E quando a gente tinha chegado toda, numa noite quente e agradável, então minha mãe punha o Jingle Bells para tocar, numa solenidade ritualística, e vinha o papai Noel entregar os presentes, que já sabíamos, era o Seu Miguel. O avô dos meus primos. Gostava de cutucar sua barba. Lembro de quando descobri que era ele! A alegria de rasgar o pacote e brincar com os brinquedos, brincar com os primos, depois correr pelo quintal. Depois jantar. Dormir tarde e acordar logo para brincar! Um grande almoço trazia todos de volta. Entravam à luz do dia, desciam a rampinha a caminho do salão. Eram grandes festas de família.
Muitos "nãos" depois, chego a mais um natal. Um natal "sim". Um natal despojado de preparativos, mas um natal "sim". Um natal aberto. Um natal vazio de expectativas. Mas aberto.
O natal é uma data de emoção. Uma ocasião de emoção. Quem tem medo de se deparar com suas emoções que se prepare, pois o contato virá. Emoções que não são necessariamente dolorosas, mas que são contato. Algo que para muitos ficou perdido dentro do terno, ou sufocado junto com os dedos dos pés castigados nos sapatos apertados, de bico e salto finos. Ou adormecido entre os tecidos de um corpo que trabalha duro para sobreviver.
Este contato talvez seja a lembrança da alegria que já houve um dia e a busca de onde ela está.
Se algo tem Verdade e valor, qualquer que seja, na ocasião do contato, no dia do natal, aparecerá.
É uma cobrança inalienável, que vem pelo menos num dia do ano. Que muitos temem, outros negam, e alguns não agüentam, é verdade. Mas esse contato é benéfico. É necessário. É quando a Verdade de nossas vidas e do nosso entorno se manifesta dentro do nosso coração. Podemos chamar a essa Verdade e à sensação dela de Jesus em nós.
O natal, quando crescemos, perde "aquele brilho" que tinha quando éramos crianças e se transforma para alguns em cansaço, em trabalho pelos seus ou pelos outros, em regozijo, dor ou inveja pela alegria dos outros; solidão. Mas inevitavelmente ele vira contato interno, ou a fuga desse contato, e da Verdade desse contato.
Mas quando não tememos mais este contato e somos capazes de aceitar o que quer que seja em nós, o natal pode ser gratidão, o natal pode ser amor, o natal pode trazer o conforto silencioso de um abraço de alguém de quem estávamos afastados e a lembrança da dor que este afastamento causou. Pode ser a celebração do quanto você gosta de todos ao seu redor e pode significar se abrir para eles. Pode ser olhar nos olhos do seu tio, do seu pai ou da sua mãe, agora velhinhos e achar ali, no fundo daquele olhar, tristeza, ou paz. E perceber a presença do tempo, da vida chegando ao fim. Junto com isso vêm novas crianças correndo avoadas e felizes. Tudo isso é Vida e é contato.
E você pode respirar fundo em tudo isso, olhar as frutas e presentes de natal, que não precisam nem mesmo ser seus, e se alegrar, e incluir todos aqueles que não desfrutam materialmente do tanto que podemos desfrutar, pode incluir também o sofrimento dos que ficam de fora da festa, dos que estão em luta... no seu coração cabe tudo. Alegria e dor não são realidades estanques. Você pode fazer contato com tudo. E essa é a benção do natal. A benção de sentir, de fazer contato com tudo que há dentro e fora. Envolvendo a tudo que for com a Presença. Estando lá. Sentindo. E sentindo tudo o que vem, vem o puro Amor. Essa é a presença de Jesus em nós.
A alegria volta, mais recatada talvez, mas mais cálida dentro de um coração que sabe quão preciosas são todas as coisas, todas as pessoas e tudo que existe. E tudo se transforma no sabor da benção da gratidão.
Que benção o fato de existir uma ocasião para o contato verdadeiro com tudo!
Que todos os seres possam ter a Felicidade.
Que todos os seres possam ser livres do sofrimento.
Que todos os seres possam alcançar a Felicidade que está além de todo sofrimento.
Que todos os seres possam ser livres da atração por uns e aversão por outros.
"PAZ COM TUDO, TUDO COM PAZ" - Lama Gangchen Rinpoche.
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Isabela Bisconcini é Psicóloga Clínica e Consteladora Sistêmica. Terapeuta EMDR. Terapeuta Floral, Reiki II, NgalSo Chagwang Reiki, AURA-SOMA. Deeksha Giver. Dedicou-se por 25 anos ao estudo da psicologia budista e prática do Budismo Tibetano. Participou do Centro de Dharma da Paz desde 1988, quando Lama Gangchen Rinpoche o fundou. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |