Rita me ligou de Bangladesh.




Autor Mauricio Pedrosa
Assunto AstrologiaAtualizado em 6/25/2014 10:56:54 PM
- Ué? Você ainda está por aqui? - perguntei, surpreso.
-Aqui onde? Rita brincou. – Eu estou em Bangladesh. E deu uma gargalhada.
- Ah! Pensei que ainda estivesse no Rio.
- Desculpe, meu amor, estou ligando porque encontrei, aqui no hotel, uma revista que diz que não existem apenas doze signos...
Rita é uma dessas clientes que pensam mais em astrologia do que o próprio astrólogo, que, no caso, sou eu. Não era, na verdade, uma percepção de fé, mas de exclusão de qualquer outra variável que não fossem os astros acontecendo em sua vida. E não era por falta de explicações de minha parte. Não era por falta de muitas explicações. De exaustivas explicações. Rita era assim.
Eu estava em pé quando atendi ao telefone, mas me sentei quando percebi que a conversa ia longe. Ela tinha medo de andar de avião. Muito medo. Pude ver, na minha frente, todo o problema delineado. Sua confiança estava estremecida. Sua garantia de uma viagem segura – que eu assegurara - estava comprometida por uma revista folheada ao acaso em Bangladesh.
Não havia apenas doze signos: e agora?
Enquanto eu a ouvia e pensava que palavras usar para esclarecer aquela velha polêmica sobre constelações e signos, aquele equívoco tantas vezes repetido e contestado, Rita já se adiantava em dizer que o avião balançara muito quando pousara em Dakar.
- Desculpe, amor, eu estar te incomodando, mas olha: eu nem me abalei com aquela tremedeira na asa porque você me disse que eu podia ir despreocupada. Mas essa história de mais de doze signos... você sabe disso?
- Sei, Rita, sei sim, não se preocupe, quando você voltar eu te explico.
- Mas isso não muda o meu mapa?
- Não, Rita, não muda nada. Por telefone não dá, mas, quando você voltar, eu explico.
- E se eu não voltar?
- Como?
- E se meu avião cair? Disse, para logo em seguida abrir uma gargalhada.
- Meu amor, eu vou puxar o seu pé, viu?...
Ela agradeceu e desligou o telefone, mas eu a conhecia. Era fácil perceber, na sua voz, que a incerteza ainda estava no ar.
Mais tarde recebi o seu e-mail. Ela tinha escaneado o artigo da revista e mandara para mim. Como eu havia suposto, não era nenhuma novidade. Há sempre um jornalista ou um astrônomo disposto a requentar uma velha querela de acusações à astrologia. Suspirei: quem dera que as críticas aos astrólogos fossem sempre elementares assim.
Rita me pedia explicações. E eu dei. Mandei links, copiei textos, detalhei. Ela, agora, tinha material para um dia de leitura em português, inglês e espanhol.
No dia seguinte, me liga a filha, que também era minha cliente.
- Maurício, mamãe está toda nervosa com essa história.
E ela também estava.
Enquanto Marta falava, eu pensava por que eu não estudara alguma coisa mais sólida, algo como engenharia ou matemática. Ah! O mundo de um engenheiro... eu invejava o mundo dos engenheiros a quem bastam os cálculos, uma ciência seca, uma linha reta, um paraíso que não precisa de explicações sem fim para os caminhos tortuosos de nós, seres humanos.
Tranquilizei a filha como pude, mas a história não terminou aí.
Passaram-se dois dias e nova ligação de Rita.
- Meu querido, por favor, me ajude. Eu estive ontem com aquele guru que eu vim aqui para encontrar, lembra?
- Sim.
- Ele me disse para eu ter cuidado com viagens de avião. Ai, meu Deus! E agora? O que é que eu faço, Maurício?
Após alguns segundos eu respondi.
- Rita, você me disse que ia consultar um guru para questões espirituais...
- Eu sei, eu sei, é que não resisti, tem dias que não durmo direito pensando na viagem de volta...
Para resumir, ela terminou me confessando que havia procurado um astrólogo indiano para saber do seu futuro nas companhias aéreas. E que fora o dito astrólogo, e não o guru, que profetizara horrores para as próximas semanas, recomendando que ela só viajasse dali a quinze dias. Doze dias após a data prevista.
Fiquei, inicialmente, curioso: o que esse cara viu que eu não vi? Pedi que ela não trocasse a passagem até eu rever meu prognóstico. Tenho grande respeito por meus colegas astrólogos, não importa a escola ou método que utilizem. A astrologia indiana, que difere em parte da ocidental, é bem conceituada do lado de cá do mundo. Mas algo me dizia que não seria preciso repassar o meu trabalho. Suas palavras sobre aquela consulta me deixaram com uma pulga atrás da orelha.
Liguei para ela.
- Rita, onde você conseguiu o contato desse astrólogo?
- Na recepção do resort. Eles têm um espaço holístico onde vários profissionais atendem os hóspedes.
- Você tem reserva para até daqui a três dias, certo?
- Sim.
- E ele pediu que você ficasse mais duas semanas.
- Sim.
- Quanto custou o serviço desse astrólogo?
- Ah! Foi baratinho e muito recomendado pelas pessoas da recepção, o gerente...
- Rita, não estou querendo desconfiar, mas...
Foi o que precisou para “cair a ficha”.
- Ah! Meu Deus! Eu te ligo mais tarde.
Rita acionou os seus contatos e, pergunta daqui e pergunta dali, ela terminou descobrindo que o tal astrólogo, perito que era em adiar viagens de hóspedes incautos, tinha uma próspera sociedade com o dono do hotel.
Mauricio Pedrosa









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