Antes de mais nada, de que se trata a meditação? É um treinamento mental, correto? Uma pergunta: com essa prática, tornamos a mente mais ativa ou mais passiva? Ela trabalha mais ou trabalha menos? Gera mais ou menos pensamentos?
Consensualmente, sabemos que a ideia é que a meditação deve diminuir nossos pensamentos, logo, ela estaria diminuindo nossa atividade mental. Coerente, mas incorreto. Um dado científico: em pesquisas realizadas com monges budistas em meditação, é possível constatar a elevação da atividade cerebral a níveis surpreendentes. Há um aumento considerável na corrente elétrica de ondas gama, de frequência elevadíssima, no cérebro desses meditadores experientes. O que acontece é que a atividade no cérebro deles é organizada, ou seja, os neurônios operam em sincronia, de modo que a mente esteja totalmente alerta e atenta à experiência do momento presente. Percebeu? Ao momento presente!
A atividade mental comum é bastante diferente. Ao invés de estarmos centrados no momento presente, alimentamos pensamentos que transitam entre os registros de momentos vividos (passado) e a conjectura de situações que ainda não aconteceram (futuro). As atividades dispersivas da mente utilizam o potencial energético do cérebro de modo fragmentado. Áreas do cérebro relacionadas a emoções conflitantes são facilmente ativadas por pensamentos dispersivos, uma vez que a natureza instintiva do cérebro é um tanto quanto negativa, pois para garantir a sobrevivência da espécie, é programada para avaliar riscos e perseguir recompensas. Consequentemente, durante grande parte do tempo, estamos tensionados oscilando entre o desejo e a aversão. Para sermos menos animais e mais humanos, é preciso treinarmos o cérebro adequadamente trazendo a atenção ao momento presente.
Quando a mente não é treinada, ela não tem um centro. O que seria ter um centro? É ter um referencial para onde voltar, um ponto de estabilidade e de equilíbrio. Você tem um pensamento, depois volta a atenção ao centro. Você tem uma emoção, mas ela passa e você volta ao centro. Se você não tem centro, os pensamentos e emoções te arrastam e você não tem para onde voltar. Tenta controlar a mente, mas ela se torna ainda mais agitada. A mente se perde do corpo.
Para termos um centro, é preciso sabermos nos conectar com o momento presente. O centro é a capacidade de conexão com o momento presente. Como nos conectamos com o presente? Por meio do corpo, ou melhor, da nossa base sensorial. Na meditação, utilizamos um dos nossos sentidos, sendo mais frequente o sentido do tato. E o objeto tátil que fica à nossa disposição 24 horas por dia é a respiração. A respiração é um ótimo centro para a atenção, um ponto propício para a mente se conectar com o corpo. A atenção contínua nesse ponto perceptível atenua a atividade dispersiva da mente. Em outras palavras, a energia que estaria sendo empregada em pular de pensamento em pensamento, agora é direcionada para um foco único no corpo. Da oscilação entre passado e futuro, ela encontra o centro do presente. A energia mental, agora com uma direção bem definida, vai ganhando nitidez. Fisicamente, os neurônios vão entrando em sincronia e carregando o cérebro com energia útil. O cérebro, com suas infindáveis conexões, vai sendo remodelado pouco a pouco.
Essa operação adequada do cérebro requer treinamento sistemático. Embora o resultado se dê a longo prazo, seus efeitos começam a ser percebidos em poucas semanas. É fundamental fazermos um reconhecimento rotineiro do nosso centro. Pequenos instantes durante o dia lembrando-nos de voltar a atenção ao corpo, seja na sensação do ar passando pelas narinas ou na sensação de expansão e recolhimento do abdômen. Você vai mostrando ao cérebro que existe um centro, uma residência da mente no corpo. E para isso, o corpo deve ser um local onde a mente se sinta bem-vinda. É muito importante aliviar o corpo de tensões e aprender a relaxar. Exercícios físicos, especialmente algo como o Yoga ou o Tai Chi Chuan, que já são orientados ao trabalho da união entre corpo e mente, ajudam muito.

Como última recomendação, além da prática individual, também é interessante praticar em grupo eventualmente. Templos e centros de meditação oferecem um ambiente propício onde a energia coletiva do grupo é um incentivo a mais para a sua própria prática. Além disso, a troca de experiências entre meditadores mais antigos e novatos também é algo muito saudável.
Marco Moura





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Marco Moura conduz no Centro Dao de Cultura Oriental (metrô Ana Rosa, São Paulo) práticas voltadas ao desenvolvimento integral do corpo e da mente, por meio do Tai Chi Chuan, Qigong e Meditação Budista. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |