O anoitecer, desde o por do sol, me deixava melancólica, com gosto de despedida, de perda de alguma coisa. E logo depois me via no meio da escuridão da noite, que nunca me pareceu acolhedora.
Como viemos ao mundo para mudar, reconheço sempre as minhas transformações, pois acho importante estar ciente delas. De uns tempos para cá, comecei a encarar a noite como propiciadora de um repouso muito necessário, de uma oportunidade ímpar de ficar mais em contato comigo mesma, já que, para a maioria das pessoas, é tempo de deixar os trabalhos que se realizam durante o dia e voltar para casa, ou seja, para si mesmos.
A noite nos propicia tempo para refletirmos sobre tudo que vivenciamos durante o dia que se foi, para sonharmos com o dia seguinte e até o planejarmos, para decidirmos se precisamos fazer mudanças no caminho.
Também nos presenteia com o silêncio, com o aconchego de um espaço que nos abriga e nos permite descansar e sermos exatamente como somos.
Enfim, cheguei à conclusão de que a noite, todos os dias, nos incentiva a um contato maior e mais profundo conosco mesmos.
Enquanto o dia nos coloca ao lado dos amigos, dos companheiros de trabalho, dos familiares, a noite nos oferta uma oportunidade de nos encararmos com mais tranquilidade, num mergulho no nosso Eu interior, que talvez estivesse esquecido, meio que apartado do Ego atuante.
Compreendi, então, que talvez justamente por isso a noite desenvolvesse em mim um pouco de medo, uma sensação desagradável que não conseguia, até então, compreender.
Na noite que tive este insight, percebi também que ela estava sendo muito amiga, na medida em que me dava um tempo precioso para que pudesse, de forma mais tranquila, me sentir e me acolher.
Normalmente não recebo telefonemas naquele horário avançado, o barulho das ruas é bem menor, os estímulos de um modo geral diminuem muito e eu tenho mais tempo para mim, para pensar sobre tudo que durante o dia me aconteceu, podendo receber as intuições oriundas do meu interior e que pontuam o meu caminho, mostrando onde errei e o que preciso perceber, onde é importante mudar.
E o bom é que a partir de então, a escuridão da noite não me atemorizou mais. Passei a dormir com as cortinas fechadas sem que fosse um problema.
Como tudo nesta vida criada pelo Amor Maior é perfeito, o dia precisa da noite para que seja mais bem aproveitado. Não apenas para o descanso do corpo, mas também para o fortalecimento de nossas almas, através de um maior contato como o nosso Eu Sou.
E a maravilha é que tudo nos chega no tempo certo, no momento possível e oportuno. E não adianta querermos apressar os acontecimentos apenas porque nossa razão nos apontou o melhor a ser feito. É preciso que haja uma preparação, a necessária compreensão, uma visão um pouco diferente das coisas.
Desde então a noite deixou de ser pra mim uma oportunidade de me esconder, passando a ser uma chance de me revelar a mim mesma. Sem estresses, sem pressa, sonhando acordada, imaginando os passos que seriam necessários logo adiante, encarando-me.
Compreendo agora que não só a luz nos revela algo importante, mas a falta dela pode nos conduzir à busca interior de forma mais plena.
Sem conversas externas, sem encontros, sem obrigações que nos prendem numa rotina de todos os dias, o tempo noturno nos dá a liberdade de sermos quem somos realmente, de conversarmos conosco mesmos, de nos conhecermos melhor.
É claro que esta foi uma visão da noite que ainda não tinha se revelado para mim. Talvez para você não venha a ser assim, mas como esta mudança me impactou bastante, quis partilhá-la, como sempre faço quando algo novo acontece na minha vida.
Será que isto faz algum sentido para você também?
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Socióloga, terapeuta transpessoal. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |