Apesar de sempre ter lidado bem com o fato de que não posso ter filhos, uma frase de Amma, guru indiana, a respeito desta questão aqueceu o meu coração: “A essência maternal não se restringe às mulheres que dão à luz; ela é inerente tanto ao homem quanto à mulher. É um estado de espírito. É o amor, e o amor é o próprio sopro da vida”. Não nego que já sonhei ter um(a) filho(a) biológico(a). Eu tenho olhos verdes e o meu marido é descendente de japoneses. Ele tem lindos olhos – grandes e cor de âmbar, dependendo da luminosidade. É claro que eu adoraria dar ao meu amor uma filha cujos olhos fossem uma mistura dos nossos! Acho que ela seria linda! Mas isso não é tão importante. Há algum tempo eu assisti na televisão a uma propaganda para o dia das mães na qual havia imagens de mães com os seus filhos e dizeres como “parto natural”, “cesariana” e “nenhuma das anteriores”. O locutor disse: “Existem várias maneiras de ser mãe”. Eu me emocionei. “Sim, posso ser mãe” – foi o que pensei na ocasião. Hoje em dia tenho consciência das dificuldades que envolvem ser mãe ou pai e penso que procurar fazer o bem para uma ou várias crianças, contribuindo de alguma maneira para a sua educação e bem-estar, é uma maneira de exercer a maternidade. E é claro que existem muitas outras maneiras de exteriorizar esta energia. Como a mestra Amma disse, a essência maternal é o amor. Então é possível exercer a maternidade ou paternidade de muitas formas. Por exemplo, é possível servir à Vida ao realizar qualquer atividade criativa. Para aqueles que têm vocação para as áreas da educação, da assistência social ou da saúde, é evidente que a essência maternal / paternal encontra-se presente. É claro que quando procuramos fazer algo de bom por nossos semelhantes o amor, de que falaram Amma e Jesus, está ali.
Como já comentei, hoje eu tenho consciência de que ser mãe é muito difícil. Muitas mães dizem que mesmo quando tudo está indo bem, não é fácil. E não quero desestimular aqueles que desejam adotar uma criança, mas não posso deixar de observar que este é um caminho que apresenta muitas dificuldades. Cada caso tem as suas particularidades. Existem casos de adoção em que o relacionamento entre pais e filhos é muito bom, tranquilo. Mas também existem inúmeros casos em que a convivência não é nada fácil. Então são muitos os casos em que os pais adotivos acabam desistindo da adoção, principalmente durante o período de adaptação. Os números são alarmantes. E não é o caso de julgar estas pessoas. É muito difícil lidar com pessoas que têm traumas e que muitas vezes têm problemas psíquicos relacionados a isto. Mesmo que a adoção aconteça quando a criança ainda é um bebê o trauma da separação da mãe fica no inconsciente e problema psicológicos ou psiquiátricos podem mais tarde se manifestar, e de fato se manifestam em muitos casos. Apesar de todos estes fatores, não sou contrária à ideia da adoção, muito pelo contrário. Afinal, existem muitas crianças e adolescentes que precisam de uma família. Mas a adoção exige uma série de cuidados para que seja bem sucedida. É importante que a criança ou adolescente e os adotantes sejam bem preparados antes da adoção, com a ajuda de profissionais. No nosso país muitas vezes as adoções são feitas às pressas, o que está longe de ser o ideal. Então é importante que os candidatos a pais adotivos não se apressem e perguntem tudo o que acharem necessário sobre a criança ou adolescente que pretendem adotar. Também é aconselhável que os adotantes deixem claras as suas expectativas quanto à(s) criança(s) que pretendem adotar e que tenham consciência das limitações que têm como futuros pais. Por exemplo, adotantes mais maduros iriam ter dificuldade para lidar com uma criança pequena, pois já não têm a energia de pessoas jovens. Afinal, a adoção é uma decisão que deve ser tomada no seu próprio tempo e de maneira consciente. Em poucas palavras, é importante o apoio de profissionais da área da psicologia antes, durante e depois do processo de adoção.
