Outro aspecto a ser considerado nesta tendência ao perfeccionismo é a nossa extrema sensibilidade a críticas. Devido ao fato de que processamos tudo com mais profundidade, podemos remoer muitas e muitas vezes uma crítica recebida e ter dificuldade para nos perdoarmos por um erro. Daí a tomarmos a decisão de revisar tudo que fizermos vezes sem conta, a fim de assegurarmos que não vamos cometer nenhum erro, é apenas um pequeno (embora perigoso) passo.
É claro que não há nada de errado em querer fazer as coisas bem-feitas. É uma aspiração louvável e parte de outra das características comuns a muitos de nós que é a de sermos pessoas conscienciosas. O problema nasce quando esse querer fazer bem-feito se transforma em querer ser perfeito(a), se convertendo numa espécie de obsessão que lhe impede de estar em paz e satisfeito(a) consigo mesmo(a) e com suas realizações.
E como saber a diferença?
Cada pessoa é diferente e cada momento de vida também. Se estamos tratando de aprender uma nova habilidade, por exemplo, é natural que nossa insegurança nos torne mais perfeccionistas, e assim por diante. Porém, falando de um modo geral, existem algumas situações/sentimentos aos quais deveríamos prestar atenção, encarando-os como sinais de alerta de que estamos caindo na armadilha do perfeccionismo, entre eles:- Dificuldade em largar uma tarefa e relaxar;
- Reprovar-se duramente cada vez que comete um erro e considerar cada erro como um fracasso pessoal;
- Refazer muitas vezes um trabalho sem se decidir a declará-lo pronto;
- Exibir um pensamento de tudo ou nada: ou algo é perfeito, ou é um fracasso;
- Não conseguir dormir direito pensando numa tarefa;
- Não cuidar bem de si mesmo(a), por “falta de tempo”;
- Duvidar de si mesmo(a) e sentir-se um “impostor(a)”;
- Comparar-se frequentemente às outras pessoas, julgando-se inferior a elas.
O que se esconde por trás dessa busca pela perfeição? Creio que muitos de nós reconhecerão o sentimento de “não ser bom o suficiente” como um dos fatores que levam a este esforço. Trata-se de uma sensação de “imperfeição interna” que procuramos consertar (ou ocultar) através da imagem de perfeição que mostramos ao mundo. É então que, sem nos darmos conta, criamos um ideal subjetivo que determina como deveríamos ser. Tendo essa imagem idealizada como referência passamos a julgar todo o nosso comportamento a partir da proximidade ou afastamento desse padrão. Ou, dito de outra maneira, passamos a exigir que tudo o que façamos, digamos ou realizamos esteja de acordo com essa imagem irreal. Para tentar alcançar este ideal de perfeição, desenvolvemos uma autoexigênciaferoz. Uma espécie de juiz interior que está sempre apontando mesmo o menor dos nossos “defeitos”, guiado por um imperativo moral que se expressa em nossa consciência através de frases como “tenho que” “devo” “não devo”, etc.
Este mesmo padrão de exigência acaba sendo projetado sobre as pessoas com quem nos relacionamos, trazendo uma marca de rigidez e inflexibilidade para nossas relações pessoais e profissionais. Exigência e autoexigência caminham juntas.
Uma vez que, como PAS somos profundamente empáticos e bastante bem-educados, é possível que você não perceba este aspecto da exigência. “Sou muito exigente comigo mesmo, mas não com os outros”, me dizem, por vezes, meus clientes. Entretanto, basta investigarmos um pouco mais a fundo, indagando sobre seus pensamentos e julgamentos a respeito do comportamento das pessoas próximas, para se revelar o verdadeiro iceberg de críticas e reprovações que se esconde por baixo de um comportamento acolhedor. E por que isso acontece? Porque a exigência é uma atitude absolutista: uma vez que nos submetemos a esse padrão de (suposta) excelência se torna quase impossível não avaliarmos o mundo a partir dele. É como se usássemos constantemente uma lupa que amplifica os erros e as falhas, os nossos e os alheios. E que nos impede de nos sentirmos bem com nossa vida.
Bom é bom o suficiente
É óbvio que não convém nos esgotarmos perseguindo algo que é, por definição, inalcançável. Como diziam os gregos antigos, “a perfeição pertence aos Deuses” e não a nós humanos. Mas o que podemos fazer para sair dessa armadilha? Apresento algumas sugestões que podem lhe ajudar a viver com mais leveza.
- Aceite suas limitações. Ninguém é perfeito e todos nós temos forças e fraquezas. Isso não quer dizer que você não deve tentar se superar. Você sempre pode melhorar ou aprender algo novo. Mas há momentos em que vai ter que se contentar com o que já sabe e o com que pode fazer com isto. Não perca muito tempo preocupando-se com o que (ainda) não pode fazer.
- Foque no que é realmente importante. Qual é o seu propósito? Ser perfeito e ter um resultado perfeito ou realizar bem (e concluir) seu trabalho? O perfeccionismo normalmente equivale ao oposto de um resultado no tempo certo, devido à incerteza que vem com ele e que leva a atrasos.
- Comece. Mesmo se não tiver total certeza do que está fazendo, tente. Você pode se sair melhor do que esperava ou a tarefa pode ser mais fácil do que imaginou. Mesmo se a sua primeira tentativa não lhe levar a lugar algum, talvez você encontre alguém a quem perguntar. Ou então, pode descobrir por conta própria. Na maioria das vezes, você vai descobrir que as barreiras que imaginou pareciam maiores do que realmente eram.
- Imponha um limite de tempo. Algumas coisas, como cuidar da casa, nunca terminam. Não importa quão bem você limpe o chão hoje, amanhã ele estará sujo. Ao invés de passar horas esfregando, defina um limite de tempo e limpe por aquele tempo. O lugar ainda assim vai estar limpo e você vai trabalhar mais rápido sem ficar obcecado com os detalhes. Ao trabalhar em um projeto mais longo ou detalhado, um prazo, mesmo que autoimposto, pode fazer com que você inicie e continue a trabalhar sem se preocupar demais com os detalhes. Divida uma tarefa grande em partes menores ou em objetivos intermediários. Atenção!!! Quando estabelecer prazos, seja realista e leve em consideração o seu traço.
- Crie um ambiente de aprendizagem onde você sinta que pode cometer erros. Ensaie. Pratique. Experimente. Pergunte-se antes do verdadeiro teste. Escreva um esboço. Durante estes processos mande seu crítico interior sair para passear, deixando-o(a) livre para aprender e experimentar sem a preocupação de não poder errar.
- Experimente coisas novas. O método comumente aceito nem sempre é o melhor e nem sempre funciona. Esteja inventando algo ou aprendendo um novo idioma, você vai começar cometendo erros. Na verdade, quanto mais nova e incomum for a sua atividade, mais você terá que aprender através de tentativa e erro. Acostume-se a aprender com os seus erros.
- Conscientize-se de que nem sempre existe um jeito certo. Para muitas atividades, especialmente as que exigem um elemento criativo, não existe uma maneira certa, uma resposta certa. Se você for avaliado, será em um nível subjetivo. Você não vai conseguir agradar todos que lerem seu texto ou verem sua pintura, por exemplo. Manter um público em mente ajuda a dar direcionamento, mas você deve se permitir um maior grau de expressão pessoal e estilo.
- Reconheça a beleza das coisas imperfeitas. Harmonias dissonantes em uma música podem criar um clima de tensão ou drama. Folhas deixadas no chão separam as raízes das plantas e se decompõem para nutrir o solo. Um pequeno “defeito” pode tornar um rosto mais expressivo, as imperfeições de uma peça de artesanato a tornam única e diferente de algo produzido em série……
- Reflita sobre seus fracassos. Foram mesmo tão graves? Falhar é algo relativo. Talvez você tenha achado que os biscoitos ficaram meio passados, mas todos comeram. Quem se beneficia do seu trabalho se importa mais com o resultado e pode nem perceber o processo que levou a tal. Pense no que você aprendeu com suas falhas e como isto pode lhe ajudar a fazer melhor da próxima vez.
- Reflita sobre seus sucessos. Pense nas coisas nas quais você foi bem-sucedido(a). Talvez não tenham sido perfeitas, mas ainda assim você alcançou o objetivo. Provavelmente, você experimentou alguma incerteza no processo, mas mesmo assim seguiu em frente. Suas preocupações podem lhe manter longe de problemas, mas não deixe que elas lhe impeçam de agir. Ao invés de fazer as coisas com perfeição, faça as coisas de forma bem-sucedida.
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Beijos e bênçãos e até o próximo mês.
Rosalira dos Santos
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Life Coach, especializada em Pessoas Altamente Sensíveis (PAS). Criadora do "Programa Ame sua Sensibilidade". Apaixonada por mitologia, religiões antigas, gatos, florais e fotografia. Mas, acima de tudo uma PAS, como você. Para saber mais sobre a alta sensibilidade, visite meu site: www.amesuasensibilidade.com.br E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |