicionalmente, evitando os conflitos, protegendo o mundo afetivo e criando.... criando um mundo melhor para se viver.
João Carvalho Neto
Psicanalista, autor do livro “Psicanálise da alma”
Texto revisado por Cris





Compartilhe



Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal" E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |