“É principalmente a parentalidade que decide se a expressão da sensibilidade será uma vantagem ou uma fonte de ansiedade”.
Elaine Aron, PhD.
A pergunta acima é uma das que mais frequentemente eu recebo. Com a divulgação, ainda muito incipiente, sobre o fenômeno da alta sensibilidade no Brasil, muitas dúvidas persistem sobre o assunto e uma das mais comuns diz respeito as crianças altamente sensíveis (conhecidas na literatura pela sigla HSC – Highly Sensitive Child, ou em português, pela sigla CAS). Este é um assunto bastante complexo e reconheço que não é a minha especialidade. Entretanto, devido à sua importância e à necessidade de prestar alguns esclarecimentos aos pais decidi tratar do tema neste artigo.
O que é uma criança altamente sensível?
De acordo com a dra. Elaine Aron, uma criança altamente sensível é “uma das quinze a vinte por cento das crianças nascidas com um sistema nervoso que é altamente consciente e rápido para reagir a tudo”. Estas crianças são incrivelmente receptivas aos seus ambientes, quer se trate da iluminação, dos sons, cheiros ou do humor das pessoas em diferentes situações. Elas também costumam ser intelectual e emocionalmente dotadas, sendo muito criativas e demonstrando desde cedo uma compaixão genuína.
Uma das desvantagens é que estas crianças, intensamente perceptivas, tendem a se sentirem facilmente saturadas ou hiperexcitadas. E costumam ser muito afetadas por coisas como: multidões, barulhos, situações novas, mudanças súbitas e sofrimento emocional de outras pessoas ou animais, por exemplo. Ao contrário do que ocorre com as PAS adultas, as crianças altamente sensíveis não conseguem identificar e nem lidar com estas sensações. Por isso precisam de cuidados extras e de apoio de pais e professores para aprender a ver sua sensibilidade como uma força e se capacitar para explorar os seus aspectos positivos – como a percepção das sutilezas, a criatividade, a empatia, etc. – ao mesmo tempo que aprendem a equilibrar suas ricas e imaginativas vidas emocionais.
Retrato de uma Criança Altamente Sensível
Descrever os traços de comportamento mais presentes em uma criança altamente sensível não é uma tarefa fácil. Principalmente porque, como diz a própria a dra Aron, a maneira como a alta sensibilidade se expressa em cada criança pode variar profundamente, muitas vezes de forma extrema. Diz ela:
“Como as crianças são uma mistura de vários traços de temperamento, algumas CASs são razoavelmente difíceis – ativas, emocionalmente intensas, exigentes e persistentes – enquanto outras são calmas, voltadas para dentro e quase fáceis de serem criadas, exceto quando se espera que elas se juntem a um grupo de pessoas que elas não conhecem. Mas, sinceras e exigente ou reservadas e obedientes, todas as CASs são extremamente sensíveis ao seu ambiente emocional e físico”.
Para ajudar na identificação de uma criança como sendo altamente sensível, a dra Aron relaciona alguns dos atributos que ela considera mais característicos dessas crianças. De acordo com ela uma CAS:
Capta mais informações sensoriais do ambiente do que outras crianças. Crianças altamente sensíveis ouvem sons fracos, detectam cheiros sutis e notam detalhes em desenhos e arquitetura que as outras crianças ignoram. Elas podem achar certos alimentos muito saborosos, ou não suportarem usar certos tecidos. São também bastante hábeis na arte de decifrar a linguagem corporal dos adultos.
Processa as informações de uma maneira mais detalhada. Sua criatividade e intuição brotam dessa vida interior rica e profundamente reflexiva. Elas também apresentam uma tendência a fazer observações bastante precisas sobre as pessoas ou o meio ambiente e também costumam fazer perguntas sobre temas considerados muito “adultos” e possuem, de modo geral, um vocabulário considerado avançando para sua idade.
Tem uma forte empatia pelos outros. Crianças altamente sensíveis captam as emoções daqueles que as cercam e não suportam presenciar o sofrimento de alguém. Por conta da empatia sua pequena PAS pode chorar ao assistir um filme violento na TV ou se preocupar muito cedo com temas como ecologia e o bem-estar do planeta e dos animais, por exemplo.
Sente-se facilmente superestimulada. Em comparação com as outras crianças as crianças sensíveis cansam-se mais rapidamente e precisam de mais tempo de descanso e inatividade.
Pode ser propensa a crises súbitas ou colapsos. Estas crises são, muitas vezes precipitadas pela sobrecarga de informação ou pela intensidade emocional de uma situação. Uma simples brincadeira do colégio pode magoar profundamente uma CAS, levando-a às lágrimas. Situações que são um deleite para outras crianças – como um passeio no shopping ou uma festa de aniversário – podem rapidamente se transformar numa provação para uma criança sensível devido à sobrecarga sensorial.
Resumindo, as crianças altamente sensíveis percebem mais, refletem mais e sentem mais. E atingem seus limites mais rapidamente também.
Tá, mas como saber se meu filho(a) é altamente sensível?
Bom, como eu sempre digo não há como diagnosticar alguém, seja criança ou adulto, como sendo altamente sensível, simplesmente porque não existem protocolos de diagnóstico para algo que não é uma doença ou um transtorno. Mas, então, como saber?
