Uma coisa fundamental é não confundir bom humor com não dar a devida atenção às questões. Neste caso, o bom humor ajuda, e muito, a deixar os obstáculos mais leves, para que tenhamos forças para transpô-los sem ficarmos estagnados em uma situação indesejada, além de diminuir e muito, a função de lidar com o estresse e depressão.
Para contextualizar a dificuldade passada, farei um breve resumo. Tive um problema sério de saúde tendo passado por três cirurgias em vinte dias, fiquei em coma, um mês na UTI e mais quatro meses no isolamento por contrair infecção hospitalar. Essa situação acarretou uma perda de peso de 60 kg, tendo perdido toda a massa muscular e alimentava-me apenas por sonda em função do meu problema se localizar no sistema digestório. Após esse período, passei para internação domiciliar que durou mais um ano e dois meses. Em algum tempo saí da cama, comecei a me deslocar com a cadeira de rodas em função da perda de força muscular e habilidade motora, passei pelo andador e hoje estou trabalhando para largar a bengala.
Olhando esse breve resumo, dá para ter noção de algumas dificuldades que passei, mas frisarei algumas para argumentar como lidei com bom humor.
Em função de toda perda muscular, no princípio não ficava nem sentado, afinal, os músculos não tinham força nem para manter meu tronco equilibrado, o que dirá conseguir andar.
Uma das coisas que me animava era quando tinha que sair em remoção de ambulância para tratamento em outro local, isso aconteceu tanto no período de internação hospitalar como no de internação domiciliar. Gostava pelo simples fato de sair do ambiente em que estava “confinado” (afinal, minha condição não me permitia sair da cama). O dia da ambulância era um dia para ver movimento na rua, mesmo que pela pequena janela da ambulância, era possível ver outras pessoas, conversar, rir, mesmo que apenas com médicos e enfermeiros, sair daquela rotina, e acredite, essa pequena movimentação acompanhada do bom humor fez muita diferença nos processos mentais.
No trabalho de recuperação, utilizei acupuntura e fisioterapia. Aquelas pequenas agulhas, que a princípio são muito tranquilas, me geravam muita dor em função do meu quadro, a mesma coisa sentia com a fisioterapia para reabilitar minha musculatura. Com todos os profissionais da área médica que me atenderam, sempre brinquei com a situação, fiz piadas e procurei levar com bom humor, mesmo com fortes dores, assim sempre deixava as coisas mais leves para conseguir levar minha recuperação adiante de maneira mais fácil para mim e os que estavam à minha volta.
Vivi grande quadro de limitação e muita dor, houve o estágio que se alguém não me alimentasse ou me limpasse eu ficaria com fome e sujo. Houve o período que já conseguia sentar, mas sem andar, usando cadeiras de rodas ou me arrastando pelo chão para me locomover, o texto “A experiência de cadeirante por um não cadeirante” conta alguns detalhes destas dificuldades caso tenha curiosidade de entender melhor algumas delas.
Perante essa situação, seria muito fácil entrar em um quadro depressivo, o que dificultaria em muito para mim e para aqueles que estavam à minha volta ajudando no processo de recuperação. Então, preferi me valer do bom humor, junto com minha esposa, por exemplo, fazíamos as mais diversas piadinhas, algumas até consideradas como politicamente incorretas, mas no nosso contexto sempre foi uma brincadeira que nos fazia rir e deixar um processo difícil mais leve.
Um exemplo de quando eu andava “sentado”, ou seja, me arrastava pelo chão: às vezes ia deitar de madrugada, minha esposa já havia se deitado quando eu chegava ela via no escuro “algo” se arrastando pelo chão para chegar e subir na cama, com bom humor ela me chamava de assombração, eu fazia um sonoro Boooooo, ríamos disso e dormíamos.
Na fase em que estava no andador, ao irmos no mercado, às vezes ela saia para um lado e eu para outro e ela com o costume de me acompanhar de perto ia atrás de mim e brincava dizendo “consegui perder o aleijadinho no mercado”, ríamos e eu ainda dizia que se ela vacilasse, eu fugia do mercado e ela teria que sair me procurando na rua.
Uma época, minha filha torceu o pé e o imobilizou. Eu ainda não andava, morávamos no segundo andar de um prédio sem elevador, então, ao sairmos, nós apostávamos corrida “de bundinha” para ver quem descia as escadas primeiro, isso rendia ótimas risadas.
Houveram diversos outros exemplos, em que brinquei com uma situação difícil, fiz piada, ri, melhorei meu humor e encontrei a motivação para seguir adiante e fazer o que era necessário, mesmo que com dor ou limitação e essa postura de bom humor perante às dificuldades fez os processos ficarem mais fáceis, me permitindo olhar para trás e dizer: Apesar de tudo, consegui vencer!
Espero que esses exemplos citados motivem os leitores a observar suas dificuldades com um olhar mais leve, ajude-os a superar seus problemas.
Paz e Luz
Valter Cichini Jr.
Projeto Simbologia
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Texto Revisado
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