A chave da questão

Autor Marco Moura - [email protected]
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No budismo, questionar é uma ferramenta fundamental. Muitas doutrinas não dão espaço para questionamentos, não permitindo que os seguidores tenham dúvidas a respeito da absolutez dos ensinamentos. Já Buda, disse o contrário: "Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e beneficio de todos, aceite-o e viva-o".

O questionamento abre a mente para inúmeras possibilidades, enquanto a certeza fecha. Uma questão que incite a investigação criativa é muito melhor do que uma resposta com argumentos que ponham fim a uma busca autêntica.

Nós, seres humanos, costumamos confiar demais em nossas percepções. Acreditamos em nossos olhos e em nosso entendimento lógico como se fossem parâmetros absolutos de veracidade. A razão é o nosso ponto final para qualquer questão. Se um experimento passa pelo filtro dos nossos olhos (vi com meus próprios olhos!) e pelo filtro de nosso raciocínio lógico (faz todo o sentido!), então concluímos a questão. Não há mais nada o que fazer. Somos bastante científicos, mas infelizmente (na verdade, felizmente) a ciência sempre acaba trazendo novos conhecimentos que sobrepõem verdades antigas. Ou seja, nenhum conhecimento está concluído jamais.

Nossas verdades individuais estão assentadas sobre verdades coletivas. Por exemplo, para mim é uma verdade que a maçã é uma fruta muito saborosa. A minha verdade individual é que o gosto da maçã é bom. Outras pessoas podem não gostar, isso é algo pessoal.

A verdade coletiva está presente (1) na linguagem, (2) na concepção do significado de cada palavra, (3) na consistência da experiência segundo a percepção humana e por aí vai.
1) Quando eu me refiro a algo por meio da palavra, eu utilizo a estrutura codificada de uma língua específica. É uma classificação convencional, um nome que designa um fenômeno em particular do qual cada pessoa tem seu próprio entendimento.
2) O significado é dependente do contexto. A representação mental dos objetos é gerada a partir do conhecimento interno fruto da experiência pessoal e também externo fruto do aprendizado através dos pais, professores, sociedade, google etc. A maçã tem um significado atrelado à percepção particular do indivíduo na sua experiência em relação a isso e também atrelado a todas as concepções aprendidas sobre essa fruta. Em outras palavras, independente da maçã física, existe em sua mente uma noção genérica de maçã.
3) O paladar da maçã é algo inerente ao mecanismo sensorial humano. A visão da maçã também, além de toda a percepção da experiência humana de degustar uma maçã. Para um pássaro, a experiência de comer uma maçã é muito diferente.

Todo o nosso conhecimento é subjetivo e parcial. Questionando, podemos sem dúvida aprimorar a nossa percepção de mundo e eliminar muitos "bugs" de conhecimentos que limitam o nosso viver. Ou nos atualizamos no curso da vida ou nos enrijecemos no comodismo de nossas verdades. Até que ponto vivemos em um mundo factual e não em um mundo de fantasia? Para que o conhecimento parcial não sobreponha a sabedoria intuitiva, é preciso reconhecer o quanto limitamos a percepção da realidade enquanto indivíduos, elaborando um mundo baseado em visões pessoais, e enquanto coletividade, onde a limitação da mente humana cria conhecimentos baseados na condição singular de uma espécie animal, o Homo Sapiens.

Marco Moura

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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Marco Moura   
Marco Moura conduz no Centro Dao de Cultura Oriental (metrô Ana Rosa, São Paulo) práticas voltadas ao desenvolvimento integral do corpo e da mente, por meio do Tai Chi Chuan, Qigong e Meditação Budista.
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