Quando tudo vira piada!
Autor Paulo Salvio Antolini
Assunto Almas GêmeasAtualizado em 29/05/2016 08:31:02
Copa 2.014. Evento de expressão máxima em nosso país. Futebol. Após uma sequência de jogos onde o improviso se fez presente na maior parte do tempo, eis a grande derrota para a seleção adversária. Éramos três assistindo a partida. Quando do quarto gol, talvez menos de meio tempo jogado, começou a pipocar na internet as atuais “memes”( nome dado aos recursos usados para a divulgação rápida de informações), com piadas e gozações em um volume impressionante. Montagens foram feitas em questão de minutos e postadas para serem compartilhadas. Ao término do primeiro tempo o que deveria ser o foco em questão já havia dado lugar ao riso e brincadeiras do que estávamos vendo. Até o Félix, personagem que ganhou grande repercussão foi utilizado nas brincadeiras. O segundo tempo foi sem graça e mesmo com o gol brasileiro não havia nenhum entusiasmo, apenas certo torpor e uma descrença estampada em nossas expressões. O jogo acabou, alguns comentários que revelavam indignação, desanimo, até mesmo uma certa revolta acompanhada por uma dose de maledicência em relação aos que lá tinham por missão fazer: jogar bola. Se lá o foco deveria ser jogarem bola com seriedade e responsabilidade, aqui o foco é refletirmos um pouco sobre essa tamanha facilidade de brincar. Quando em processo terapêutico o cliente faz piada sobre si mesmo, rindo de seus infortúnios, entendemos que o mesmo está muito próximo da superação. Portanto, em fase de saída de seu conflito. É muito positivo quando o riso substitui a dor. Transforma o percurso a ser percorrido em algo mais leve e menos doido. Mas o excesso de seu uso, ou seja, rir de tudo que ocorre e que não está dando certo, ou saindo como deveria ser, traz uma fuga da energia que impulsionaria o ser humano a enfrentar o que está ocorrendo e de frente. Então vale a pena refletirmos se somos um povo alegre como dizem ou apenas alienados de realidades desagradáveis, e que, por não irmos à busca das correções, essas realidades vão se agravando cada vez mais. E ai escutamos ou mesmo falamos: “Mas o que eu posso fazer?” Hoje é sobre os políticos. A piada assim usada tornou-se o ópio do povo. Pequenos grupos controlam enormes populações utilizando desse recurso. Observem como governantes são satirizados e mesmo humilhados em charges, textos e outras formas e eles nem se dignam a dar uma resposta. Sabem que a circulação disso será para a grande maioria uma válvula de escape de sua indignação e revolta. Sendo assim não será feito nada de efetivo ou duradouro na tentativa de que as coisas mudem. Aqueles que não compartilham dessa pratica ainda são taxados de mal-humorados, de ranzinzas e até de desmancha prazeres. Mas que prazer há nas ocorrências que a todos ferem? O que tem de engraçado de fato quando escutamos; “Quantas mulheres são necessárias para acabar com o país?”. Nosso ex-presidente carrega vasta biografia cômica, onde as referências não só são desrespeitosas como trazem muita verdade. A verdade se perde no chiste, na piada, na ironia e assim nada é feito para corrigi-la. Tanto se fala do bulling e é com piadas que se busca a correção? Como educar jovens se é esse o exemplo que é dado. Dentro da própria casa há normalmente alguém que serve de motivo de escarnio por alguma característica que possui e as pessoas não sabem lidar com isso. Se não sabemos devemos procurar aprender, não apenas disfarçar a dor e a própria incapacidade com o falso rir. Podemos ser um povo alegre e festivo, mas sem a alienação que nos tolhe de agirmos onde se faz necessário. Buscar a alegria de viver, colocar essa alegria em nossos corações faz com que as coisas belas da vida sejam mais valorizadas. Rir para não chorar é um provérbio antigo, tem sua sabedoria, mas não deve ser usado em todas as situações.
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