A política na vida, dentro e fora de nós

A política na vida, dentro e fora de nós
Autor Maísa Intelisano - [email protected]
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Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. – Caetano Veloso na música Dom de iludir

Uma sociedade que não é capaz de considerar e incluir as limitações de seus cidadãos é uma sociedade cruel e injusta. Uma sociedade doente, que, cega à sua própria doença, escolhe a quem favorecer ou privilegiar, com base em critérios, quase sempre, perversos e mesquinhos.

Não se trata de legislar, mas de mudar posturas. Leis proíbem ou obrigam, mas nem sempre conscientizam. E leis só são necessárias quando alguns se creem melhores do que outros ou onde existem cidadãos dispostos a perverter o bem maior, coletivo, em prol de seus próprios interesses individuais.

Se alguém não pratica uma ação porque é proibida por lei, ou só a pratica porque a lei determina, por receio de ser multado, incriminado ou mesmo só criticado, ele não está pensando na postura que a lei propõe e defende, mas apenas em si mesmo, advogando em causa própria. A lei constrange de fora para dentro, enquanto a postura brota naturalmente de dentro para fora, sem que seja necessária qualquer forma de constrangimento.

Fazer justiça não é o mesmo que praticar a igualdade. A igualdade só é justa numa sociedade onde todos os cidadãos são iguais. E bem sabemos que isso não existe. Não adianta dar oportunidades iguais para cidadãos diferentes em necessidades e capacidades, cidadãos diferentes por natureza e não por escolha.

Doentes mentais e pacientes psiquiátricos são cidadãos diferentes em necessidades, com limitações próprias de sua condição. Cidadãos que não escolheram ser como são, ou o que são, mas que o são assim mesmo. Cidadãos que o preconceito transforma em marginais, tratando-os com desconfiança e impedindo-os, muitas vezes, de estudar, trabalhar, produzir e se constituir como pessoas e cidadãos de verdade. Cidadãos de quem se pretende cobrar os mesmos deveres sem lhes oferecer os mesmos direitos e oportunidades.

Assim como não é possível exigir de um cadeirante que trabalhe e produza de maneira a obter a satisfação de suas próprias necessidades básicas sem lhe oferecer condições mínimas de se locomover para realizar seu trabalho, também não é possível exigir de um paciente psiquiátrico que trabalhe e produza sem enxergá-lo e validá-lo como é, considerando suas limitações e características emocionais e comportamentais próprias. Assim como o cadeirante precisa de condições especiais para se locomover, o paciente psiquiátrico precisa de parâmetros especiais de resiliência e inteligência emocional para criar, trabalhar e produzir. Não se trata de trazer o paciente psiquiátrico para a nossa ‘realidade’, mas de levar a nossa ‘realidade’ ao encontro da que ele experimenta.

O dia a dia de um paciente psiquiátrico já é bastante exigente por si só, obrigando-o a um desgaste constante ao lidar com os altos e baixos de sua condição, os efeitos colaterais dos medicamentos que precisa tomar, as limitações que sua condição impõe. E não é justo que a isso também se acrescente preconceito, marginalização, vergonha, medo ou qualquer outra coisa que possa agravar ainda mais a sua situação.

É preciso entender que o paciente psiquiátrico não é mau caráter, nem indolente ou perverso: ele apenas tem um funcionamento interno diferente do que ocorre com a maioria das outras pessoas. Ele não é insensível ou desprovido de inteligência emocional: ele apenas funciona num contexto próprio de emoções e pensamentos que, quando compreendidos e validados por quem está à sua volta, se tornam perfeitamente administráveis. No entanto, ao tentar se inserir numa sociedade, muitas vezes, mesquinha e individualista, esse paciente ainda é obrigado a lidar com o preconceito e o medo das outras pessoas que, sem entender o que se passa com ele, preferem rejeitá-lo e isolá-lo, reduzindo-o a um ‘cidadão de segunda categoria’, o que o leva a se sentir incapaz e inferior, gerando ainda mais sofrimento e doença e, portanto, agravando sua condição médica.

Essas pessoas, esses cidadãos diferenciados, os pacientes psiquiátricos, são seres humanos heroicos, dotados de uma força interna impressionante, capazes de se reinventar e superar todos os dias para dar conta de viver e circular em nossa sociedade, feita para gente normal. E nós, considerados ‘normais’, temos muito a aprender com eles se permitirmos que convivam conosco como podem, aceitando-os como são, deixando que se mostrem sem medo ou vergonha, amando-os e respeitando-os pelo que são: SERES HUMANOS.

 


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Conteúdo desenvolvido por: Maísa Intelisano   
Psicoterapeuta com formação em Abordagem Transpessoal, Constelações Familiares, Terapia Regressiva, Florais de Bach e Reiki II, é também tradutora e revisora; palestrante e instrutora em cursos sobre espiritualidade e mediunidade; e fundadora e presidente do Instituto ARCA de Mediunidade e Espiritualidade.
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