Mas o mais notável é que todas aquelas pessoas, ao adentrarem nos salões do templo, passavam pelo pórtico onde, no frontispício, estava escrito: “Homem, conhece-te a ti mesmo”. Talvez, ainda como hoje, preferiam não valorizar um conselho que as libertava (“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, Jesus) mas que lhes impunha o peso de se assumirem na sua independência e maturidade. Por isso mesmo, quando falamos em aconselhamento durante atividades de psicoterapia ou nas conversas informais, é preciso percebermos antes as necessidades de desenvolvimento da individualidade que está diante dos problemas por ela vividos, do que apresentar soluções e encaminhamentos que as livrem dos próprios desafios.
Fazendo uma comparação com o ambiente escolar vemos que somente através dos exercícios e das provas é que uma criança desenvolve seus processos de aprendizagem. Se os professores ou colegas fizessem por ela os deveres e avaliações possivelmente ela teria boas notas contudo sem ter nada aprendido. Assim também é na vida. Os problemas que nos afligem são os exercícios que nos são propostos pelo sincronismo de nossas necessidades para que desenvolvamos determinadas habilidades e virtudes. É justamente por esse sincronismo, estabelecido através do psiquismo, que somos levados a passar por determinadas experiências diferenciadas das de outras pessoas, mas que dizem respeito apenas às nossas aprendizagens intransferíveis.
Nesse sentido, o autoonhecimento, proporcionado pelo estudo e pela auto-análise, continua sendo o melhor encaminhamento para o auxílio possível. Conhecendo-se, o indivíduo percebe a razão das provas em curso e descobre, pouco a pouco, as melhores opções de solução, realizando as aprendizagens que lhe são próprias como também aurindo o reforço de auto-estima advindo das experiências bem sucedidas. Tanto quando busca uma psicoterapia quanto na freqüência às instituições religiosas, existe em muitas pessoas um anseio para que o terapeuta ou o tarefeiro da instituição (ou o pastor, o padre ou o médium) lhes diga o que fazer com a própria vida. Pois eu lhes digo que se o terapeuta, o pastor, o padre ou o médium insistirem em lhes dizer o que fazer da própria vida eles estarão apenas adiando a solução de um problema que, mais cedo ou mais tarde, terá que ser resolvido pessoalmente, como uma necessidade de desenvolvimento da personalidade. Isto porque, na verdade, o que mais importa não é tanto a solução do problema mas, muito mais, o exercício de buscar encontrar em si mesmo essa solução.
Enquanto crianças nos portávamos como crianças, precisando sermos levados pelas mãos. Contudo, o desenvolvimento biológico do corpo à idade adulta não significa desenvolvimento da personalidade para o alcance de sua autonomia. Existem pessoas que se tornaram fisicamente adultas, permanecendo psicologicamente infantis. E, quando não houver mais ninguém que as conduza pelas mãos, a manifestação dos quadros de fobias, de neuroses e depressões não deveria ser uma surpresa.
João Carvalho Neto
Psicanalista, autor do livro “Psicanálise da alma”
Texto revisado por Cris
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Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal" E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |