Embora o fenômeno de comunicação com o mundo dos espíritos seja tão antigo e tão disseminado e diversificado quanto a própria humanidade, a palavra médium, com o significado que lhe atribuímos hoje, só foi cunhada por Allan Kardec em 1861, quando da publicação de O Livro dos Médiuns, em que, no capítulo XIV, no item 159, ele afirma:
“Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo, não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns”.
Tirada do mesmo termo em latim, a palavra médium significa intermediário, aquele que está entre, que serve de conexão ou meio de contato. E, para Kardec, na doutrina que chamou de Espiritismo, o termo passou a designar todo aquele que serve de ‘meio’ de comunicação entre o mundo dos espíritos (‘mortos’ ou desencarnados) e o mundo dos homens (‘vivos’ ou encarnados).
No entanto, mais adiante, no mesmo item, Kardec define, de forma mais clara, a quem, de fato, se deve aplicar o termo médium:
“Usualmente, porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva”.
De acordo com Kardec, portanto, devem ser chamadas de médiuns somente aquelas pessoas que, de forma mais intensa, ostensiva e clara, apresentam fenômenos que permitem a comunicação direta entre o mundo dos espíritos e o mundo dos homens.
A essa definição, ele acrescenta:
“Deve-se notar ainda que essa faculdade não se revela em todos da mesma maneira. Os médiuns têm, geralmente, aptidão especial para esta ou aquela ordem de fenômenos, o que os divide em tantas variedades quantas são as espécies de manifestações”.
A partir desse ponto, Kardec faz, então, extensa classificação da mediunidade, de acordo com os fenômenos que presenciou, os médiuns que encontrou e os efeitos que observou. Embora muito detalhada, essa classificação, no entanto, teve de se limitar aos conhecimentos da época e ao que Kardec pôde observar e registrar em seus apenas 15 anos de estudos, realizados no fim do século XIX.
Hoje, mais de 150 anos depois da publicação de O Livro dos Médiuns, já podemos afirmar que a classificação de Kardec se tornou imprecisa ou incompleta em relação aos médiuns e fenômenos que encontramos e observamos na prática mediúnica atual, pois alguns dos fenômenos e tipos de médiuns ali descritos já quase não são mais vistos, ou mudaram bastante na forma como se apresentam, e, em contrapartida, vários fenômenos e médiuns, hoje bastante comuns e facilmente observados em muitos grupos, especialmente universalistas ou de outras linhas que não seja o Espiritismo, não encontram ali sua descrição, deixando no vazio muitas pessoas que, objeto de fenômenos que não compreendem e para os quais não encontram explicação, se sentem, muitas vezes, perdidas e assustadas.
Ao longo dos quase 40 anos de minha própria prática mediúnica e mais de dez anos ministrando cursos de orientação e formação de médiuns, recebi relatos e observei fenômenos que ainda não encontram, na literatura especializada, seu registro e descrição, mas que são cada vez mais comuns entre aqueles que podemos chamar de médiuns ou sensitivos.
Abaixo, nomeio e descrevo os mais comuns, de acordo com minha experiência e observação.
Mediunidade Olfativa
Capacidade de captar odores astrais, do plano mais sutil, que só o médium percebe e que, em geral, estão relacionados à qualidade da energia do ambiente ou dos espíritos presentes.
Embora existam alguns relatos dessa faculdade em alguns livros, eles estão sempre relacionados a espíritos de luz, mentores e amigos espirituais mais elevados, que costumam exalar perfumes e odores agradáveis bem característicos de sua presença, sendo possível, inclusive, identificá-los por esse meio.
Nessa categoria, podemos citar:
1. Rosas ou flores – característico de espíritos de luz muito elevados, de várias linhas.
2. Incenso – proveniente de espíritos de luz, em geral ligados a rituais de matriz africana ou hindu.
3. Tabaco queimando – como charuto ou cachimbo, em geral relacionado a espíritos de luz ligados a rituais de matriz africana, como pretos velhos e caboclos.
4. Éter – característico da presença de grupos de médicos e enfermeiros espirituais, e equipes de cura do astral.
5. Ervas, mato ou terra molhada – relacionado a protetores e guias xamãs de várias linhas.
6. Água do mar ou maresia – espíritos de luz ligados a essa força da natureza.
7. Ozônio (‘cheiro de chuva’) – característico de liberação e manipulação de ectoplasma no ambiente, para modelagem de instrumentos e objetos, ou para tratamento de espíritos em sofrimento.
No entanto, ambientes e espíritos em desequilíbrio também apresentam odores característicos, sempre desagradáveis, os quais também podem ser percebidos pelos médiuns e usados para identificar espíritos ou determinar suas condições emocionais, espirituais ou energéticas, e também para perceber condições de contaminação energética em ambientes.
Nessa categoria, os odores mais comuns são:
1. Borracha queimada ou madeira mofada – decorrente de espírito recém-desencarnado, ainda em processo de desintegração de seu duplo etérico, envoltório semidenso que liga o corpo físico ao corpo astral.
2. Fossa, esgoto, fezes ou ‘enxofre’ – energia escura, proveniente de espíritos ou processos relacionados à magia pesada.
3. Álcool – presença de espírito alcoólatra no ambiente.
4. Carniça ou carne queimada – proveniente de espírito desencarnado ainda ligado, energética ou psicologicamente, ao corpo físico em putrefação.
5. Terra úmida ou mofada – decorrente de espírito desencarnado ainda preso, energética ou psicologicamente, ao túmulo ou ao caixão.
Também já observei outros odores e até sabores astrais em manifestações mediúnicas, sempre relacionados a situações muito específicas de alguns espíritos, como cheiro de comida, roupa passada, madeira natural, creolina, produtos químicos (como num caso de resgate a espíritos que desencarnaram num acidente numa indústria química), maconha ou cigarro. Essas percepções podem ser muito úteis num trabalho mediúnico e devem ser sempre observadas e consideradas com atenção, para facilitar o atendimento e o encaminhamento de espíritos em estado de perturbação.
Mediunidade Tátil
Capacidade de sentir e identificar, pelo tato físico, a presença de espíritos ou energias. As sensações podem ser agradáveis ou desagradáveis, dependendo do grau de elevação ou perturbação em que estejam o espírito ou o ambiente.
Entre as sensações táteis positivas, podemos encontrar:
1. Agulhadas – descargas energéticas promovidas por espíritos de luz, para facilitar o transe ou a liberação de energias.
2. Ardência nos olhos e/ou lacrimejamento – atividade intensificada do chacra frontal, provocada por espíritos de luz.
3. Sensação de inchaço de partes ou do corpo todo – provocada por espíritos de luz, para soltar os corpos sutis e facilitar o transe.
4. Cócegas leves ou formigamento – movimentação energética promovida por mentores, para facilitar o transe ou a doação de energias.
5. Espasmos leves – descargas energéticas decorrentes da liberação de ectoplasma.
6. Pressão interna na nuca, no peito, na testa ou no alto da cabeça – abertura e ativação dos chacras dessas regiões, provocada por mentores, para facilitar o transe.
7. Sensação de respingos ou de líquido escorrendo pela pele – doação intensa de ectoplasma para trabalhos de assistência.
8. Zumbido nos ouvidos – intensificação da vibração da glândula pineal, para facilitar o transe.
9. Vibração interna ou próxima à pele – aceleração da vibração e da circulação de energias pelo duplo etérico, para facilitar o transe e a liberação de energias.
10. Entupimento dos ouvidos ou salivação aumentada – doação intensa de ectoplasma.
Entre as repercussões táteis negativas, as mais comuns são:
1. Coceira, ardência ou queimação da pele – aproximação de espírito em profundo sofrimento.
2. Pressão externa na nuca, no peito, na testa, no alto da cabeça ou na região do estômago – ataque de espírito desencarnado perturbado ou mal intencionado.
