Vejamos algumas circunstâncias de suas obras: Mateus, coletor de impostos, era um dos doze apóstolos; Marcos, ouviu o que narrou do apóstolo Pedro; Lucas, médico, se valeu de testemunhas oculares; e João, pescador, o mais jovem dos apóstolos.
Dois foram testemunhas oculares dos principais eventos da vida de Cristo.
Na Carta 1 das Cartas de Cristo, já mencionada, diz Jesus:
“Você, que foi doutrinado com ensinamentos religiosos, deve tentar compreender que meus discípulos evangelistas, ao relatarem a minha vida, descreveram somente aquilo de que se lembravam pessoalmente e apoiavam plenamente seus relatos de minhas atividades sobrenaturais. Eles incluíram também muitas coisas que outros disseram sobre mim durante os cerca de trinta anos que se seguiram à minha morte.
Depois de tamanho lapso de tempo e do inevitável embelezamento da verdade, como é possível que tenham escrito uma biografia fidedigna a meu respeito e de tudo que realmente aconteceu... ou explicar corretamente minhas percepções espirituais verdadeiras as quais deram origem às minhas palavras e meus “milagres”?
Além das dificuldades de registros escritos, das qualificações e limites intelectuais dos escritores, do peso da cultura judaica, dos ensinamentos do Velho Testamento, da própria percepção limitada diante da boa nova, do choque com as tradições religiosas, e até o marketing com o embelezamento da verdade na sua divulgação inicial, os textos dos Evangelhos chegaram até nossos dias por diversas traduções e interpretações que, de tempos em tempos, podem ter-lhe alterado o sentido.
Acrescentem-se a isto os nossos próprios limites, graus de conhecimento, de cultura e de propensão a uma versão pessoal.
Frequentemente há, na conversação diária, conflitos e entre o que nos é dito e aquilo que entendemos. E vice-versa.
Há a considerar ainda o estilo e a linguagem adotados por Cristo em sua pregação, procurando, por meio de parábolas, imagens, e figuras, que seus ensinamentos despertassem interesse e fossem mais facilmente gravados e assimilados pelos que o ouviam.
Com relação ao estilo, respondia muitas vezes por meio de perguntas que levassem seus interlocutores a refletir sobre seu próprio questionamento e encontrassem, com os dados que tinham, a resposta que procuravam.
O estilo da pregação provoca, assim, uma proposta de reflexão sobre as próprias dúvidas, de forma que possamos, com os dados e limites que temos, nos motivar aos estudos de seu legado, de forma que a Fé seja alimentada por nossas conclusões e convicções pessoais.
Não é outra, portanto, a razão pela qual o Evangelho segundo o Espiritismo propõe que o entendimento sobre os postulados que sustentam a nossa Fé “possam encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade".
De Tarso
Interpretação das palavras do Cristo
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