Quem sou? De onde vim? Para onde vou? (Parte V)




Autor Ernesto Shima
Assunto Almas GêmeasAtualizado em 6/6/2012 12:52:29 PM
Na manhã seguinte recebi a visita do gerente da empreiteira que trazia uma ótima notícia. O diretor geral da fábrica havia me convocado para trabalhar em outra linha de produção e pedia para começar no turno daquela noite. Começaria às 19 horas. A alegria me envolveu de imediato. Este diretor era o responsável pela contratação de todos os brasileiros. Era ele que dava o “ok” nas entrevistas com os candidatos a uma vaga lá na fábrica.
À noite quando entrei no Bloco A onde ia trabalhar, avistei o diretor geral conversando com o gerente daquela linha de produção. Fui imediatamente chamado por ele e fui recebido com um sorriso maravilhoso, sendo apresentado ao seu “braço direito” como o novo integrante da equipe. Enquanto cumprimentava o responsável do grupo de trabalho, o diretor contava rindo sobre a confusão em que tinha me metido na outra linha de produção.
Eu jamais havia imaginado que ele reconheceria o trabalho que vinha fazendo na fábrica, durante o período de represálias que havia recebido por parte do outro gerente. Porque em todos os momentos que nos encontramos em outro bloco, ele vinha conversar comigo intrigado por eu estar sempre arrumando e empilhando as peças jogadas fora. “Não tem serviço para mim, por isso estou ocupando o meu tempo aqui!”. Nisso, ele ficava comigo, ajudando a fazer “nada”, apenas jogando conversa fora.
Como o tempo, ele passou a me chamar para ajuda-lo no setor de embalagens quando eram fabricadas as peças novas. Pedia-me para ensinar o pessoal como encaixotar, porque descobriu nas nossas conversas que eu já conhecia este trabalho. A nossa amizade cresceu a partir destes nossos encontros casuais.
Ao saber da minha demissão por parte da empreiteira, mandou me chamar de volta e me colocou nesta linha de produção, onde começaria a trabalhar ao lado de um conterrâneo que já estava na empresa há vários anos. Um veterano. O serviço era gostoso de fazer. Ficaria na inspeção das peças de motos que saiam do setor de pinturas. A rapidez da linha era a maior dificuldade no início, mas depois me adaptei e consegui alcançar a produtividade.
Comecei o ano de 1992 bastante animado, acreditando que agora tudo ia dar certo dali em diante, cuidando sempre para não me envolver mais em situações comprometedoras. Mas, essa confiança foi abalada em menos de três meses depois que comecei a trabalhar ali.
Numa noite, mal começou o meu expediente recebi um chamado no escritório da fábrica. Havia um telefonema urgente para mim. Pedi ao líder da linha que me substituísse e fui até o andar superior atender a ligação. Era do gerente da empreiteira. Pouco depois, saía do escritório pálido e suando frio. O meu pai acabara de ser internado na UTI num hospital em Okinawa.
Em choque, mal consegui descer as escadas. O líder viu e veio me socorrer. Perguntou o que tinha acontecido e contei a ele. Imediatamente, ele organizou tudo e me liberou para resolver o meu problema pessoal. Voltei para o alojamento tentando colocar os pensamentos em ordem. O que fazer? Como fazer? Estava totalmente perdido. Fui até um telefone público internacional e liguei para o Brasil.
Retornei depois para o alojamento, revirando todas as minhas coisas. Estava sem dinheiro porque havia feito a remessa para os meus filhos na semana anterior e o pouco que tinha só dava para pagar a passagem de avião. Corri até o alojamento de um amigo e pedi emprestado o que ele tinha disponível. Deixei o meu cartão do banco para ele sacar o próximo pagamento e enviar para mim em Okinawa. Pedi a autorização do gerente da empreiteira para este amigo me substituir como motorista da empresa, pois era uma das minhas funções o transporte de funcionários.
No dia seguinte bem cedo segui de trem até Nagoya e fui direto para o aeroporto onde consegui um vôo para Okinawa somente na parte da tarde. Cheguei à ilha quase anoitecendo indo direto para o hospital. A tensão era grande, porque quando liguei para os parentes, na casa onde o meu pai estava hospedado, me informaram que o quadro era grave.
Fui prontamente atendido assim que entrei na recepção do hospital e me levaram até à enfermaria onde o meu pai estava internado. Quando entrei e o vi, meus olhos ficaram nublados pelas lágrimas que começaram a cair. Ver o meu pai naquele estado de coma, com tubos, máscara de oxigênio, aparelhos piscando por todos os lados e, ele inerte ali, era um contraste aterrorizante em comparação da última vez que o tinha visto. Na despedida, seis meses atrás quando ele embarcara lá na estação de Toyohashi rumo a Okinawa, estava sorridente, alegre, cheio de vitalidade e saúde.
Beijei-lhe a testa e a senti gelada. Arrepiei-me. Um mau presságio tomou conta de mim. Uma enfermeira me chamou e fui levado até o médico responsável que também me recebeu com muita gentileza e perguntou se eu entendia o japonês. Respondi que conseguia compreender um pouco o idioma. Optamos então pelo inglês que entendia mais, por causa dos termos técnicos. Mostrou-me os exames que foram feitos, inclusive os raios X.
Disse que precisava da minha assinatura para a intervenção de urgência, porque ele corria risco de vida. Estava em observação e todos os procedimentos médicos haviam sido feitos. Se ele não reagisse naquela noite teriam que fazer uma cirurgia e talvez ele não sobrevivesse. Foi por isso que pediram a minha presença urgente naquele hospital. O tempo estava correndo e ele não reagia. Sofrera um AVC.
Fui autorizado a permanecer ao lado dele naquela noite.
Sentado ao lado do meu pai comecei a contemplá-lo. Os meus pensamentos focavam nossos últimos momentos em Toyohashi, na casa em que morávamos lá no bairro de Kitayama. Um casarão velho que servia de alojamento para os brasileiros em trânsito pelo Japão e iam se candidatar a uma vaga pela nossa empreiteira para trabalhar nas fábricas da região.
Durante uma vida inteira dava para contar nos dedos das mãos a quantidade de vezes que conseguimos ter uma conversa adulta de pai e filho sem discussões e brigas. E a última delas ocorreu justamente poucos dias antes da viagem dele para Okinawa. Fizemos a nossa reconciliação depois de uma grande descoberta, que nos deixou atordoados. Descobrimos a causa de tantas confusões entre nós. De como fomos jogados um contra o outro sem perceber.
(continua...)
Paz!
Shima









Terapeuta Holístico, de Regressão e Escritor. É fundador e Presidente da ONG “Grande Fraternidade Humana da Terra”. Realiza atendimentos com as técnicas de Terapia de Regressão, Terapias vibracionais, Massoterapia, entre outras. Facebook: https://www.facebook.com/escritorernestoshima Blog: http://www.ernesto-shimabuko.com E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Almas Gêmeas clicando aqui. |