3. Suor frio – vampirismo energético, intencional ou não.
4. Dores de qualquer tipo – reflexo de dores sentidas por espíritos em sofrimento físico.
5. Pontadas – dolorosas ou não, relacionadas a ataques espirituais mal intencionados.
6. Calafrios – aproximação de entidade perturbada, em sofrimento ou mal intencionada.
Outras sensações mais específicas já foram observadas, positivas ou negativas, tais como tremores, enjoo, tontura, arrepios, descargas pela coluna, choques na nuca, alterações no tato das mãos (pele aveludada, úmida ou fria; formigamento). Essas sensações são neutras e devem ser analisadas em conjunto com outras percepções, táteis ou não, para avaliar a qualidade das energias ou dos espíritos presentes.
Mediunidade de Empatia
Capacidade de captar aspectos emocionais, físicos e mentais, de pessoas, espíritos e ambientes, às vezes com somatização. É uma variação mais ampla e completa da psicometria.
Nessa faculdade, o médium é capaz de perceber e interpretar sentimentos, emoções, sensações físicas e pensamentos de pessoas encarnadas e desencarnadas, de forma intensa e clara, como se fossem seus próprios. O médium não incorpora, nem perde a consciência durante o fenômeno, e é capaz de expressar, demonstrar e narrar, com precisão, o que está sentindo.
Pode vir acompanhada de imagens mentais, relativas ao espírito em atendimento e modificações físicas e metabólicas, como tremores, tonturas, taquicardia, enjoo, frio ou calor, espasmos, dores, falta de ar, tosse, contrações etc..
Na maioria das vezes, é usada para situações de assistência a encarnados e desencarnados, mas, eventualmente, pode também se manifestar na percepção e identificação de entidades de luz.
Triangulação Mediúnica
Trata-se de a comunicação se dar, ao mesmo tempo, por dois médiuns diferentes, fenômeno muito útil em grupos, tanto para a manifestação de espíritos de luz, como para o atendimento de espíritos em desequilíbrio.
Muitas vezes, a energia do espírito comunicante é muito elevada ou muito pesada para um médium só. Essa energia é, então, ‘compartilhada’ por dois médiuns, para que a manifestação possa ocorrer de forma segura para o médium por quem a entidade está se comunicando. Nesse caso, um dos médiuns transmite o conteúdo da comunicação e o outro sente, manifesta e ‘drena’ os efeitos mentais, emocionais e energéticos da entidade, complementando o quadro ou a mensagem.
Outras vezes, o conteúdo da manifestação não fica claro para o médium por quem está se dando a comunicação e o segundo médium entra no circuito para ‘decodificar’ a mensagem, de forma que fique mais fácil de ser transmitida pelo médium por quem está ocorrendo o fenômeno. Nesse caso, o segundo médium funciona como um ‘dicionário’ ou uma ‘biblioteca’, de onde saem informações adicionais que facilitam o entendimento para o primeiro médium.
Em outras vezes ainda, o médium por quem a entidade deseja se comunicar não está em condições físicas, emocionais ou energéticas de receber a comunicação. Nesse caso, é possível pedir a outro médium que ‘puxe’ a manifestação para si, com a ajuda do primeiro médium, evitando desgaste ou desequilíbrio desnecessários.
Psicofonia ou Incorporação no Astral
É a ‘incorporação’ fora do corpo físico, durante o desprendimento do sono, tanto de espíritos em desequilíbrio, para assistência, como de espíritos elevados, para orientações, mensagens ou trabalhos.
Sabemos que nosso perispírito, embora muito mais sútil, é também composto de matéria. Sabemos também que a densidade do perispírito depende do nível de consciência e maturidade espiritual do espírito, de forma que há perispíritos mais e menos densos.
Sendo assim, da mesma forma que podemos ‘incorporar’ com nosso corpo de carne, podemos também ‘incorporar’, com o nosso corpo astral ou perispírito, espíritos que se encontram em padrões vibracionais diferentes do nosso.
