Um dia desses me deparei, em minha própria casa, com um novo nome para denominar esse novo pai, que funde numa mesma pessoa os papéis de pai e de mãe. Falei para minhas filhas que eu precisaria ficar no consultório até mais tarde e que elas ficariam com o pai, quando então, ele se auto-nomeou: “Não sou só pai. Eu sou pãe. Mistura de pai com mãe”. Num misto de queixa por minha ausência e orgulho por poder ocupar as duas posições, na brincadeira, um termo foi criado para nomear aquilo que está sendo vivido diariamente por muitas famílias. Afinal, em um período que a mulher é cada vez mais requisitada profissionalmente, nada mais justo do que partilhar tarefas domésticas e o cuidado com os filhos... Até aí, nenhuma novidade.
No entanto, como é que isso é visto e sentido pelas crianças? Até que ponto essa aparente fusão de papéis é saudável ou, ao contrário, prejudicial ao desenvolvimento emocional dos filhos? Para que possamos compreender o assunto, é necessário primeiro diferenciar alguns aspectos: É importante saber que uma coisa é ser a mãe, outra, muito diferente, é desempenhar o papel ou a função materna, como se diz em psicanálise. A função materna é desempenhada pela pessoa que cuida, amamenta (no peito ou mamadeira – tanto faz [1]), olha nos olhos da criança, ouve o que ela diz, está atenta aos seus sinais (orgânicos e emocionais) e uma série de pequenas atividades que são de grande importância para a criança (cantar, contar histórias, dar um beijinho no dodói, passar medicamento e assoprar...). Todas essas atitudes permitem à criança perceber-se como um ser amado, desejado e importante: “Alguém gosta de mim!”. Essencial para o desenvolvimento sadio. Esse papel foi (e ainda é) tradicionalmente desempenhado pela mãe, embora qualquer pessoa possa exercê-lo – desde que realmente dê a atenção necessária à criança!
Não há dúvidas de que, embora desgastante, a função materna é extremamente gratificante, tanto para homens quanto para mulheres. Acompanhar o desenvolvimento de uma criança é, para a maioria das pessoas, algo muito prazeroso, tanto pelo vínculo afetivo como pelas idéias de poder (o poder de criar, de comandar outra vida) e fantasias associadas (meu filho é... ou será..., quero que meu filho seja...), em geral projeções dos próprios desejos da mãe ou do pai.
[1] É claro que o aleitamento natural é mais saudável sob o ponto de vista nutricional e imunológico. Sob o ponto de vista psicoemocional, no entanto, a “nutrição” é o aconchego no colo, é o envolvimento no carinho e a troca de olhares. Uma mãe que amamenta no peito, mas pega o bebê como se fosse um objeto -como se fosse algo em vez de alguém- não o estará nutrindo emocionalmente. Ao contrário, mesmo com a mamadeira é possível transmitir ao bebê o carinho necessário para seu desenvolvimento.
Leia a continuação deste artigo: O Novo Pai - II Parte, acessando:https://www.somostodosum.com.br/clube/artigos.asp?id=9038
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Priscila Gaspar é Psicanalista, Terapeuta de Regressão e Terapeuta de Casais, com especialização em Sexualidade Humana. Atende em psicoterapia individual e de casal.Contato: [email protected] E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |