O advogado dos suicidas - II

O advogado dos suicidas - II
Autor Bernardino Nilton Nascimento - [email protected]
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- Vou até o fim, Excelentíssimo! Disse o Advogado dos Suicidas.

- Assim seja... Com a palavra, o Excelentíssimo Advogado de Defesa.

- Bem, diante da grandeza do depoimento da Promotora Consciência, com a qual tenho a honra de conviver a todo instante, diante do Excelentíssimo Divino, cuja Divina Luz carrego dentro de mim, tenho a convicção de que todos os meus irmãos suicidas são inocentes e foram levados a tal atitude, não para fugir de sua missão na terra, mas, para alguns, por saudades de casa.

- Protesto! Disse a Consciência.

- Por que o protesto? Perguntou o advogado de Defesa.

- Isso não é desculpa. Apesar de não ter tido acesso às páginas deste processo que fala sobre saudade de casa, este assunto não me foi consultado por nenhum suicida.

- Protesto negado, Excelentíssima Consciência!

- Por que, Excelentíssimo Divino?

- Por que eu lhe coloquei dentro de cada um para jamais abandonar seu posto, e ao que parece está confessando que não estava presente na hora do suicídio, quando diz que não teve acesso às páginas dos processos de cada um. Dou a palavra ao Advogado de Defesa.

- Excelência, na Terra, quando uma criança vai ao colégio pela primeira vez, na maioria das vezes ela chora com saudades de casa, dos seus brinquedos e da família. Chora tanto que o colégio telefona para alguém ir buscá-la. Isso é saudade de casa! Todos nós, perante O Divino, somos crianças, não temos idade. Muitas vezes nos dá saudade da nossa verdadeira casa, do nosso Pai maior e, vendo tamanha maldade no mundo, acabamos fugido para o nosso verdadeiro Lar. O que há de errado nisso? Disse o Advogado de Defesa.

A Consciência: - Protesto!

- Por que o protesto?

- Por que nós estamos falando dos suicidas que largaram sua missão por amor demasiado a uma só pessoa.

- Protesto aceito, falou O Divino. Estava muito boa sua defesa, mas a Consciência tem razão. Não chegamos nos casos da saudade de casa. Mas confesso que não tinha pensado nisso. Com a palavra, o Advogado de Defesa.

- A nossa mais importante missão na Terra não é dar e receber amor? Estes pobres irmãos tinham muito amor! Mas não aguentaram a falta do amor da pessoa amada. O Divino sabe que sem amor nada pode funcionar. Não foi o Divino que disse que o amor é o combustível da alma e sem a alma não há vida? Sei que a promotora vai dizer que o amor é um sentimento altruísta e deve ser para todos, como Jesus Cristo nos ensinou. Mas também sei que o amor entre um homem e uma mulher pode se transformar em uma família, e que esta família pode gerar filhos, dando oportunidade para mais espíritos voltarem e cumprirem sua missão. Quando os filhos são gerados com amor, são mais fortes, mais equilibrados, mais altruístas. E quando o meu irmão se viu impossibilitado de formar uma família por falta de amor, mas não o seu amor, e sim o amor de quem ele escolheu para ter seus filhos, e não foi correspondido, ficou perdido, e quando estamos perdidos queremos voltar para casa, a nossa verdadeira casa, em busca de carinho, o mesmo carinho que uma pai ou uma mãe daria quando fosse apanhar seu filho chorando no colégio. Aí vem, nos corações, a saudade dos verdadeiros amigos que estão do outro lado, nossa verdadeira casa, ao lado dos irmãos elevados pela Luz Divina.

- E onde estava a Promotora Consciência no momento da dor? Parece que ela só chega atrasada. Na verdade, hoje em dia, ela faz doer mais do que dar a satisfação.
Com a palavra a Promotora.

- Quem disse que eu quero falar? Pode continuar, só quero ver até onde você quer chegar. Já me acusou, só falta dizer que sou culpada por tudo o que acontece com os seres humanos.

- Não é o meu propósito tirar você de mim e nem de ninguém. Você é verdadeira, faz brotar sentimentos nobres no ser humano. Só quero defender um lugar melhor para os meus irmãos suicidas que, na minha opinião, não foram nem covardes nem corajosos, simplesmente fizeram um ato errado, como vários outros que nós fazemos diariamente. Matamos os nossos mais nobres sentimentos, como a compaixão, a gratidão, a fraternidade, o amor.

Matamos os nossos valores a cada momento. Sou irmão de tantas nobres pessoas que passaram pela Terra, que nos ensinaram o equilíbrio e o amor ao próximo. Matamos o nosso lado bom, que a cada dia vai dando espaço ao ruim, deixando muitos dos meus irmãos como verdadeiros monstros. Isto sim é suicídio. O suicídio consciente de não ser verdadeiro, de matar a esperança, os sonhos, de matar a magia de ver uma criança sorrindo, de não reconhecer a sabedoria dos velhinhos... isso e muito mais fazemos diariamente, a toda hora. Estes são alguns dos suicídios que praticamos acordados, deixando a Consciência nubrada. E muitos não querem se limpar, deixando nubrada até a partida da vida na terra, sem saber para onde vão e sem saudade de casa, apenas apegados aos vícios da Terra.

- Podemos voltar ao caso em questão?, disse o Excelentíssimo Divino. Pode continuar, Advogado de defesa, mas não se entusiasme tanto e vá direto ao assunto. Confesso que estou entusiasmado.

- Bem, Vossa Excelência, O Divino e a Promotora Consciência, como podemos ver não foi o amor, e sim a falta de amor o motivo deles se suicidarem. Um ato de solidão, de saudade da casa do Pai, dos verdadeiros amigos, dos anjos, onde moram a paz o carinho e o amor.

- Mas, e os casos dos endividados, caro Advogado? Perguntou a Consciência.

- Nestes casos podemos ver como o mundo está neste momento, e peço permissão ao Excelentíssimo para que me deixe ligar a televisão, abrir os jornais, as revistas, ligar o rádio, ver a Internet. Como testemunhas, veremos um turbilhão de propagandas de consumo de vários tipos. Como um pai de família pode suportar tamanha pressão para realizar os desejos de consumo da esposa, dos filhos e familiares? O homem criou datas para um consumo específico, como se os dias não fossem normais e como se todo dia não fosse dia de cada um. Então, ele começa a comprar, comprar e comprar, até ficar endividado e, para pagar, começa a pegar dinheiro emprestado aos agiotas, aos amigos, aos bancos, até ser ameaçado. No seu subconsciente vem a saudade de alguém. E, desesperado, procura uma saída, mas a sociedade é cruel e, sem saída e como todos querem seu pagamento urgente, envergonhado de si próprio, se sentindo um derrotado, perdido, se mata. A saudade aperta no peito e ele quer voltar para a sua verdadeira casa, a Sua casa, Excelentíssimo Divino, querendo seu colo, seu carinho, seu amor, sua proteção. Não caracterizo isso como um suicídio, e sim como um fuga. Ele quer encontrar alguém que lhe dê crédito de amor.


Continua

BNN

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Conteúdo desenvolvido por: Bernardino Nilton Nascimento   
"Não seja um investigador de defeitos, seja um descobridor de virtudes"./ "Quando a ansiedade assume a frente, as soluções vão para o final da fila"./ "Quando os ventos do Universo resolve soprar a favor, até os erros dão certo". BNN
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