Muitos médiuns sonham que ‘incorporaram’ durante o sono. Mas não se trata de sonho e, sim, de atuação mediúnica legítima, vivida no plano espiritual. Espíritos perturbados são ‘incorporados’ para assistência. E espíritos de luz são ‘incorporados’ para transmissão de mensagens e orientações. E, em ambos os casos, os médiuns são auxiliados por mentores, que os orientam durante o fenômeno.
Acoplamento de formas-pensamento
Trata-se da ‘incorporação’ de formas-pensamento relativas à pessoa, espírito ou ambiente em atendimento. Usada para limpeza, socorro ou desobsessão, drena ou desintegra as energias que constituem ou alimentam a forma-pensamento.
Nesse caso, como não se trata de espírito, não há uma comunicação propriamente dita, não há diálogo ou interação, pois não há uma inteligência ou consciência se manifestando. O que se observa é que o médium assume características corporais e energéticas da forma-pensamento, com se a ‘vestisse’, permitindo que seja gradativamente desintegrada ou drenada para locais no astral onde a energia pode ser transformada.
Mediunidade entre Vivos
‘Incorporação’ de espírito encarnado, em processo temporário de desprendimento do corpo físico, seja pelo sono ou qualquer outro fator, inclusive coma ou outros problemas de saúde.
Quando uma pessoa sai do estado de vigília e o corpo perde a consciência, seu espírito se desprende e se manifesta com o perispírito no plano astral, exatamente como qualquer espírito desencarnado, no fenômeno conhecido como projeção astral, viagem astral ou projeção da consciência. A única diferença é que o espírito encarnado mantém um vínculo energético com o corpo físico, conhecido nos meios espiritualistas como cordão de prata, e os espíritos desencarnados ficam totalmente livres.
Durante o desprendimento do corpo físico, é possível para o espírito encarnado ‘incorporar’ num médium também encarnado durante um trabalho mediúnico, para atendimento e orientação. Como o afastamento do corpo físico pode facilitar a compreensão e a percepção de determinados aspectos, bem como melhorar a absorção de alguns tipos de energias, esse recurso pode ser usado para atendimentos a encarnados em estados de extremo enfraquecimento físico ou perturbação.
Acoplamento Simultâneo de Dois Espíritos
O médium percebe, sente e trabalha com dois espíritos ao mesmo tempo.
Se pensarmos que o médium é uma ponte, uma conexão entre planos de padrões vibratórios diferentes, veremos que é perfeitamente possível que o mesmo médium conecte dois espíritos que precisam se comunicar entre si, mas se encontram muito distantes em termos de vibração.
Nesse caso, o médium funciona quase como um ‘telefone’, por onde ocorre o contato, o diálogo, a orientação. Ele permanece consciente e acompanha toda a comunicação, colaborando com pensamentos e sentimentos equilibrados, enquanto as duas entidades trocam impressões.
Em alguns casos, o médium pode manifestar o espírito em desequilíbrio, enquanto, ao mesmo tempo, fica também sob a influência de um mentor ou espírito de luz, que orienta esse espírito.
Esse fenômeno é registrado também em rituais de Umbanda, onde médiuns podem receber o que é chamado de entidades ‘cruzadas’. Nesse caso, a entidade que se manifesta é uma, mas o médium sente e trabalha também sob a interferência de outra entidade ou energia. Isso acontece entre entidades de luz que precisam atuar em conjunto num mesmo trabalho ou atendimento, para reforçar a energia ou somar qualidades que, às vezes, não se encontram juntas numa única entidade.
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Texto revisado
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Psicoterapeuta com formação em Abordagem Transpessoal, Constelações Familiares, Terapia Regressiva, Florais de Bach e Reiki II, é também tradutora e revisora; palestrante e instrutora em cursos sobre espiritualidade e mediunidade; e fundadora e presidente do Instituto ARCA de Mediunidade e Espiritualidade. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |