Mudei meu passado!
Atualizado dia 30/01/2017 07:17:47 em Almas Gêmeaspor Paulo Salvio Antolini
E foram essas as palavras daquela jovem quarentona. Fiquei à espera que continuasse, pois sabia que a pausa que ela havia feito era para ordenar seus pensamentos. Seu olhar para longe confirmava isso.
O passado não se modifica. O que é possível mudar é a compreensão que se tem dele. Um fato ocorrido, percebido por outro ângulo, pode alterar todo o quadro vivido internamente por anos e anos.
Durante toda sua vida ela carregou consigo o sentimento de ser rejeitada por seus pais, principalmente por sua mãe. Acreditava que eles eram muito carinhosos com seus irmãos e com ela eram muito severos. Sendo a filha mais velha e nascida dez meses após o casamento dos pais, eles sempre se referiam ao fato de não terem tido vida de casal, pois sua mãe engravidou um mês após casar. Numa gravidez complicada, sua mãe passou por várias ameaças de aborto, o que a fez ficar longos meses de repouso. Quando nasceu teve muitos problemas de saúde, exigindo cuidados constantes por parte de seus pais. Seu primeiro irmão nasceu seis anos depois. Mais dois anos e nasceu sua irmã. Para ela, então com oito anos, era como um castigo ter que cuidar deles.
Boas sessões se passaram para ela reconhecer que o "ter que cuidar" era apenas o receber atenções divididas, algo insuportável para quem tinha até seus seis anos todas as atenções só para si. Seus pais costumavam sorrir quando cobrados e diziam “não seja tão egoísta, nos divida um pouco com seus irmãos”.
Na sessão anterior a essa colocação que acabara de fazer, ela havia saído pensativa com o teor de nossa conversa. Tendo se queixado novamente do que chamava cobranças, fiz a associação da “cobrança” com o “alerta” que seus pais na realidade fizeram. Apesar de terem evitado uma decisão de sérias consequências que ela iria tomar, só entendeu aquilo como repreensão e cobrança, nunca como uma conduta de “tome cuidado, minha filha”.
Ao perceber que era um chamado para a realidade, ficou confusa, estado em que se encontrava quando saiu da sessão. Durante a semana identificou que, por sua impetuosidade e ações precipitadas, muito do que considerara críticas eram manifestações de carinho e cuidados para com ela.
Já observaram quantas vezes interpretamos situações levando em conta apenas alguns aspectos dessa situação e sem considerar todo o cenário?
Quando as pessoas se permitem refletir sobre as experiências tidas sem a arrogância do “eu sei que tenho razão”, novas percepções ocorrem sobre esses já vividos fatos. Isso implica em uma nova compreensão do que ocorreu. Muda, então, a visão e os sentimentos despertados na época da ocorrência.
Uma pessoa na faixa de trinta anos dizia ser desconsiderada por seu pai, pois quando seu irmão mais velho foi fazer seu exame prático para habilitação, foi junto e ficou até o final. Quando foi a sua vez seu pai apenas o levou, deixou-o lá e foi para o sítio onde iria resolver algumas coisas e depois pescar. Carregou por doze anos o ressentimento dentro de si, até que descobriu que seu pai não havia ficado por confiar nele e em seu resultado, enquanto com seu irmão, o mesmo era inseguro e muito carente.
Um empresário modificou completamente sua postura quando descobriu que se considerava um fracasso; quando, na verdade, eram erros que havia cometido. A diferença? Fracassar envolve todo o contexto que se vive, criando uma dependência com o mundo exterior. O erro pertence à pessoa, portanto, depende apenas dela o corrigir. É comum quando indagamos às pessoas que estão abertas a esses questionamentos escutarmos: “não havia pensado por esse lado”.
A Neolinguística fala sobre o ressignificar as experiências. Não se trata de mudar os fatos ocorridos, mas, sim, a compreensão que temos sobre esses fatos. Podem acreditar, todos temos muitos e muitos fatos vividos que podem ser ressignificados. Modifica-se assim percepção de nosso passado, na maior parte das vezes, tornando-os muito mais leves.
Texto revisado
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