Além das características descritas acima, uma boa maneira de identificar seu filho(a) como sendo ou não uma criança altamente sensível é se perguntar sobre a sua própria alta sensibilidade (ou a de outro parente próximo da criança), uma vez que, como sabemos, o traço da alta sensibilidade é herdado.
Outra maneira de saber é responder ao questionário “Seu filho é altamente sensível?”, elaborado pela dra. Elaine Aron, cujo link eu vou deixar disponível no final deste artigo. O teste também permite ter uma boa noção das características que são mais comuns às crianças altamente sensíveis ajudando você a entender mais sobre a sua CAS.
Por fim, e apesar da quase ausência de literatura disponível entre nós, é importante que você procure se informar o máximo possível sobre o tema da alta sensibilidade em geral e das crianças altamente sensíveis em particular. Quanto mais você compreende o traço, mais pode apoiar seu filho(a) e ajudá-lo(a) a viver bem num mundo que, de modo geral, não compreende a sua sensibilidade.
Dicas para ajudar a sua pequena PAS
Pais de crianças altamente sensíveis precisam estar particularmente atentos em função do grande desconhecimento existente sobre o traço, não apenas na sociedade em geral, como também entre médicos, professores, pedagogos, terapeutas e outros profissionais especializados. Outro obstáculo é o estilo de vida frenético da nossa sociedade – que está presente mesmo na rotina das crianças – e que pode deixar a sua pequena PAS em um estado constante de saturação ou hiperestimulação. Por tudo isso é extremamente importante que você possa lhe oferecer em casa o suporte que ela, talvez, não encontre em outros ambientes. Aqui vão algumas dicas dos especialistas:
Evite o excesso de estímulos: Muitas vezes menos é mais. Agenda lotada e uma serie sem fim de compromissos (mesmo que sejam festivos) não fazem bem a uma criança altamente sensível. Ela necessita de tempo e repouso para processar a informação recebida.
Estruture uma rotina: As PAS, em qualquer idade, não gostam de surpresas e imprevistos. Estruture uma rotina e siga-a.
Forneça tempo de inatividade: Crie um “cantinho da paz” com atividades silenciosas como livros para colorir, fones de ouvido com música suave ou livros para ler e encoraje seu filho(a) a usá-lo quando estiver se sentindo sobrecarregado(a). Um pouco de tempo de inatividade pode ser fundamental para ajudar uma criança sensível a recarregar as baterias
Ensine-a a identificar seus sentimentos: Crianças sensíveis geralmente demostram aos pais como se sentem através do seu comportamento. Ajude seu filho(a) a identificar seus sentimentos com palavras. Ter um nome para associar ao modo como está se sentindo o(a) ajudará a se comunicar melhor com você e reduzirá as crises de raiva ou de choro.
Ajude-a a lidar com a sua intuição e empatia: Crianças altamente sensíveis, assim como os adultos, tendem a internalizar e a querer resolver os problemas da família, dos amiguinhos e até do mundo em geral. Isso é irreal e as sobrecarrega. Ensine-a desde cedo que é responsabilidade de cada pessoa descobrir como lidar com as circunstâncias de sua vida.
Ensine seu filho(a) a lutar e se defender: Quanto mais velha, mais a criança deverá ser capaz de solucionar os próprios conflitos cotidianos. É preciso, é claro, respeitar os limites daquilo que ela pode (ou não pode) resolver sozinha. Mas é preciso também estar atento para evitar a superproteção e com ela a mensagem de que a criança é frágil e incapaz de lidar com os desafios, desde que adequado à sua idade.
Cuide bem das suas próprias necessidades: Pais sobrecarregados e estressados não são capazes de lidar adequadamente com as situações difíceis. Os pais devem transmitir calma e segurança para os filhos. Para isso é preciso que você também esteja se sentindo equilibrado(a). Cuide com especial atenção da sua autoestima: se você se sentir inferiorizado por ser altamente sensível, seu filho(a) sentirá o mesmo.
Lembre-se: Todos os pais cometem erros na educação dos filhos. Não se martirize por isso. Peça desculpas quando perceber que errou, mas não dramatize os seus erros e nem afrouxe as regras para compensar seu filho(a): as crianças, em especial as altamente sensíveis, percebem as suas inseguranças e sabem muito bem como manipulá-las.
Por fim, e falando a partir da minha experiência como uma mãe que criou um filho altamente sensível, eu gostaria de dizer que constitui realmente um privilégio poder desfrutar da troca e da cumplicidade oferecida por uma pequena PAS. E, se como diz a dra. Aron “todos os pais cometem erros” ninguém é mais generoso no ato de perdoá-los do que uma criança altamente sensível.
Como prometido, aqui está o link para o questionário elaborado pela dra. Aron para lhe ajudar a identificar se o seu filho(a) é ou não uma criança altamente sensível:
E, caso você sinta que precisa aprender mais sobre a alta sensibilidade para poder ajudar sua pequena PAS, clique neste link e assista às aulas gratuitas do meu curso online “Alta Sensibilidade e você: conheça e aprenda a lidar”
Beijos e bênçãos e até o próximo artigo.
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Life Coach, especializada em Pessoas Altamente Sensíveis (PAS). Criadora do "Programa Ame sua Sensibilidade". Apaixonada por mitologia, religiões antigas, gatos, florais e fotografia. Mas, acima de tudo uma PAS, como você. Para saber mais sobre a alta sensibilidade, visite meu site: www.amesuasensibilidade.com.br E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |