Lembranças de um sexagenário!
Autor Paulo Salvio Antolini
Assunto Almas GêmeasAtualizado em 5/8/2016 8:58:01 AM
Já sou sexagenário e isso há alguns anos. Quando criança, ainda sem o conforto das modernidades, fazia meus próprios brinquedos. Construía cidades com cacos de tijolos e barro. Os quintais eram de terra pura, tinham canteiros e até arvores frutíferas. Quando minha mãe me chamava para o banho, este começava ainda no quintal, de mangueira. Era necessário tirar toda a lama que tinha em mim e nas roupas. Esguichava água em toda a roupa que eu usava e depois eu a tirava, então ela continuava removendo placas de lama de meu corpo. Até esse início de banho era uma diversão. Lembro-me até hoje de minhas risadas ao receber aquele jato de água fria. Risadas seguidas e gostosas. Lembro também do olhar amoroso de minha mãe, que ao me ver olhando para ela, tentava muda-lo para uma expressão de severidade. Nunca conseguia. Acabava rindo também. Só então estava liberado para o chuveiro, gostoso banho de água quente onde a única queixa era quando ela cismava de me esfregar. A bucha ardia. Mas nada tirava o prazer e alegria daqueles momentos.
Lembro-me de uma espingarda que fiz. Tinha até lugar para encaixar a bala, como um rifle de verdade. Tinha entre seis e sete anos, podia brincar com algumas ferramentas de meu pai, e outras eu pegava sem sua autorização, o que me valeram várias reprimendas. Empunhando essa espingarda e montado em meu lindo e fogoso cavalo, que para evitar inveja dos possíveis coleguinhas sempre se apresentava disfarçado de cabo de vassoura, fiz longas viagens e grandes caçadas pelos prados da imaginação. O tempo foi passando. A vida foi melhorando. Nossa casa já tinha até campainha. Cada vez mais as inovações foram substituindo a arte do fazer. Gira o botão e o fogo acende. Adeus, fosforo. Basta energia elétrica e fogão atualizado. Alguns já não precisam nem mais de gás.
Dicionário para que? Pergunte ao Google e ele lhe dará dezenas de fontes. Nele encontrará informações atualíssimas, das imaginárias às reais. Mas que diferença faz? Nos dias de hoje para muitos, basta uma resposta. Se verdadeira pouco importa.
Contas “de cabeça”? Você está louco Que coisa mais antiquada. Lance na planilha e colha os resultados.Encontrar a pessoa para falar? Que perca de tempo. Deixe uma mensagem na secretária eletrônica ou passe um whatsApp.
O mundo mudou e eu fui mudando também. Encantado e embevecido com nossos avanços. Ganhamos até vida a mais, chama-se longevidade. Há uns anos atrás cheguei ao escritório e no interfone havia um cartaz: “Quebrado”. Via meus colegas através da janela da sala. Janela imponente para a época. Casa de chamar a atenção. Eles estavam sentados ao redor da mesa de reuniões que existia ali e nosso diretor em pé gesticulava com a caneta se movendo como uma batuta, tal qual o maestro frente à sua orquestra. Acenei, pulei, enfim quase “macacaqueei” para chamar a atenção dos referidos. E nada. Estavam absortos no ritmo do “maestro”.
Em determinado momento o segurança da firma para o turno da noite chegou, e ao me ver cumprimentou-me efusivamente e após dizer da saudade pelo tempo que não nos cruzávamos, arrematou: “Vê, Doutor. O interfone está quebrado de novo”. E sem mais, bateu palmas.
E o portão se abriu!Modernidade!Precisei me perguntar onde foi parar a simplicidade em mim. Lembrei-me da frase atribuída a Albert Einstein: “Precisamos ser o mais simples possível, porém não mais simples do que isso!”. Cuidado, modernidade não é sinônimo de simplismo! O simples nunca perdeu sua eficácia!
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