O Novo Pai - Parte I



Autor Priscila Gaspar
Assunto AutoajudaAtualizado em 10/08/2007 23:16:16
Temos observado uma série de mudanças em nossa sociedade. Uma das mais marcantes é a forma que os homens estão agindo na posição de pais. O que há algumas décadas seria estranho e talvez até considerado ridículo, é cada vez mais aceito e, até mesmo, cobrado. Ninguém mais questiona a masculinidade de um homem que troca fraldas, dá mamadeira e leva o bebê para passear. Ao contrário, essas atitudes são encorajadas pelas mulheres em geral, pela mídia e até desejadas pelos homens. Embora sintam-se cobrados a terem tais atitudes, muitos estão realmente dispostos a um maior envolvimento, físico e emocional, na criação de seus filhos. Culturalmente, a mãe é uma figura idolatrada e poderosa. Parece que, por muito tempo, existia nos homens um desejo reprimido de ser mãe (não como mulher, mas no sentido de cuidar de alguém), e agora esse desejo pode se manifestar livremente.
Um dia desses me deparei, em minha própria casa, com um novo nome para denominar esse novo pai, que funde numa mesma pessoa os papéis de pai e de mãe. Falei para minhas filhas que eu precisaria ficar no consultório até mais tarde e que elas ficariam com o pai, quando então, ele se auto-nomeou: “Não sou só pai. Eu sou pãe. Mistura de pai com mãe”. Num misto de queixa por minha ausência e orgulho por poder ocupar as duas posições, na brincadeira, um termo foi criado para nomear aquilo que está sendo vivido diariamente por muitas famílias. Afinal, em um período que a mulher é cada vez mais requisitada profissionalmente, nada mais justo do que partilhar tarefas domésticas e o cuidado com os filhos... Até aí, nenhuma novidade.
No entanto, como é que isso é visto e sentido pelas crianças? Até que ponto essa aparente fusão de papéis é saudável ou, ao contrário, prejudicial ao desenvolvimento emocional dos filhos? Para que possamos compreender o assunto, é necessário primeiro diferenciar alguns aspectos: É importante saber que uma coisa é ser a mãe, outra, muito diferente, é desempenhar o papel ou a função materna, como se diz em psicanálise. A função materna é desempenhada pela pessoa que cuida, amamenta (no peito ou mamadeira – tanto faz [1]), olha nos olhos da criança, ouve o que ela diz, está atenta aos seus sinais (orgânicos e emocionais) e uma série de pequenas atividades que são de grande importância para a criança (cantar, contar histórias, dar um beijinho no dodói, passar medicamento e assoprar...). Todas essas atitudes permitem à criança perceber-se como um ser amado, desejado e importante: “Alguém gosta de mim!”. Essencial para o desenvolvimento sadio. Esse papel foi (e ainda é) tradicionalmente desempenhado pela mãe, embora qualquer pessoa possa exercê-lo – desde que realmente dê a atenção necessária à criança!
Não há dúvidas de que, embora desgastante, a função materna é extremamente gratificante, tanto para homens quanto para mulheres. Acompanhar o desenvolvimento de uma criança é, para a maioria das pessoas, algo muito prazeroso, tanto pelo vínculo afetivo como pelas idéias de poder (o poder de criar, de comandar outra vida) e fantasias associadas (meu filho é... ou será..., quero que meu filho seja...), em geral projeções dos próprios desejos da mãe ou do pai.
[1] É claro que o aleitamento natural é mais saudável sob o ponto de vista nutricional e imunológico. Sob o ponto de vista psicoemocional, no entanto, a “nutrição” é o aconchego no colo, é o envolvimento no carinho e a troca de olhares. Uma mãe que amamenta no peito, mas pega o bebê como se fosse um objeto -como se fosse algo em vez de alguém- não o estará nutrindo emocionalmente. Ao contrário, mesmo com a mamadeira é possível transmitir ao bebê o carinho necessário para seu desenvolvimento.
Leia a continuação deste artigo: O Novo Pai - II Parte, acessando:https://www.somostodosum.com.br/clube/artigos.asp?id=9038









Priscila Gaspar é Psicanalista, Terapeuta de Regressão e Terapeuta de Casais, com especialização em Sexualidade Humana. Atende em psicoterapia individual e de casal.Contato: [email protected] E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoajuda clicando aqui. |