Deve existir um céu especial para as costureiras

Deve existir um céu especial para as costureiras
Autor Berenice de Lara - [email protected]
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           Deve existir um céu especial para as costureiras. Eu sinto isto dentro do meu coração.

            Sou de uma geração em que as roupas eram feitas por essas mãos de fadas, que poderiam estar na nossa própria família, ou pertencer a um grupo diferente, mas igualmente delicado.

            Me lembro dos “figurinos”, revistas exclusivamente dedicadas, página após página, a desenhos de modelos de roupas. Nem fotos eram, nos anos 1950. De preferência eram alemãs, ou francesas.  Revistas especializadas, com fotos de modelos, só mais tarde surgiria aqui.

Minha mãe era generosa, me mostrava as possibilidades e dizia para eu escolher o que eu queria, dentre os que ela selecionara. Eu tinha só cinco anos de idade e me lembro de alguns deles ainda...

            Ir à costureira era tudo de bom. Sentar ali no sofá e ir folheando as revistas, escolhendo modelos que combinassem com o tecido, ou o inverso, achar um modelo certo para a ocasião e pensar detalhes... Era um momento muito especial para mim.

            Me lembro do verdadeiro respeito com que as mãos dedicadas corriam pelo pano, fosse uma lãzinha xadrez, um algodão, linho ou tecido para roupa de festa, bordada com pedrarias.

            Costureira de verdade sabia apreciar o que seria feito e via além. A roupa feita pela costureira tinha personalidade. Expressava o nosso jeito particular de ser.

            Eu tive uma costureira que me entendia perfeitamente. Costurou para mim dos meus 15 aos 50 anos. Fui adolescente nos anos 60, com todas as minissaias e ousadias a que tive direito. Me tornei profissional, ela acompanhou minha mudança de estilo. Meu vestido de casamento, com as rendas valencianas e nervuras e detalhes na cambraia de linho, lindo como um sonho, foi ela quem costurou. Uma perfeição. Daí um dia morreu. Foi para o céu das costureiras, fazer pessoas felizes lá, com suas ideias e sugestões.

            Hoje, fiquei sabendo que a mais recente costureira que eu tive, até um mês atrás, do nada morreu, como acontece. Um dia estava boa, no outro surgiu um problema e se foi. Para o céu das costureiras, continuo acreditando.

            Lembro de um livro do Monteiro Lobato, Reinações de Narizinho, em que uma aranha costureira faz o vestido de casamento da menina do nariz arrebitado com o peixinho Príncipe do Reino das Águas Claras. Tão lindo, mas tão lindo, mas tão lindo o vestido... que o espelho em que a garota estava refletida se quebra em mil pedaços, quebrando o feitiço que fora lançado sobre a pessoa que um dia ela fora e a transformara em aranha. Porque o encanto só se quebraria no dia em que ela fizesse o vestido mais lindo do mundo! Daí ela pensa, pensa e pensa no que deseja se transformar, e escolhe continuar a ser aranha costureira mesmo. Já estava acostumada.

            Então, esta crônica é minha oração para que a Cida Costureira chegue ao céu mais leve. O céu particular que eu imagino, tão bom para as costureiras, cheio de aviamentos e tecidos e possibilidades lindas, para fazer as pessoas mais felizes com suas habilidades e conversas amenas.

            Que as Amélias, as Marias Lima e outras fadas queridas que ajudaram a fazer a minha felicidade no dia a dia ao longo da vida a recebam e convidem para sua confraria.

            Minha alma de costureira diletante um dia vai tomar um chá com elas lá!

Berenice de Lara



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Conteúdo desenvolvido por: Berenice de Lara   
Terapeuta floral com pós graduação pelo IBEHE/UERJ e sintonizadora do sistema de essências de cristais e flores Florais de Lara. Autora dos livros Elixires de Cristais, A cura dos chakras com cristais, A essência dos cristais e metais, entre outros. Atendimento online, leitura das cartas terapêuticas e preparo de sua fórmula pessoal.
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