Não importa se trata-se de um filho(a) biológico(a) ou adotado(a), de qualquer maneira é muito importante que aqueles que decidem ser pais estejam preparados para isso. De qualquer maneira as dificuldades surgem, principalmente durante a adolescência. Isto não é nenhuma novidade. Ser pai ou mãe requer muita disponibilidade em vários sentidos, maturidade, estabilidade emocional… Então é claro que eu entendo aqueles que optam por não ter filhos.Em primeiro lugar, para ter maturidade e estabilidade emocional é preciso ter uma boa autoestima. Não é nenhuma novidade o fato de que uma criança ou adolescente pode tirar um adulto do sério. Mais do que isso, se o pai ou mãe não tem uma boa base emocional é possível que seu(ua) filho(a) o(a) desestabilize. Então é necessário encontrar a sua força interior, o seu “centro”. Como está a sua autoestima?
É importante que aqueles que decidem ter filhos estejam preparados para amar. Isso é lindo e é muito difícil. Muitas mães e pais dizem que, ao ter filhos, passaram a sentir um amor que nunca antes imaginaram. Mas nem sempre é assim. Pouco se fala sobre a depressão pós parto ou pós adoção. (1) Como gosto de dizer, estamos neste planeta para aprender a amar melhor. Esta frase não é minha, eu li isto em algum lugar. É verdade, o amor é um longo aprendizado, é um longo caminho. Geralmente não aprendemos a amar de uma hora para outra. E somos todos seres humanos, falíveis. Portanto, assim é o nosso amor. Só os seres iluminados aprenderam a amar de forma realmente incondicional.
É claro que ter filhos traz alegrias. O afeto, a gratificação ao saber das conquistas do filho(a), o sentimento de continuidade… Mas existem as dificuldades, que não podem ser ignoradas. Nem sempre o amor incondicional acontece de maneira fácil e espontânea. É preciso tirar a “aura romântica” que envolve a maternidade / paternidade. Para começo de conversa, quem disse que o “instinto materno” existe? Muitas pessoas podem sentir um profundo impulso para ser mãe ou pai, outras não. Para muitas pessoas criar um vínculo com seu filho ou filha é muito difícil. Fala-se pouco sobre a depressão pós-parto ou pós-adoção.(1) Mas é necessário refletir sobre estes temas. Você tem tendência à ansiedade e / ou à depressão? Será que você precisa do apoio de um(a) psicólogo(a) e / ou de um(a) psiquiatra? Com a ajuda de profissionais, você se sente preparado(a) para enfrentar o desafio da maternidade / paternidade? Esta é uma reflexão que merece ser feita com muita seriedade, pois trata-se de uma decisão que envolve uma criança.
Ser mãe ou pai é um compromisso, talvez o último compromisso que ainda existe em tempos de “amores líquidos” (expressão utilizada pelo filósofo Zygmunt Bauman). Isto é pesado! Hoje em dia os relacionamentos são muito instáveis. Inclusive muitas pessoas têm filhos e não os assumem, por várias razões… Mais uma vez, não é o caso de julgar estas pessoas. Sim, existe em nossa cultura o princípio de que não se desiste de um(a) filho(a). Mas princípios são algo “engessado”. E se alguém decidiu não assumir um(a) filho(a) e esta decisão foi o melhor para todos os envolvidos? É complicado tratar deste tema…
Hoje eu tenho consciência de que ser mãe ou pai também é estar pronto para o que der e vier. Eu li em algum lugar que “adotar é dar um lar a uma criança, independentemente dos resultados”. Estar pronto(a) para tudo também tem um peso muito grande! Decidir ter um filho(a) (para aqueles que tomam esta decisão de maneira consciente) é um ato de coragem e ao mesmo tempo de esperança, fé na vida… Ou seja, ter filhos exige muito dos pais, inclusive espiritualmente. Além disso, é claro que existem exigências intensas nos planos físico e emocional. Realmente não é fácil! Ninguém disse que é fácil!
Também é necessário refletir sobre o peso da responsabilidade. E se o filho decepciona os pais? Os pais se culpam muito! “O que eu fiz de errado?” – é uma frase clássica. É claro que os pais têm responsabilidade pela educação dos filhos, mas esta responsabilidade está longe de ser absoluta! Principalmente durante a fase da adolescência, a influência dos amigos e da sociedade é grande. Isto sem falar que muitos adolescentes espelham-se em seus ídolos ou sentem-se mais à vontade para conversar com outros adultos, que não são seus pais – professores, madrinha, tia… Isto pode ser saudável, é claro. Só quis ressaltar que a responsabilidade dos pais não é total, não pode ser. O(a) filho(a) é outro indivíduo e vai ter vida própria. Se o caminho escolhido pelo(a) filho(a) é uma decepção para os pais, em muitos casos só resta a eles a aceitação. E este também não é um caminho fácil...
Lisa Nichols, especialista em carreira, escritora de sucesso, CEO e palestrante motivacional, conta uma história que me marcou muito no seu vídeo “Speak and Inspire” (“Fale e inspire outras pessoas”, em uma tradução livre), na plataforma Mindvalley(2). Ela foi mãe solteira e quando o seu filho era bebê a sua situação financeira era muito precária. Lisa conta que certa vez ela não tinha dinheiro para comprar fraldas e foi obrigada a enrolar o seu bebê em toalhas. Na ocasião ela disse para o seu menino: “A mamãe nunca vai ficar tão ‘quebrada’ assim de novo!” E ela acabou prosperando. A palestrante também observou que uma criança nas condições do seu filho provavelmente iria seguir o caminho do crime. “Não sob a minha supervisão” – falou ela. É necessária uma grande força interior para que assim seja. Será que eu tenho esta força? Acho que não. Se ter autodisciplina é uma das minhas dificuldades, como poderia exigir isso de uma criança? E eu reconheço que tenho dificuldade para exercer a autoridade. Será que você tem esta força? Como está o seu auto controle, a sua auto disciplina?
E o que podemos falar sobre dar limites a uma criança ou adolescente? É claro que isto é necessário, mas é preciso dosar a disciplina e ao mesmo tempo transmitir amor para um(a) filho(a). Não é nada saudável ser controlador(a), não é verdade? Muitas vezes é necessário explicar por que a resposta ao pedido de um(a) filho(a) foi “não”, o que pode ser cansativo. Mas isso é necessário, faz parte de respeitar a individualidade do outro. Tudo isso é muito difícil, sem dúvida. É difícil equilibrar disciplina e amor, tornando-se uma figura de autoridade saudável para uma criança ou adolescente, e não uma figura autoritária. Quando se trata de um(a) adolescente ou criança muito desafiador(a) isto pode ser extremamente difícil, pois a necessidade de tentar controlá-lo(a) pode surgir. E, como já comentei, não é saudável ser um(a) mãe ou pai controlador(a). Mas é possível aprender a lidar melhor com uma criança ou adolescente rebelde. Neste caso pode ser necessária a ajuda de profissionais, além de muitas orações, mantras, meditação… Talvez exercer a maternidade / paternidade seja o exercício de zen budismo mais difícil, mais desafiador que existe.
Dizem que os filhos precisam que seus pais confiem neles. Confiar, isto também não é algo tão simples assim, pois é natural que os pais pensem na imaturidade dos seus filhos e nos perigos do mundo...
Muitas mães e pais se preocupam muito com os seus filhos, o que é compreensível. Então, como já observei anteriormente, decidir de maneira consciente ser pai ou mãe é um ato de fé na Vida e que exige grande coragem.
Ser mãe ou pai requer uma abnegação, uma generosidade imensas… A paternidade ou a maternidade implicam em renúncias, sacrifícios... Mais uma vez, esta abnegação não é, não deve ser algo absoluto. Então é importante para quem decide ter filhos (de maneira consciente) questionar-se: “Eu sei cuidar bem de mim mesmo(a)? Eu deixo de lado aspectos importantes da minha vida: a espiritualidade, cuidados com o meu corpo ou vida social? Eu ofereço a mim mesmo(a) o tempo de que eu preciso para fazer o que amo? Eu não vou sentir que estou sacrificando a minha vida ao ter um(a) filho(a)? Em outras palavras, eu me amo o bastante para ter amor a oferecer para alguém que dependerá totalmente de mim?” Sim, pois o amor é abundância, é transbordante… É fácil falar tudo isso, o difícil é percorrer o caminho até chegar lá! E é claro que ser mãe ou pai não significa abrir mão da sua própria vida para dedicar-se ao(à) seu(ua) filho(a). Todo ser humano precisa de tempo para si e para fazer o que ama, precisa ter suas amizades, precisa ter vida própria, enfim. É necessário cuidar bem de si mesmo(a) para então poder cuidar de outra pessoa. E é um peso muito grande para um filho(a) se ele(a) chegar à conclusão de que sua mãe ou seu pai abriram mão de suas vidas por ele(a).
Finalmente, depois de todo o trabalho de criar um(a) filho(a) é necessário o desapego, deixa-lo(a) seguir seu próprio caminho. Como escreveu Khalil Gibran, “vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem”. Parece que eu escrevi sobre o pai ou mãe perfeita(o), não é? Mas é claro que a mãe ou pai perfeito(a) não existe. Na psicologia existe o conceito de “mãe suficientemente boa”. Um pai ou mãe certamente vai errar inúmeras vezes e precisará perdoar-se por isso, além de aprender com seus erros. Tudo isso também não é nada fácil. ?Outra reflexão: se você quer ser pai / mãe, qual é a sua motivação? Você tem este sonho porque genuinamente quer cuidar e contribuir para a formação de outro ser humano? Você também quer aprender com o relacionamento com o(a) seu(ua) filho(a)? Você tem muito amor para dar? Então é isso… Ser mãe ou pai é uma tremenda aventura, talvez a maior aventura pela qual um ser humano pode passar. Ou seja, nunca se sabe o que pode acontecer, podem acontecer altos e baixos… Isso acontece em qualquer relacionamento… Você está preparado(a)? Dizem que ninguém está… Quem sou eu para escrever sobre a questão da maternidade? São apenas reflexões...
“Filho é um ser que nos foi emprestado para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo” (Autor desconhecido)
1 - “Depressão pós-adoção: superando os imprevisíveis desafios da adoção” – co-autora Karen Folin
- "Como superar a depressão pós-parto” https://soumamae.com.br/como-superar-depressao-pos-parto/
- "Depressão pós-adoção" https://soumamae.com.br/depressao-pos-adocao/
- "Depressão pós-adoção” https://temosquefalarsobreisso.wordpress.com/2015/06/21/depressao-pos-adocao/
- "Estudo avalia causas e sintomas da chamada depressão pós-adoção " (Estadão) https://ciencia.estadao.com.br/blogs/ciencia-diaria/estudo-norte-americano-avalia-causas-e-sintomas-... - "A depressão pós-adoção:um risco incompreendido" https://pt.sainte-anastasie.org/articles/psicologia/la-depresin-postadopcin-un-riesgo-incomprendido.... https://amenteemaravilhosa.com.br/depressao-pos-adocao/
Para saber mais:
- “Sobre filhos adotivos” (João Carvalho Neto, psicanalista) https://www.somostodosum.com.br/clube/artigos/autoconhecimento/sobre-filhos-adotivos-40529.html
- “Filhos adotivos, pais adotados?” (Paulo Salvio Antolini) https://www.somostodosum.com.br/clube/artigos/autoconhecimento/filhos-adotivos-pais-adotados-32485.h...
Dicas de leitura:
- “A trilha menos percorrida” - M. Scott Peck- “A graça bate à sua porta” - Max Lucado
Texto Revisado
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Sou jornalista e advogada. Atualmente sou funcionária pública e estudante de psicologia e psicanálise. Sempre me interessei por questões que envolvem comportamento e o desenvolvimento pessoal. Espero contribuir um pouco para o bem-estar e felicidade de algumas pessoas! E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |